Muitas questões e poucas respostas sobre escravas em Londres
A Grã-Bretanha tentava compreender como e por que três mulheres foram mantidas como escravas durante mais de 30 anos em uma casa em Londres
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2013 às 11h54.
Londres - A Grã-Bretanha tentava compreender nesta sexta-feira como e por que três mulheres foram mantidas como escravas durante mais de 30 anos em uma casa em Londres e as autoridades estão preocupadas com a multiplicação de casos semelhantes.
Ainda restam muitas questões a serem respondidas após a prisão de um casal, libertados depois do pagamento de fiança, quase um mês depois de terem encontrado três mulheres, uma malaia de 69 anos, uma irlandesa de 57 e uma inglesa de 30, em um cativeiro de três décadas.
Quais eram as condições de seu cativeiro? Por que tanto tempo entre a libertação das mulheres e a prisão de um homem e uma mulher, ambos de 67 anos? Por que os suspeitos, de nacionalidade "não-britânica", foram libertados sob fiança até janeiro, quando são suspeitos de escravidão e trabalho forçado?
Todas essas dúvidas ainda não foram solucionadas, segundo a polícia, pelo profundo estado de choque no qual as vítimas se encontram, após viverem um grande trauma.
A dificuldade para contarem sua história, o fato de estarem completamente traumatizadas e de se encontraram "sem nada" após trinta anos de cativeiro tornam mais difícil uma investigação já por si "muito complexa".
A Scotland Yard, que coletou as escassas declarações das vítimas antes de proceder com as prisões, sabe apenas que as mulheres passam mais de trinta anos em servidão, que não sofreram abusos sexuais, mas que foram submetidas a maus-tratos físicos e morais.
As três mulheres foram libertadas há quase um mês, quando uma das mulheres entrou em contato com a ONG Freedom Charity depois de ver um documentário sobre escravidão e os casamentos forçados.
O contato com a organização foi "muito difícil" no início, segundo sua fundadora, Aneeta Prem. Foi necessário uma série de telefonemas, todos em segredo, para estabelecer "uma relação de confiança".
Aproveitando a ausência do casal, as duas mulheres mais jovens deixaram a casa em 25 de outubro para encontrar em um local combinado membros da associação e da polícia.
Os serviços de segurança se dirigiram, em seguida, à casa em Lambeth, no sul de Londres, para libertar a terceira mulher.
"Quando as encontramos, elas se jogaram sobre mim, chorando, agradecendo à associação por ter salvo a vida delas. Foi muito emocionante", contou Aneeta Prem à ITV.
"Isso desafia a nossa imaginação. É impossível imaginar que algo desse tipo possa acontecer na Grã-Bretanha, em Londres, em 2013", acrescentou.
"Como isso é possível? Quase não temos informações da polícia", declarou a deputada trabalhista Tessa Jowell, que diz ter acordado "três vezes duranta a noite" pensando "nessas pobres mulheres".
"A escravidão é um assunto que as pessoas acham que ficaram nos livros de história. Mas a triste realidade é que este problema continua aí", ressaltou o secretário de Estado James Brokenshire.
Ainda que surpreendente, o caso das três mulheres é apenas o último capítulo de uma série de trágicas histórias no Reino Unido, 183 anos após a abolição da escravatura no Império britânico.
Em 23 de outubro, um octogenário e sua mulher foram condenados a, respectivamente, treze e cinco anos de prisão pelo estupro e exploração, durante quase uma década, de uma jovem surda e muda paquistanesa, submetida "a uma vida de miséria e humilhação", de acordo com o julgamento.
A história das três mulheres é "horrível" em relação à duração do seu calvário, considerou Andrew Wallis, presidente da associação "Unseen" à BBC. "Mas ela apenas ilustra um problema crescente no Reino Unido e no mundo. Há 200 anos havia o uso de correntes de ferro para trancar os escravos. Hoje barreiras psicológicas são utilizadas para o controle dessas pessoas".
No mês passado, a ONG britânica estimou entre 4.200 e 4.600 o número de pessoas vítimas no Reino Unido da escravidão moderna em suas várias formas, como o trabalho forçado, o tráfico de pessoas e casamentos forçados.
"As pessoas precisam entender que estes casos não são incomuns. A escravidão moderna é uma realidade e está muito presente na Grã-Bretanha", lamentou Frank Field, vice-presidente da Fundação contra o Tráfico de Seres Humanos.
Londres - A Grã-Bretanha tentava compreender nesta sexta-feira como e por que três mulheres foram mantidas como escravas durante mais de 30 anos em uma casa em Londres e as autoridades estão preocupadas com a multiplicação de casos semelhantes.
Ainda restam muitas questões a serem respondidas após a prisão de um casal, libertados depois do pagamento de fiança, quase um mês depois de terem encontrado três mulheres, uma malaia de 69 anos, uma irlandesa de 57 e uma inglesa de 30, em um cativeiro de três décadas.
Quais eram as condições de seu cativeiro? Por que tanto tempo entre a libertação das mulheres e a prisão de um homem e uma mulher, ambos de 67 anos? Por que os suspeitos, de nacionalidade "não-britânica", foram libertados sob fiança até janeiro, quando são suspeitos de escravidão e trabalho forçado?
Todas essas dúvidas ainda não foram solucionadas, segundo a polícia, pelo profundo estado de choque no qual as vítimas se encontram, após viverem um grande trauma.
A dificuldade para contarem sua história, o fato de estarem completamente traumatizadas e de se encontraram "sem nada" após trinta anos de cativeiro tornam mais difícil uma investigação já por si "muito complexa".
A Scotland Yard, que coletou as escassas declarações das vítimas antes de proceder com as prisões, sabe apenas que as mulheres passam mais de trinta anos em servidão, que não sofreram abusos sexuais, mas que foram submetidas a maus-tratos físicos e morais.
As três mulheres foram libertadas há quase um mês, quando uma das mulheres entrou em contato com a ONG Freedom Charity depois de ver um documentário sobre escravidão e os casamentos forçados.
O contato com a organização foi "muito difícil" no início, segundo sua fundadora, Aneeta Prem. Foi necessário uma série de telefonemas, todos em segredo, para estabelecer "uma relação de confiança".
Aproveitando a ausência do casal, as duas mulheres mais jovens deixaram a casa em 25 de outubro para encontrar em um local combinado membros da associação e da polícia.
Os serviços de segurança se dirigiram, em seguida, à casa em Lambeth, no sul de Londres, para libertar a terceira mulher.
"Quando as encontramos, elas se jogaram sobre mim, chorando, agradecendo à associação por ter salvo a vida delas. Foi muito emocionante", contou Aneeta Prem à ITV.
"Isso desafia a nossa imaginação. É impossível imaginar que algo desse tipo possa acontecer na Grã-Bretanha, em Londres, em 2013", acrescentou.
"Como isso é possível? Quase não temos informações da polícia", declarou a deputada trabalhista Tessa Jowell, que diz ter acordado "três vezes duranta a noite" pensando "nessas pobres mulheres".
"A escravidão é um assunto que as pessoas acham que ficaram nos livros de história. Mas a triste realidade é que este problema continua aí", ressaltou o secretário de Estado James Brokenshire.
Ainda que surpreendente, o caso das três mulheres é apenas o último capítulo de uma série de trágicas histórias no Reino Unido, 183 anos após a abolição da escravatura no Império britânico.
Em 23 de outubro, um octogenário e sua mulher foram condenados a, respectivamente, treze e cinco anos de prisão pelo estupro e exploração, durante quase uma década, de uma jovem surda e muda paquistanesa, submetida "a uma vida de miséria e humilhação", de acordo com o julgamento.
A história das três mulheres é "horrível" em relação à duração do seu calvário, considerou Andrew Wallis, presidente da associação "Unseen" à BBC. "Mas ela apenas ilustra um problema crescente no Reino Unido e no mundo. Há 200 anos havia o uso de correntes de ferro para trancar os escravos. Hoje barreiras psicológicas são utilizadas para o controle dessas pessoas".
No mês passado, a ONG britânica estimou entre 4.200 e 4.600 o número de pessoas vítimas no Reino Unido da escravidão moderna em suas várias formas, como o trabalho forçado, o tráfico de pessoas e casamentos forçados.
"As pessoas precisam entender que estes casos não são incomuns. A escravidão moderna é uma realidade e está muito presente na Grã-Bretanha", lamentou Frank Field, vice-presidente da Fundação contra o Tráfico de Seres Humanos.