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Mortalidade infantil na Venezuela retrocede 40 anos

Governo venezuelano usa os encontros na ONU para garantir que a crise no país é causada exclusivamente pelo embargo imposto pelos EUA e pela UE

Crise econômica: filhos de imigrantes venezuelanos fazem fila para receber comida em um acampamento improvisado em Bogotá (Luisa Gonzalez/Reuters)

Crise econômica: filhos de imigrantes venezuelanos fazem fila para receber comida em um acampamento improvisado em Bogotá (Luisa Gonzalez/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de setembro de 2018 às 09h05.

Última atualização em 20 de setembro de 2018 às 09h10.

Genebra - A mortalidade infantil na Venezuela retrocedeu 40 anos e já é duas vezes maior que a média da América Latina. Um levantamento obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, realizado a partir de banco de dados do Unicef e do Banco Mundial, revela que as taxas registradas em 2017 são equivalentes aos índices do país em 1977.

Procuradas pela reportagem por mais de dois meses, entidades internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm evitado comentar a situação venezuelana, alegando que não contam com dados confiáveis sobre a situação do país. O jornal apurou que o silêncio é resultado de pressões políticas por parte de governos aliados a Caracas.

Enquanto isso, o governo venezuelano usa os encontros na ONU para garantir que a crise no país é causada exclusivamente pelo embargo imposto pelos EUA e pela União Europeia ao regime do presidente Nicolás Maduro. Na semana passada, diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, insistiu que em seu país "todos têm acesso à saúde".

No entanto, os dados internos dos levantamentos realizados mostram uma outra realidade e indícios de que os avanços sociais já estavam em franca decadência antes mesmo de Washington ou Bruxelas optarem por sanções financeiras.

Um dos indicadores dessa situação é a mortalidade infantil. Há 40 anos, os dados revelam que a mortalidade de crianças com menos de um mês de vida atingia 19 para cada mil crianças nascidas. A taxa caiu para apenas 9,7 casos por mil crianças, em 2008, e se manteve baixa até 2013.

Tragédia

No entanto, desde então, a alta é cada vez mais pronunciada. Agora, os dados mostram que, em 2017, uma vez mais, a taxa havia chegado próximo a 20 mortes por mil nascimentos. Em números absolutos, significa que, no ano passado, 12 mil crianças morreram no primeiro mês de vida, uma morte a cada 20 minutos. Em 1990, por exemplo, o total era de 7 mil mortes.

Outro sinal da crise é a taxa de mortalidade de crianças com menos de 5 anos. Os dados colhidos pelo Unicef apontam para 30,9 crianças mortas para cada mil. A taxa, neste caso, é equivalente ao que existia no país em 1989. Em todo o período da década de 90, esse índice de mortalidade infantil sofreu uma contração importante, chegando a 21 mortes para cada mil crianças. Os avanços continuaram, chegando a 16 para cada mil em 2011.

Mas, a partir de 2014, o que se registra é um forte aumento. Há quatro anos, a taxa já era de 19 mortes, subindo para 22, em 2015, para 26, em 2016, e saltando para 30,9, em 2017. No total, foram 18 mil mortes registradas no ano passado, uma taxa que é duas vezes superior à média latino-americana.

Os números ainda colhidos pela OMS alertam que as crianças estão especialmente ameaçadas por surtos de doenças que, até 2016, estavam relativamente controladas. No ano passado, foram 727 casos confirmados de sarampo na Venezuela.

No entanto, em 2018, os novos casos já chegaram a 3,5 mil, com 62 mortes. O local de maior incidência é o Delta do Amacuro, com 66 casos para cada 100 mil pessoas. De acordo com a entidade, a proliferação de casos de sarampo atingiu já Roraima, locais no Peru, Colômbia e Equador.

Outra constatação das agências internacionais é a contaminação pelo sarampo de grupos indígenas nas florestas venezuelanas. Apenas em 2018, 396 casos foram registrados no país. Outros 334 casos estão ainda sob investigação. Com 53 mortes, a epidemia chegou a municípios do Alto Orinoco, no Estado venezuelano do Amazonas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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