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“Não sabíamos de nada”, diz casal que abrigou atirador da Flórida

“Tudo o que todos sabem sobre ele era desconhecido para nós”, disseram James e Kimberly Snead sobre Nikolas Cruz, “é simples assim”

Nikolas Cruz, atirador que matou 17 em escola na Flórida (Pool/Getty Images)

Nikolas Cruz, atirador que matou 17 em escola na Flórida (Pool/Getty Images)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 19 de fevereiro de 2018 às 10h13.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2018 às 10h30.

São Paulo – Dias depois do massacre que deixou 17 mortos em uma escola na Flórida (Estados Unidos), o casal que deu um teto para o atirador, Nikolas Cruz, após a morte de sua mãe no ano passado, se manifestou sobre a tragédia e sobre o comportamento do jovem de 19 anos no dia a dia da casa. Desde o último final de semana, a família Snead vem participando de entrevistas com diversos veículos para mostrar o seu lado da história.

“Não sabíamos que ele tinha um passado tão diabólico”, disseram James e Kimberly Snead em uma entrevista por telefone concedida ao jornal The New York Times, “não sabíamos de nada”, continuaram. Ainda de acordo com eles, Cruz havia manifestado sinais de depressão e tinha planos de visitar uma terapeuta nesta semana.

“Tudo o que todos sabem sobre ele era desconhecido para nós”, disseram em outra entrevista, concedida ao jornal South Florida Sun Sentinel, “é simples assim”. “Tínhamos um monstro vivendo sob o nosso teto e jamais vimos esse lado dele”, continuou Kimberly à publicação.

De acordo com os relatos do casal, Cruz era amigo de um de seus três filhos, que perguntou aos pais se ele poderia viver com a família em razão da morte de sua mãe, Lynda. Pensando ser possível ajudá-lo a colocar a vida de volta nos trilhos, toparam. “O alertamos de que haveriam regras rígidas em casa e ele seguiu cada uma delas”, disseram.

O casal tem armas, mas todas são armazenadas em um cofre. Antes da mudança, os Sneads fizeram questão de adquirir um cofre para que Cruz pudesse armazenar seus itens, armas de fogos e facas. James pensava ser o único a ter as chaves que abririam essas caixas de segurança. No dia da tragédia, 14 de fevereiro, percebeu que o jovem havia mantido uma cópia da que abriria o seu cofre.

Os Sneads descreveram o atirador como um jovem ingênuo, que nunca havia feito tarefas domésticas e incapaz de lavar a própria roupa. Disseram não ter visto sinais de que ele torturava animais, uma alegação recorrente entre pessoas que o conheceram no passado, e alegaram que ele se dava bem com os animais da casa.

Sobre o dia da tragédia, o casal contou que a manhã começou normal em casa e Kimberly aproveitaria o dia para dormir, já que, como enfermeira, trabalharia naquela noite. Minutos depois de saber do ocorrido na escola pelo filho, James logo recebeu a ligação de um policial perguntando sobre o paradeiro de Cruz, mas disse não ter ideia de onde ele poderia estar.

Retornou para seu filho, que já havia ouvido de colegas e policiais a descrição do atirador: baixa estatura, cabelo curto e vermelho, calças pretas. Na hora, a ficha caiu e James pensou na esposa sozinha em casa. Pediu que policiais fossem checar se ela estava bem e eles a encontraram em segurança.

Horas depois, ao se depararem com Cruz na delegacia, Kimberly tentou agarrá-lo, mas foi impedida por James. “Sério, Nik? Sério mesmo?”, perguntava ela ao vê-lo preso. Cruz, por sua vez, respondeu apenas que sentia muito. “Ele parecia absolutamente perdido”, completou James.

Investigações

As investigações sobre as motivações do jovem para o crime, o massacre mais violento a ocorrer em uma escola desde o registrado em Sandy Hook (2012), continuam.

Cruz está preso, sem fiança, com dezenas de acusações de homicídio pelas 17 vítimas que fez na escola Marjory Stoneman Douglas, que fica na cidade de Parkland, localizada na Flórida e a cerca de 80 quilômetros de Miami.

O caso trouxe à tona um antigo debate sobre armas de fogo nos Estados Unidos, além de ter criado uma crise entre as autoridades policiais do país, uma vez que expôs graves falhas nos protocolos de segurança criados para evitar tragédias como essa.

O FBI, por exemplo, admitiu ter recebido alertas de um familiar do jovem sobre o seu comportamento violento no início de janeiro. Essa denúncia, no entanto, jamais foi repassada para o escritório de Miami da entidade, um erro que foi duramente criticado pelo presidente Donald Trump.

A polícia local também está nos holofotes, já que investigou Cruz em 2016 depois de ele ter divulgado um vídeo nas redes sociais no qual aparecia se machucando propositalmente, mas não seguiram adiante depois de constatarem que ele estava sob controle.

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