Chefe das negociações colombianas com as Farc, Humberto de la Calle, discursa antes de entrar no avião com destino para Cuba onde ocorre negociações de paz com as Farc (John Vizcaino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de novembro de 2012 às 18h20.
Havana - As conversas de paz entre o governo da Colômbia e as Farc começaram nesta segunda-feira em Havana com o anúncio pela guerrilha de um cessar-fogo unilateral de dois meses para "fortalecer o clima de entendimento necessário" no diálogo que tenta pôr fim ao conflito armado do país.
A direção das Farc ordenou a suas unidades a suspensão, em todo o território colombiano, de operações militares ofensivas e atos de sabotagem entre 20 de novembro e 20 de janeiro, segundo uma declaração lida por "Ivan Márquez", número dois do grupo insurgente e líder da equipe negociadora da guerrilha nas atuais conversas de paz.
"A decisão política das Farc-EP é uma contribuição decidida a fortalecer o clima de entendimento necessário para que as partes que iniciam o diálogo atinjam o propósito desejado por todos os colombianos", acrescenta o comunicado intitulado "Abrindo caminhos rumo à paz" e com remetente nas "montanhas da Colômbia".
A trégua da guerrilha pretende mostrar sua vontade de "gerar um meio ambiente político propício para o avanço das conversas, em prol de alcançar o compromisso de acordar um verdadeiro Tratado de Paz que ponha fim ao conflito social e armado, como é a vontade da maioria dos colombianos".
Com esse anúncio, começou na capital cubana a segunda fase do processo de diálogo entre a guerrilha e o governo de Juan Manuel Santos para tentar encerrar o conflito armado que a Colômbia vive há meio século.
Uma pequena sala do Palácio de Convenções de Havana recebe a negociação formal cujo primeiro tema de debate será o problema da terra e o desenvolvimento agrário integral, um dos cinco pontos do "roteiro" do diálogo pactuado entre ambas as partes.
O ex-vice-presidente Humberto de la Calle lidera a equipe de negociação do governo, composta, ainda, pelo alto comissário de Paz, Sergio Jaramillo; pelo ex-chefe das Forças Armadas Jorge Enrique Mora, pelo ex-alto comissário de Paz Frank Pearl e pelo representante dos industriais, Luis Carlos Villegas.
O ex-diretor da polícia colombiana Óscar Naranjo, quem também faz parte dos negociadores plenipotenciários, viajará à ilha na terça-feira.
Por parte das Farc lidera sua delegação "Ivan Márquez" (cujo verdadeiro nome é Luciano Marín Arango), que chegou ao Palácio de Convenções de Havana acompanhado por Roberto Granda ("Ricardo Téllez"), Jesús Emilio Carvajalino ("Andres Paris"), e Luis Alberto Albán ("Marco León Calarcá").
A guerrilheira holandesa Tanja Nijmeijer também esteve presente no Palácio de Convenções de Havana.
Juvenal Ovidio Ricardo Palmeira, conhecido como "Simón Trinidad", outro dos negociadores designados pelas Farc, não pôde comparecer, já que está preso nos Estados Unidos.
No entanto, membros da guerrilha simularam sua presença com uma silhueta masculina feita de papelão em tamanho natural que levaram até a sede do diálogo.
Segundo os cálculos dos delegados do governo, o primeiro ciclo das negociações formais durará cerca de dez dias, nos quais as equipes trabalharão de forma bilateral pelas manhãs e isoladamente durante a tarde.
Nessas sessões, das quais participam cinco negociadores de cada equipe, também estão presentes representantes dos países fiadores do diálogo (Cuba e Noruega) e dos "acompanhantes" (Venezuela e Chile).
Os delegados do governo de Juan Manuel Santos, que desembarcaram ontem em Havana, chegam a essa fase do diálogo visando a desenvolver um processo de paz ágil e firme baseado em "acordos práticos que sejam possíveis" e que deem resultados.
"Achamos que é o momento das ideias e não o momento das armas e esse é o chamado fundamental que enviamos não só à comunidade interessada mas também à própria organização guerrilheira", afirmou Humberto de la Calle em sua chegada a Havana, em umas declarações divulgadas por sua equipe de imprensa.
As conversas entre o governo e as Farc acontecem um mês após instalar-se em Oslo (Noruega) a mesa de diálogo pactada no "Acordo Geral para a terminação do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura".
As duas partes chegaram a esse acordo, anunciado no final de agosto, após seis meses de conversas secretas em Havana.
A agenda do novo processo de diálogo para a paz na Colômbia tem cinco pontos: o problema da terra, a entrega das armas por parte do grupo guerrilheiro, a entrada dos insurgentes desarticulados na vida política, a solução ao problema do narcotráfico e a reparação às vítimas do conflito.