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Mudanças climáticas derretem gelo na Rússia e soja começa a brotar

Clima quente e seco empurra o cultivo de alimentos para regiões próximas ao polo, onde antes poucas culturas agrícolas floresciam

Aquecimento global derrete gelo no norte da Rússia e país começa a plantar soja (AlexGcs/Getty Images)

Aquecimento global derrete gelo no norte da Rússia e país começa a plantar soja (AlexGcs/Getty Images)

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Bloomberg

Publicado em 23 de julho de 2020 às 17h54.

Logo abaixo da tundra ártica, nas vastas planícies que cobrem grande parte do norte da Rússia, um negócio outrora impensável ganha força: o cultivo de soja.

É o resultado de anos de temperaturas globais em alta, que descongelam o permafrost e transformam a terra em solo fértil. Agora, o engenheiro agrônomo Gennady Bochkovsky ajuda a levar a cultura para a próxima fronteira, testando se o grão pode se adaptar às áreas mais altas da região de Moscou. Por enquanto, diz, os resultados são promissores.

“Os brotos surgiram e estão lindos”, disse Bochkovsky, que trabalhou com a empresa agrícola TulamashAgro para substituir ervilhas por soja em 1.400 hectares.

A soja na Rússia incorpora uma tendência que varre o mundo: o clima quente empurra as culturas cada vez mais para os polos. Nos Estados Unidos, Dakota do Norte se transformou em um grande produtor de milho, e o Reino Unido registra rápida expansão de uvas para vinho.

“Podemos ver que o clima está mudando - há mais calor e as culturas que antes não cresciam aqui agora podem se dar bem”, disse Bochkovsky.

Embora agricultores russos de soja colham alguns benefícios do clima mais quente, as mudanças climáticas têm causado estragos na produção global de alimentos. A seca afetou a produção agrícola neste ano em partes do Uruguai, Nova Zelândia, Europa e Vietnã. Até a Rússia e o resto da região do Mar Negro viram os efeitos negativos da mudança dos padrões climáticos nos últimos anos, com condições mais secas ameaçando a colheita de trigo da região.

Segundo a ONU, a mudança climática é um dos fatores que agravaram a insegurança alimentar. Com isso, o mundo não alcançará a meta para eliminar a fome até 2030.

Na Rússia, os agricultores abraçaram a oportunidade de cultivar a lucrativa soja. A semente oleaginosa é usada para a fabricação de ração, e a demanda tem sido forte em meio a à expansão da produção animal. De fato, o país ainda depende de importações de cerca de 1 milhão de toneladas de soja, então há mais espaço para as colheitas domésticas continuarem aumentando.

A soja foi plantada em 1,1 milhão de hectares na Rússia central em 2019, 18 vezes mais ao longo da última década e equivalente a cerca de 7% do total de terras cultiváveis nessa parte do país. O governo ainda não divulgou dados da área cultivada mais recente após o término das plantações no mês passado.

“O país precisava de mais soja e, do ponto de vista econômico, é melhor cultivá-las no mercado interno”, disse Sergei Zelentsov, chefe do departamento de soja do Instituto de Pesquisa Pustovoit de Culturas Oleaginosas.

As variedades mais recentes de soja do norte da Rússia podem crescer se as temperaturas subirem acima de 10 graus Celsius por tempo suficiente, de acordo com Margarita Fadeyeva, do Instituto de Pesquisa Agrícola Chuvashia. Nas latitudes do norte, os grãos precisam de cerca de 100 dias de clima favorável para amadurecer.

A produtividade dobrou na última década, enquanto a produção quase quadruplicou, segundo dados do governo russo. Melhores sementes também contribuíram para o resultado.

 

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