Ninguém acredita em mais ninguém — e a crise é global
Segundo pesquisa, mundo enfrenta "crise sem precedentes" de confiança, que afeta em cheio os governos nacionais. Compare por país
Vanessa Barbosa
Publicado em 16 de janeiro de 2017 às 13h29.
Última atualização em 16 de janeiro de 2017 às 16h13.
São Paulo - Tem se sentido menos disposto a confiar? Você não está sozinho. Uma nova pesquisa mostra que o mundo enfrenta uma "crise sem precedentes" de confiança nas instituições — de governo e empresas à mídia e ONGs.
O estudo global "Trust Barometer 2017", realizado anualmente pela agência de comunicação Edelman em 28 países, descobriu que 53% por cento dos entrevistados acreditam que o atual sistema global falhou.
Para a maioria, ele é "injusto e oferece pouca esperança para o futuro". Em contrapartida, 15% das pessoas acreditam que o sistema funciona.
Surpreendentemente, o estudo indica que até mesmo a "fé" das elites está abalada: ao todo, 48% dos entrevistados pertencentes à faixa de renda mais elevada e 49% dos que possuem formação universitária dizem que o sistema falhou.
Ranking do descrédito
O governo continua a ser a instituição menos confiável pelo sexto ano consecutivo: em metade dos países pesquisados, 41% das pessoas disseram confiar no governo.
Já a confiança na mídia (43%) caiu bastante em relação ao nível de 2016 (48%), atingindo mínimo histórico em 17 países, enquanto as ONGs (53%) registraram queda na confiança de 10 pontos percentuais em 21 países.
A credibilidade dos líderes empresariais também está em perigo: a confiança na figura do CEO caiu 12 pontos percentuais globalmente, para um mínimo histórico de 37%, em todos os países da pesquisa. Porém, os governantes se saem pior , com apenas 29% da confiança do público.
Veja as instituições com maior descrédito nos 28 países pesquisados:
Governo | Mídia | ONGs | Empresas |
---|---|---|---|
Argentina | Austrália | China | Hong Kong |
Brasil | Índia | Indonésia | |
Canadá | Irlanda | Japão | |
Colômbia | Singapura | Holanda | |
França | Turquia | Rússia | |
Alemanha | Emirados Árabes | Suécia | |
Itália | Reino Unido | ||
Malásia | |||
México | |||
Polônia | |||
África do Sul | |||
Coreia do Sul | |||
Espanha | |||
Estados Unidos |
"As implicações da crise de confiança global são profundas e abrangentes", diz Richard Edelman, presidente e CEO da Edelman, em comunicado da agência.
De acordo com o estudo, os movimentos populistas atuais são alimentados pela falta de confiança no sistema e pelos temores econômicos e sociais, incluindo corrupção (40%), imigração (28%), globalização (27%), erosão dos valores sociais (25%) e o ritmo da inovação (22%).
Das quatro instituições, os negócios são vistos como o único que pode fazer a diferença. Três em cada quatro entrevistados concordam que uma empresa pode tomar medidas para aumentar os lucros e melhorar as condições econômicas e sociais na comunidade onde opera.
Mas isso também pode mudar, diante do medo crescente em relação à estabilidade no trabalho.
A maioria das pessoas pesquisadas tem preocupações sobre a perda de empregos devido aos impactos da globalização (60%), falta de treinamento ou habilidades (60%), imigrantes que trabalham por menos (58%), perda de empregos para mercados mais baratos (55 %) e automação (54 %).