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Nicarágua navega entre corrupção e nepotismo, segundo críticos

Há saturação da população diante do tráfico de influências, impunidade e proteção à corrupção e ao nepotismo, manifestou ex-guerrilheiro

Nicarágua: país enfrenta uma onda de protestos que deixam ao menos 45 mortos (Oswaldo Rivas/Reuters)

Nicarágua: país enfrenta uma onda de protestos que deixam ao menos 45 mortos (Oswaldo Rivas/Reuters)

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AFP

Publicado em 4 de maio de 2018 às 20h50.

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que enfrenta uma onda de protestos que deixam ao menos 45 mortos, é assinalado por críticos opositores de dirigir o país com pouca transparência e nepotismo para se manter no poder.

"A corrupção é palpável em qualquer instituição do Estado, não precisa de óculos para ver (...) A lei é papel molhado" para Ortega, disse à AFP o general reformado Hugo Torres.

Há uma saturação da população diante do tráfico de influências, impunidade, proteção a responsáveis por atos de corrupção e nepotismo, manifestou Torres, ex-guerrilheiro sandinista que se tornou ferrenho crítico do presidente.

Mas, em sua defesa, o também ex-guerrilheiro Edén Pastora, próximo ao chefe de Estado, destacou à AFP que "Daniel Ortega não saiu comprometido nos Panama Papers, nem no escândalo da Odebrecht, e desenvolveu a Nicarágua com crescimento econômico e as melhores estradas da região".

Ortega e pessoas próximas se sustentam graças a um entendimento com a classe empresarial do país, segundo Juan Carlos Hidalgo, analista de América Latina do Cato Institute de Washington.

"O regime de Ortega alcançou um acordo com a comunidade empresarial do país que consiste em 'vocês me permitem permanecer indefinidamente no poder e roubar os fundos públicos, enquanto garanto a vocês condições macroeconômicas estáveis'", comentou Hidalgo à AFP.

Uma fonte de irregularidades vem da grande quantia de ajuda que a Venezuela destinou à Nicarágua.

Entre 2008 e 2015, a cooperação venezuelana alcançou mais de quatro bilhões de dólares, segundo o Banco Central, mas começou a cair pela crise política no país.

Ortega se negou a incorporá-la ao orçamento e deixou sua administração nas mãos da empresa privada Albanisa, de capital nicaraguense-venezuelano.

O presidente disse que a ajuda foi investida em programas sociais e, segundo ele, a cooperação venezuelana ajudou a reduzir a pobreza de 29,6% para 24,9% entre 2014 e 2016, de acordo com dados oficiais.

Para Torres, os programas sociais "não ajudaram a mudar a vida dos beneficiários, e essas mesmas pessoas que não recebem mais (ajuda) agora estão irritadas com o governo e saem para protestar".

"Podemos afirmar que a nova oligarquia econômica e financeira é chefiada por Daniel Ortega e sua esposa", a vice-presidente e primeira-dama Rosario Murillo, braço direito do governo.

Ortega e sua família concentram os meios de comunicação, sobretudo a televisão e o rádio, que apenas divulgam informações sobre o governo e projetam a ideia de que não há problemas, contou à AFP a diretora da revista de rádio Onda Local, Patricia Orozco.

"Essa forma de controle da mídia ficou evidente na crise que o país está vivendo pelos protestos, quando cortaram o sinal de quatro canais de televisão. Isso se chama violar a liberdade de expressão", comentou.

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