Mundo

Não sou traidora, diz delatora de doping russa Stepanova

Em segredo, Yulia Stepanova gravou técnicos e atletas russos descrevendo como usavam medicamentos de melhoria de desempenho

Doping: indício foi usado para banir mais de 100 atletas russos da Olimpíada do Rio de Janeiro (Francois Nel/Getty Images)

Doping: indício foi usado para banir mais de 100 atletas russos da Olimpíada do Rio de Janeiro (Francois Nel/Getty Images)

R

Reuters

Publicado em 9 de dezembro de 2016 às 12h32.

Última atualização em 9 de dezembro de 2016 às 12h52.

A delatora Yulia Stepanova negou ser uma traidora e disse que ser afastada do esporte por dois anos foi a reviravolta que a levou a expor o programa de doping sistemático patrocinado pela Rússia.

Em segredo, Stepanova gravou técnicos e atletas russos descrevendo como usavam medicamentos de melhoria de desempenho --um indício usado para banir mais de 100 atletas russos da Olimpíada do Rio de Janeiro.

Ela foi chamada de traidora por seu ex-treinador, Vladimir Kazarin, e atualmente está escondida na América do Norte com o marido, Vitaly, ex-autoridade antidoping da Rússia.

"Em 2007, pela primeira vez meu treinador (Kazarin) começou a me dar injeções de testosterona", disse ela à rede BBC em uma entrevista.

"Eu de fato sabia que eram proibidas, mas antes de me dá-las acho que meu treinador me preparou bem, porque me contou histórias sobre como é normal, que é assim que se faz."

"Toda noite eu sonhava que os inspetores de doping estavam vindo nos testar, toda noite o mesmo pesadelo. Eu estava com medo de ser testada porque não sabia como o sistema funcionava."

"Não percebi que a administração estava a par, que mesmo que você fosse pego não seria desclassificado se seu treinador tivesse contatos."

Stepanova, que recebeu uma punição de dois anos em 2013 por anormalidades em seu passaporte de sangue, disse que a suspensão a deixou determinada a expor quão profundamente os problemas do atletismo russo se disseminaram.

"Foi um divisor de águas, e eu tinha uma escolha, ou uma segunda chance", acrescentou.

"Eu podia voltar ao mesmo sistema e só pensar 'ok, eles estão mentindo, mas vão me receber de volta na delegação nacional e me dar dinheiro, ou então eu poderia fazer a coisa certa'."

Ela passou os dois anos seguintes recolhendo provas, motivada pelo desejo de revelar a verdade.

"A razão de eu estar fazendo aquilo era mostrar que esse era o sistema", contou. "Só queria que eles admitissem que sim, todo mundo está usando remédios, os chefes estão acobertando isso. Isso é que era importante para mim."

Stepanova disse acreditar que contar a verdade tornará as coisas melhores.

"Não me considero uma traidora", disse. "Simplesmente revelei a verdade vergonhosa, que nosso país não quer confrontar, e a única razão de eu ter contado a verdade sobre tudo isso é para tentar pôr um fim a isso."

Acompanhe tudo sobre:DopingEsportesRússia

Mais de Mundo

Juiz rejeita pedido de Trump para se afastar do caso da ex-atriz pornô

Netanyahu aprova envio de delegação a Doha para negociar cessar-fogo em Gaza

Mpox volta a ser declarada emergência global; há risco no Brasil?

Kirchner afirma que falta encontrar 'idealizadores' de seu atentado

Mais na Exame