Mundo

Morte de presidente do Irã não deve gerar revolução, mas disputa silenciosa, diz especialista

Ebrahim Raisi faleceu após queda de helicóptero no domingo em área montanhosa

Iranianos colocam flores em homenagem ao presidente Ebrahim Raisi do lado de fora da embaixada do Irã em Bagdá (Ahmad Al-Rubaye/AFP)

Iranianos colocam flores em homenagem ao presidente Ebrahim Raisi do lado de fora da embaixada do Irã em Bagdá (Ahmad Al-Rubaye/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 20 de maio de 2024 às 16h53.

Última atualização em 21 de maio de 2024 às 10h41.

A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em um acidente de helicóptero no domingo, 19, não deve ser capaz de gerar uma revolução no país, mas levará a uma disputa silenciosa dentro do governo, avalia Jon B. Alterman, diretor do programa de Oriente Médio do CSIS (Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais).

"No curto prazo, o impacto será mais doméstico que internacional. O poder coercitivo do estado está sob comando do líder supremo, não do presidente", disse Alterman. O Irã é chefiado pelo aiatolá Ali Khamenei, de 85 anos, e que está no cargo desde 1989.

Alterman participou de uma sessão de perguntas e respostas sobre o Irã nesta segunda, 20. O CSIS é um dos principais centros globais de estudos bélicos e fica baseado em Washington. Veja outras respostas dele sobre as principais questões surgidas após o acidente:

Como ficará o governo do Irã após o acidente?

"O cenário mais provável é uma competição silenciosa dentro do aparelho coercitivo do estado, com a Guarda Revolucionária, os militares e o setor de inteligência competindo para ter vantagem, e por uma possível marginalização da liderança dos clérigos no longo prazo. Essa tendência vem ocorrendo há mais de uma década, conforme vem crescendo a hostilidade ao regime dos clérigos entre os jovens e a população que vem empobrecendo."

O acidente pode provocar uma revolução no Irã?

"É possível, mas improvável que o público aproveite um aparente desarranjo e se levante contra a liderança. Muitos analistas iranianos consideram isso improvável, porque muitos iranianos ainda acreditam estar sofrendo as consequências da Revolução de 1979, que começou como um esforço de base ampla e foi capturado por personalidades religiosas carismáticas. Ao mesmo tempo, muitos iranianos olham para o mundo árabe, e a Primavera Árabe não traz muito encorajamento para revoluções populares. A probabilidade de um levante radical é de menos de 10%."

Que efeitos o acidente terá na política externa?

Os pilares da política externa iraniana vão se manter iguais, como a busca de amplo diálogo regional. Esse aspecto terá algum dano, porque o chanceler Amir-Abdollahian era um diplomata que levou anos cultivando relações com os vizinhos do Irã e tinha algum pequeno grau de confiança. Em meio à incerteza, poderá levar algum tempo para reconstruir esses laços.

Qual é a possibilidade de ter havido um assassinato do presidente do Irã?

É improvável, mas não impossível. Raisi tinha muitos inimigos, internos e externos, mas sua morte não muda muito a equação. Além disso, as condições climáticas extremamente adversas que prejudicaram os esforços de resgate são uma explicação razoável para o acidente. Vale a pena examinar o equipamento no qual o presidente estava voando - um helicóptero construído nos EUA que, segundo relatos, foi comprado antes da revolução iraniana de 1979. Ele é destinado a voar apenas em condições de voo visual, e presume-se que o governo iraniano tenha tido dificuldade em adquirir equipamentos de segurança modernos e peças de reposição. Embora helicópteros semelhantes permaneçam em serviço ao redor do mundo, parece improvável que outros países teriam transportado seus líderes em condições semelhantes.

Acompanhe tudo sobre:Irã - PaísOriente Médio

Mais de Mundo

Polícia da Zâmbia prende 2 “bruxos” por complô para enfeitiçar presidente do país

Rússia lança mais de 100 drones contra Ucrânia e bombardeia Kherson

Putin promete mais 'destruição na Ucrânia após ataque contra a Rússia

Novo líder da Síria promete que país não exercerá 'interferência negativa' no Líbano