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Mulheres que se unem ao EI são ativistas, não vítimas

Estudo mostra que as mulheres ocidentais que se unem ao Estado Islâmico são movidas pela mesma paixão ideológica e são potencialmente perigosas


	Estado Islâmico: 550 mulheres ocidentais foram ao Iraque e à Síria para se casar, cuidar de casa e ter filhos com jihadistas
 (Stringer/Reuters)

Estado Islâmico: 550 mulheres ocidentais foram ao Iraque e à Síria para se casar, cuidar de casa e ter filhos com jihadistas (Stringer/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2015 às 16h51.

Londres - As mulheres ocidentais que se unem aos militantes do Estado Islâmico (EI) são movidas pela mesma paixão ideológica que os homens e são potencialmente perigosas, não vítimas: é o que diz um estudo realizado por um instituto de pesquisa de Londres.

O documento divulgado nesta quarta-feira contabiliza 550 mulheres ocidentais que foram ao Iraque e à Síria para se casar, cuidar de casa e ter filhos com jihadistas.

Embora sejam proibidas de pegar em armas, participam ativamente na propagação do movimento.

"A linguagem violenta e a dedicação à causa é tão forte como as que encontramos em alguns dos homens", avalia o especialista em extremismo Ross Frenett, do Instituto para o Diálogo Estratégico, coautor da pesquisa.

"A preocupação é que quando o EI perder terreno, como todo mundo espera que aconteça, essas mulheres passem do mundo doméstico em que estão agora para um momento mais violento", diz Frenett à AFP.

Muito se escreveu sobre as mulheres jovens que se tornam "noivas jihadistas", mas a narrativa dominante da moça atraída por novas sensações tende a diminuir a importância de sua própria fé e convicções".

Frenett e seus colegas pesquisadores acompanham centenas de mulheres nas redes sociais, mas centraram o estudo em 12 mulheres de Áustria, Grã-Bretanha, Canadá, França e Holanda que vivem com o EI no Iraque e na Síria.

Algumas delas animaram com palmas e gritos as decapitações sangrentas realizadas pelos militantes. "Acho que eu teria gostado de fazer isso", comenta uma delas, após o assassinato do jornalista norte-americano Steven Sotloff. Elas também praguejam contra governos ocidentais e choram pelo sofrimento dos muçulmanos.

"Minha melhor amiga é minha granada... Ainda por cima, é americana. Que Alá permita que eu mate os soldados Kanzeer [porcos] com suas próprias armas", escreve outra.

As mulheres também dão conselhos e animam outras mulheres que pensam em se unir ao grupo.

"Recrutam ativamente as mulheres e dão assistência e referências para ir ao território controlado pelo EI", afirma Frenett.

"Além disso, estimulam umas as outras a cometerem atentados terroristas em seus países", prossegue.

O ângulo cego do gênero

"Foi criado um ângulo cego pelo gênero, que faz com que as mulheres sejam percebidas como vítimas mais do que como potenciais terroristas", explica à AFP Jayne Huckerby, professora associada da faculdade de direito da universidade norte-americana de Duke, especialista em mulheres e extremismo.

"Os líderes políticos têm ignorado e subestimado o terrorismo feminino, tanto os motivos para participarem, quanto os papéis que desempenham nestas instituições", prossegue.

Huckerby ressalta que muitas mulheres de países ocidentais vão para Síria e Iraque pelas restrições à prática de sua fé e pela aventura e emoção de chegarem perto de uma utopia islâmica.

Seu papel mais transcendente, além de serem mães e esposas, é explicar ao mundo exterior como é a vida cotidiana dentro do EI, numa combinação de mensagens violentas com fotos delas cozinhando.

"As mulheres são muito importantes para mudar a imagem do Estado Islâmico de grupo terrorista para construtores de um Estado", explica Huckerby.

Mas elas também querem lutar. Melanie Smith, do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização (ICSR), da King's College de Londres, mantém uma base de dados de cerca de 70 mulheres do Estado Islâmico.

Smith disse que as mulheres britânicas estão incitando ataques ao sugerir às pessoas que não puderam viajar ao Iraque e à Síria que atuem em casa.

"Dá pra ver as mulheres na internet frustradas pelo fato de que não podem lutar e sugerindo umas às outras que façam outra coisa", declara a pesquisadora ao jornal The Observer.

Apesar de sua paixão, muitas das mulheres da pesquisa de Frenett tinham dificuldades para deixar pra trás suas famílias, e disse que isso poderia ser a chave para mantê-las em casa.

"A maior barreira para que elas saiam, tanto pelo emocional e quanto pelos detalhes práticos, não é o Estado, é sua própria família", disse, ressaltando que as autoridades devem apoiar mais os pais.

Frenett também defende a criação de uma via de retorno às mulheres que chegam ao Iraque e à Síria e se desiludem, o que pode acontecer quando seus maridos morrem lutando.

"É necessário que haja um caminho disponível para elas", afirma.

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