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Morte de grávida na Malásia revela crise global dos airbags

Morte de mulher grávida em acidente de carro na Malásia foi o primeiro caso fora dos EUA na crescente crise dos airbags, que já deixaram 4 mortos e 139 feridos

Logo de airbag feito pela Takata: airbag funcionou mal e disparou caco de metal na direção do pescoço da motorista (Toru Hanai/Reuters)

Logo de airbag feito pela Takata: airbag funcionou mal e disparou caco de metal na direção do pescoço da motorista (Toru Hanai/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2014 às 16h13.

Kuala Lumpur - “Mamãe, carro!”. Welhelmo Rodriguez Caido Jr., 41, deu o alerta quando estava sentado no banco de passageiros de um Honda City dirigido por sua esposa, a quem ele carinhosamente chamava de mamãe.

Um instante depois, ao entrar em um cruzamento na cidade malaia de Sibu, no dia 27 de julho, uma colisão com um carro abriu o airbag com tanta força que deixou Caido inconsciente.

Do lado do motorista, o inflador, dentro do airbag produzido pela Takata Corp., funcionou mal e explodiu, disparando um caco de metal com mais de dois centímetros de largura na direção do pescoço de sua esposa, Law Suk Leh.

Law, 43, grávida de oito meses, morreu a caminho do hospital, tornando-se a primeira vítima reportada fora dos EUA na crescente crise dos airbags que se abate sobre a indústria automotiva.

Nos EUA, os airbags Takata, usados por fabricantes como Toyota Motor Corp., Honda Motor Co. e General Motors Co., foram ligados a quatro mortes e pelo menos 139 feridos, segundo relatórios do governo, processos judiciais e revelações das fabricantes de veículos.

“A Takata lamenta profundamente as lesões e mortes ocorridas em acidentes envolvendo rupturas de infladores de airbags”, disse o presidente do conselho da empresa, Shigehisa Takada, ontem, em um comunicado. Hoje, Hideyuki Matsumoto, porta-voz da Takata, preferiu não comentar especificamente sobre o acidente malaio.

O acidente da Malásia ilustra graficamente como a globalização da indústria automotora implica também a globalização dos problemas de segurança automotiva. E diferentemente dos EUA, com sua rede de agências de segurança federais e estaduais, comunicações de recalls e advogados dispostos a levar adiante casos contra as fabricantes, os motoristas estão sob risco em países onde as normas e as autoridades de segurança automotiva lavam suas mãos em relação a qualquer responsabilidade por alertar os motoristas a respeito de defeitos potencialmente letais.

"Alerta"

“O incidente é provavelmente um alerta para a Malásia e outros países asiáticos”, disse Jochen Siebert, diretor-geral da JSC Automotive Consulting, que assessora fabricantes de veículos. “Na Malásia e em outros países asiáticos as pessoas agora perguntarão à Honda se seus carros estão afetados. Elas forçarão os governos a acelerar o processo de formalização da norma de segurança nos carros”.

O Honda 2003 de segunda mão de Caido não estava entre os mais de 13 milhões de veículos convocados no recall em todo o mundo por causa de airbags defeituosos da Takata. A Honda chamou de volta às oficinas outros 170.000 veículos no mês passado após investigar a morte na Malásia, disse Kosuke Kachi, um porta-voz em Tóquio, por telefone. Os proprietários dos carros afetados foram notificados por e-mail e telefone e a empresa publicou a informação em seus sites.

Alertas de recall

Nos EUA, a Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário (NHTSA, na sigla em inglês) emitiu diversos alertas sobre o assunto e pressionou as fabricantes de veículos a acelerarem seus recalls. Ainda assim, a NHTSA está sendo acusada por membros do Congresso de não fazer o suficiente. Os parlamentares estão questionando a Takata, que tem sede em Tóquio, por meio de audiências que lembram a apuração enfrentada pela GM neste ano devido às chaves de ignição defeituosas e pela Toyota por aceleração não intencional em 2009-2010. A mídia está informando o caso como notícia de primeira página.

A polícia malaia está deixando para a Honda e a Takata a tarefa de informar o público a respeito de seus airbags defeituosos e não planejam nenhuma campanha pública para difundir a mensagem de forma mais ampla, disse Mohd Fuad Abdul Latiff, chefe da polícia federal de trânsito da Malásia.

“Nossa responsabilidade termina aqui”, disse Mohd Fuad. Os promotores cuidarão do caso agora. O Ministério dos Transportes do país não respondeu a um e-mail com um pedido de comentário.

A Honda só revelou o acidente da Malásia no dia 13 de novembro, embora tenha sido informada em agosto do incidente que resultou nas mortes de Law e de seu feto. A Honda, terceira maior fabricante de veículos do Japão, cerca de duas semanas depois revelou que 1.729 vezes nos EUA, ao longo de 11 anos, não havia informado completamente todas as lesões e mortes decorrentes de defeitos em veículos, sendo que oito desses casos envolviam rompimentos de infladores de airbags da Takata.

Honda pede desculpas

“Nós sentimos pelas pessoas que morreram em carros da Honda equipados com airbags fabricados pela Takata, pedimos desculpas às suas famílias e queremos enviar nossas sinceras condolências”, disse Atsushi Ohara, porta-voz da Honda. “Vamos realizar todos os esforços para substituir as peças dos veículos sujeitos aos recalls”.

A maior parte da supervisão asiática de segurança automotiva fica aquém da dos EUA. A Organização das Nações Unidas estima que mais de 700.000 vidas sejam perdidas a cada ano em acidentes de trânsito, custando um a três por cento do produto nacional bruto em prejuízos econômicos. Um desafio-chave é a disponibilidade de dados confiáveis e periódicos sobre acidentes e mortes, coletados por diferentes ministérios e agências. A falta de mecanismos para compartilhar informações resulta em respostas desordenadas, disse a Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia e o Pacífico, em seu site.

A falta de conhecimento generalizado a respeito do defeito nos airbags da Takata pode ser particularmente perigosa na Ásia. A Takata disse que os airbags se tornam mais propensos ao mal funcionamento em ambientes úmidos, que caracterizam a maioria dos países em desenvolvimento da Ásia.

Os asiáticos também não contam com os mesmos caminhos para recorrer judicialmente contra as fabricantes. Pelo menos nove casos foram abertos neste ano em tribunais dos EUA alegando mortes ou lesões pessoais causadas pela explosão de airbags da Takata. A Takata também enfrenta pelo menos 50 ações coletivas apresentadas nos EUA por clientes que querem pagamentos por supostos prejuízos no valor dos veículos ligados aos recalls, e a Honda é citada em todos os casos, exceto dois.

A maioria dos países asiáticos, pelo contrário, tem restrições em relação a ações coletivas ou litígios em grupo.

Hospital de Sibu

Caido e Law estavam juntos há 10 anos e se casaram em 2009. A família estava animada com o segundo bebê que chegaria logo e que receberia o nome de Elsa em alusão à rainha da neve de “Frozen”, sucesso animado da Walt Disney Co. O filho foi quem escolheu o nome. Caido carinhosamente chamava sua esposa de “Mamãe” e ela o chamava de “Papai”.

No Hospital de Sibu, um médico, após saber do tempo da gravidez, disse a Caido que eles tentariam retirar o feto de 37 semanas do útero. Caido ainda não sabia que a esposa havia sido declarada morta quando chegou.

Foi realizada uma cesariana de emergência e o bebê foi levado às pressas para a unidade de cuidado intensivo neonatal. Seu batimento cardíaco estava fraco porque a morte da mãe a tinha deixado sem oxigênio.

No dia 29 de julho, dois dias depois do acidente, Caido soube que o bebê não sobreviveria porque seu coração estava frágil demais. O hospital disse que desligaria o respirador para que ele pudesse segurar seu bebê pela última vez.

“Eu disse a ela para cuidar da Mamãe onde quer que elas estivessem”, disse Caido, em lágrimas. “Elsa morreu lentamente nos meus braços”.

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