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Mulheres perdem espaço no novo poder líbio

Número de mulheres no governo rebelde será menor do que nos tempos de Kadafi; feministas temem que uso do véu islâmico se torne obrigatório no país

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2011 às 18h24.

Trípoli - O novo poder da Líbia conta com poucas mulheres, muito menos do que no regime de Muamar Kadafi, e em um país tradicionalmente conservador, algumas moradoras de Trípoli estão preocupadas com esta situação.

"Estou preocupada, os Irmãos Muçulmanos podem vir de Benghazi e decidir que as mulheres devem usar o hidjab" (véu islâmico), declarou Faten Mohammad al-Nabi, uma estudante de comércio exterior de 20 anos de idade.

Os líderes do Conselho Nacional de Transição (CNT) minimizaram a presença de islamitas no poder. Eles afirmam que alguns membros do CNT são, como muito líbios, muçulmanos praticantes e conservadores.

Faten ressaltou que Benghazi, sede do CNT desde o início da revolução na Líbia, sempre foi uma cidade mais conservadora do que a capital, onde as mulheres se vestiam como queriam nos tempos do governo de Kadafi.

"Trípoli sempre foi mais liberal", afirmou.

As mulheres nunca foram obrigadas a usar o véu, tinham total liberdade de locomoção e participavam da vida política e econômica.

"Na realidade, Kadafi preferia as mulheres aos homens", disse a estudante.

O ex-presidente do país sempre confiou sua segurança a mulheres, que constituíam inclusive sua guarda pessoal.

Entre as figuras do antigo regime havia muitas mulheres como Hala Misrati, jornalista e apresentadora de televisão que com uma pistola prometeu diante das câmeras defender o governo, e Huda Ben Amer, conhecida por seu papel no enforcamento de opositores.

Centenas de mulheres se formavam todos os anos na academia militar.

"Nós tínhamos direitos nos tempos de Kadafi e ganhamos mais liberdade nos últimos anos", afirmou Hanán Mohamad Ali Abusah, 29 anos, que figura entre os primeiros oficiais que retomaram seus postos de trabalho depois da tomada da capital pelas forças do CNT.

Hanán declarou que não está preocupada com a possibilidade de um avanço do islã conservador, e considera que as mulheres "terão mais oportunidades a partir de agora".

Outras reclamam do fato de apenas uma mulher fazer parte da liderança do CNT e nenhuma entre os ministros do poder executivo.

"Eu critico a ausência das mulheres no Conselho", afimou Samia Shamaq, que organizou na segunda-feira uma reunião de amigos para discutir o papel das mulheres na nova Líbia.

"Deveria haver mulheres no CNT porque elas formam o vínculo fundamental da sociedade", sustenta Aya Diribubri, jovem de 26 anos que trabalha em uma loja de vestidos de noiva e não utiliza o véu mesmo com uma clientela conservadora.

Aya afirmou que não hesitará em usar o véu se o governo e a sociedade se tornarem mais conservadores. "No final das contas, a Líbia é um país muçulmano, e a segurança é mais importante do que a liberdade", afirmou.

Aqueles que falam em fundamentalismo tentam aterrorizar e dividir a sociedade, acredita Rayan Diab, estudante de 20 anos. "É apenas uma tática para dividir nossos homens", disse.

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