Mundo

Mulheres afegãs têm acesso reduzido a pílulas anticoncepcionais por proibições do Talibã

Farmacêuticos e obstetras confirmaram as ações embora oficialmente o governo não admita haver uma proibição para que mulheres acessem pílulas e dispositivos anticoncepcionais

Alunas assistem aula em Herat, depois que a cidade foi tomada pelos talibãs, que afirmam que permitirão a continuidade das meninas nas escolas

 (AFP/AFP)

Alunas assistem aula em Herat, depois que a cidade foi tomada pelos talibãs, que afirmam que permitirão a continuidade das meninas nas escolas (AFP/AFP)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 17 de fevereiro de 2023 às 16h20.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2023 às 16h41.

Combatentes do Talibã estão visitando farmácias e exigindo o fim da venda de métodos contraceptivos em duas grandes cidades do Afeganistão, segundo uma investigação do jornal britânico The Guardian.

Farmacêuticos e obstetras confirmaram as ações embora oficialmente o governo não admita haver uma proibição para que mulheres acessem pílulas e dispositivos anticoncepcionais.

Farmacêuticos em Cabul, a capital, e Mazar-i-Sharif, uma importante cidade ao norte do país, disseram que membros do grupo terrorista têm ido de porta em porta mandando retirar os medicamentos e injeções das prateleiras, alegando que a contracepção é uma conspiração ocidental para controlar a população muçulmana.

"Eles vieram duas vezes à minha loja com armas e me ameaçaram para não vender pílulas anticoncepcionais. Eles verificam regularmente todas as farmácias em Cabul e paramos de vender os produtos", disse um lojista na capital. Outros lojistas afirmaram ter medo de vender seus estoques de pílulas e injeções.

Obstetras também relataram ter sido ameaçadas para não vender o contraceptivos, alegando que os combatentes afirmam que "o uso de anticoncepcionais e planejamento familiar é uma agenda ocidental". Mulheres que fazem uso dos medicamentos relataram ao jornal preocupação e desespero com a medida.

No entanto, nenhuma declaração oficial do governo foi feita sobre o assunto. Ao Guardian, Ustad Faridoon, um porta-voz do Taleban em Kandahar, disse que não apoiava uma proibição total. "O uso de anticoncepcionais às vezes é clinicamente necessário para a saúde materna. É permitido na Sharia usar métodos contraceptivos se houver risco para a vida da mãe. Portanto, uma proibição total de contraceptivos não é certa."

Um relatório da Humans Right Watch produzido em maio de 2021, portanto antes do Taleban tomar novamente o poder no país, já indicava a tendência de declínio nos investimentos em saúde para as mulheres no país, e apontava preocupações com o que ocorreria após a retirada das tropas americanas.

A preocupação agora dos ativistas de direitos reprodutivos e das mulheres e que com a queda no uso de contraceptivos, piore os casos de mortalidade materna em um país que já é um dos mais perigosos para se dar à luz.

O Taleban tomou o poder no Afeganistão em agosto de 2021 antes mesmo do fim da retirada das tropas americanas do país. A chegada do grupo ao poder preocupou líderes e organizações internacionais principalmente pelo risco ao direito das mulheres o que o grupo garantiu na época que não seria afetado. Mas, desde então, o Taleban já proibiu o ensino superior para meninas fechou universidades para mulheres, forçou as mulheres a deixarem seus empregos e restringiu sua capacidade de deixar suas casas.

Acompanhe tudo sobre:AfeganistãoDireitos HumanosMulheresTalibã

Mais de Mundo

Manifestação reúne milhares em Valencia contra gestão de inundações

Biden receberá Trump na Casa Branca para iniciar transição histórica

Incêndio devastador ameaça mais de 11 mil construções na Califórnia

Justiça dos EUA acusa Irã de conspirar assassinato de Trump; Teerã rebate: 'totalmente infundado'