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Na Califórnia, governador convida Trump a ver 'devastação em primeira mão' após republicano culpá-lo

Gavin Newsom também anunciou a abertura de uma investigação independente para identificar as falhas nos hidrantes de água durante combate ao fogo

Bombeiros trabalham na cena enquanto um prédio de apartamentos queima durante o incêndio de Eaton na área de Altadena, no condado de Los Angeles (JOSH EDELSON/AFP)

Bombeiros trabalham na cena enquanto um prédio de apartamentos queima durante o incêndio de Eaton na área de Altadena, no condado de Los Angeles (JOSH EDELSON/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 11 de janeiro de 2025 às 08h45.

Última atualização em 11 de janeiro de 2025 às 08h46.

O governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, convidou nesta sexta-feira o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, a ver "em primeira mão" a devastação no condado de Los Angeles após um dos maiores incêndios florestais da História do estado.

O convite, feito em uma carta aberta publicada no X, acontece dias depois do republicano culpar Newsom pelo desastre, afirmando sem provas que ele é responsável pela falha no fornecimento de água durante o combate ao incêndio.

Nos últimos dias, diversos hidrantes secaram devido à alta demanda e a um suposto problema na pressão d'água em determinadas regiões. O governador também anunciou a abertura de uma investigação para identificar as causas da seca parcial no sistema de abastecimento.

“Como você se prepara para assumir a Presidência mais uma vez, convido-o a vir à Califórnia novamente para se reunir com os americanos afetados por esses incêndios, ver a devastação em primeira mão e se juntar a mim e a outras pessoas para agradecer aos heroicos bombeiros e socorristas que estão colocando suas vidas em risco”, escreveu Newsom, um dos principais cotados do Partido Democrata à disputa pela Casa Branca em 2028.

LEIA TAMBÉM: Noites em claro e ordem de evacuação: incêndios históricos impõem nova rotina na Califórnia

Na quarta-feira, enquanto as chamas consumiam o estado, Trump culpou Newsom trazendo a tona a história do peixe delta smelt, em extinção, associando-o à falta d'água.

"O governador Gavin 'Newscum' [um trocadilho pejorativo com o sobrenome de Newsom] se recusou a assinar a declaração de restauração de água apresentada a ele que teria permitido que milhões de galões de água, do excesso de chuva e derretimento da neve do Norte, fluíssem diariamente para muitas partes da Califórnia, incluindo áreas que estão atualmente queimando de forma virtualmente apocalíptica. Ele queria proteger um peixe essencialmente inútil chamado smelt", escreveu Trump.

"Ele é o culpado por isso. Além de tudo, não há água para hidrantes, nem aviões de combate a incêndio. Um verdadeiro desastre!", prosseguiu.

Politização da tragédia

Citado por Trump, o delta smelt é um peixe nativo pequeno e de vida curta, encontrado apenas no Estuário de São Francisco, segundo o U.S. Fish & Wildlife Service. Colocado na lista de espécies ameaçadas de extinção em 2010, sua presença é utilizada como um indicador ambiental e se torna cada vez mais rara.

Na Califórnia, o animal se tornou uma espécie de símbolo dos embates entre setores da classe política e empresarial e ambientalistas.

No mesmo dia, a equipe do governador afirmou que a narrativa exposta por Trump era falsa. O próprio democrata, por sua vez, também refutou a acusação de Trump ao ser questionado durante uma entrevista na CNN na ocasião.

Na carta desta sexta, Newsom pediu para que a tragédia não fosse politizada.

“No espírito deste grande país, não devemos politizar a tragédia humana nem espalhar desinformação. Centenas de milhares de americanos, desalojados de suas casas e temerosos pelo futuro, merecem ver todos nós trabalhando em seu melhor interesse para garantir uma rápida recuperação e reconstrução”, escreveu Newsom.

Em 2018, Trump visitou a Califórnia para ver os danos em Paradise, causados pelo Camp Fire, o incêndio florestal mais mortal da História do estado.

Falta de água na Califórnia

Os esforços dos bombeiros para combater os incêndios florestais de rápida propagação em Los Angeles foram dificultados pela falta de água no sistema local de abastecimento, que, sobrecarregado pela intensidade do fenômeno, secou alguns hidrantes em áreas mais elevadas da cidade.

Autoridades agora afirmam que os tanques de armazenamento que fornecem água para regiões de grande altitude, e os sistemas de bombeamento que os abastecem, não conseguiram acompanhar a demanda enquanto o fogo avançava de um bairro para o outro.

Segundo funcionários de segurança locais, isso ocorreu em parte porque aqueles que projetaram o sistema não consideraram a velocidade impressionante com que múltiplos incêndios simultâneos poderiam se espalhar pela cidade.

À medida que o crescimento urbano se espalha para áreas próximas à mata ao redor do país — e as mudanças climáticas trazem condições de incêndio mais desafiadoras — um número crescente de cidades tem enfrentado uma perda súbita de água disponível.

O governador afirmou, nesta sexta-feira, a abertura de uma investigação independente para apurar as causas da seca nos hidrantes e evitar que o incidente se repita.

"Estou solicitando uma investigação independente sobre a perda de pressão da água nos hidrantes locais e a indisponibilidade relatada de suprimentos de água do reservatório de Santa Ynez", escreveu Newsom. "Precisamos de respostas para garantir que isso não aconteça novamente e que tenhamos todos os recursos disponíveis para combater esses incêndios catastróficos."

No Colorado, quando os bombeiros estavam prestes a ficar sem água em 2022, as equipes tomaram a medida extraordinária de usar água não tratada.

Em 2023, na ilha de Maui, no Havaí, os bombeiros descobriram que seus hidrantes estavam secos enquanto as chamas avançavam pela comunidade de Lahaina, matando 102 pessoas no incêndio mais mortal do país em mais de um século.

Agora, a destruição simultânea de casas e canos causou o escoamento de água pelos quintais e ruas bem no momento em as equipes precisavam dela em seus hidrantes.

Os sistemas de águas municipais nos Estados Unidos, como o de Los Angeles, são projetados para lidar com cargas pesadas, incluindo aquelas usadas em grandes incêndios, que podem exigir que vários caminhões de bombeiros se conectem ao sistema ao mesmo tempo.

O transporte de água para os níveis superiores das comunidades das encostas, como Pacific Palisades, no entanto, pode ser um desafio, avaliam especialistas. Lá, a água é coletada num reservatório que bombeia para três tanques de armazenamento, cada um com capacidade de 1 milhão de galões.

"Mas os sistemas de bombeamento e armazenamento foram projetados para um incêndio que poderia consumir várias casas, não um que consumiria centenas", disse Adams, o engenheiro-chefe do Departamento de Água. "Se isso vai se tornar uma norma, será necessário um novo pensamento sobre como os sistemas são projetados."

Os tanques de armazenamento em Palisades e outras comunidades afetadas estavam cheios antes dos incêndios. Ainda assim, à medida que o fogo se espalhava na terça-feira, o primeiro tanque foi rapidamente esvaziado. Horas depois, o segundo já estava vazio. O terceiro secou na manhã de quarta.

Ao menos 11 pessoas morreram em decorrência dos incêndios florestais que se alastram desde terça-feira pelo condado de Los Angeles. Há cinco focos de incêndio, sendo os maiores os de Palisades e Eaton. O foco de incêndio mais recente é o de Kenneth, ameaçando áreas residenciais em Calabasas, uma cidade a 48 km a noroeste do centro de LA.

Por meio de sobrevoos no sul de Los Angeles, é possível avistar sob os céus cobertos de fumaça um rastro de mansões transformadas pelo fogo em verdadeiras ruínas à beira-mar. Bairros inteiros foram devastados, com ao menos 10 mil estruturas afetadas em Palisades e Eaton, segundo os bombeiros, no que deve corresponder ao incêndio mais custoso na História dos EUA.

As perdas e danos estão estimados entre US$ 135 bilhões e US$ 150 bilhões (R$ 822 bi e R$ 931 bi), de acordo com a AccuWeather, empresa americana que presta serviços meteorológicos.

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