Segundo os serviços de urgência médica, 51 pessoas morreram e 435 ficaram feridas por tiros disparados na manhã desta segunda-feira em frente à sede da Guarda Republicana, onde quatro simpatizantes de Mursi foram mortos na última sexta-feira (AFP / Mahmoud Khaled)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2013 às 18h27.
A emoção era grande nas proximidades do prédio da Guarda Republicana, no Cairo, nesta segunda-feira, quando mais de 50 pessoas foram mortas atingidas por tiros contra seguidores do ex-presidente Mohamed Mursi, no que testemunhas descrevem como massacre.
Num hospital do bairro, dezenas de pessoas olhavam atentamente as listas de vítimas à procura de um membro da família ou de conhecido, numa mistura de caos e lágrimas.
"Esta é a camisa do meu amigo que foi morto", mostra Ahmed Mansur, balançando a peça de roupa coberta de sangue.
"Eu vi 30 corpos, nenhum de criança", diz a médica Layla al-Dessouki, na tentativa de acalmar as famílias preocupadas. Um fotógrafo da AFP diz ter visto cerca de 20 corpos ensanguentados, todos eles enfileirados no chão de um necrotério.
Segundo os serviços de urgência médica, 51 pessoas morreram e 435 ficaram feridas por tiros disparados na manhã desta segunda-feira em frente à sede da Guarda Republicana, onde quatro simpatizantes de Mursi foram mortos na última sexta-feira.
No bairro, o forte cheiro de gás lacrimogêneo, os vidros para-brisas estilhaçados e árvores queimadas são o retrato dos momentos de violência vividos na grande avenida Salah Salem, em frente ao edifício militar.
A Guarda Republicana, encarregada de proteger a Presidência, é alvo de revoltas por parte dos islamitas que a acusam de ter "traído" Mohamed Mursi, deposto na última quarta-feira pelo Exército.
Nas paredes de um prédio do Ministério da Defesa, vizinho à Guarda Republicana, pichações acusam o Exército e seu chefe, general Abdel Fattah al-Sissi. "Aqui será em breve a sede da República Islâmica", prevê uma das inscrições.
"Nós estávamos fazendo uma prece bem cedo quando soldados da Guarda Republicana abriram fogo contra nós. Depois instaurou-se um caos, e as pessoas caíam em poças de sangue", conta a manifestante Shaima Younes.
Anas Aymas, manifestante da região de Gharbeya, no Delta do Nilo, acusa a presença de policiais à paisana em meio às manifestações.
"Eles entraram pela direita e começaram a atirar enquanto fazíamos as preces. Depois, se esconderam atrás de um carro da Polícia. Nós chamamos o exército para nos proteger, mas eles também nos atacaram", afirma a mulher.
Outras testemunhas relatam ainda que os soldados atiraram para o alto para dispersar os manifestantes, e que foram homens vestidos como civis que abriram fogo contra a multidão.
"Os homens vieram e atiraram contra a gente, enquanto o Exército disparava bombas de gás lacrimogêneo", conta Hussein, outra testemunha.
Morador do bairro, Baddredine Adel conta que "os simpatizantes da Irmandade Muçulmana jogaram coquetéis Molotov contra o Exército", causando um princípio de incêndio num prédio vizinho.
"A polícia atirou contra a gente", afirma Ayman Sayyed, cujo rosto estava coberto de sangue, mas não apresentava ferimentos. Alguns pacientes saíam do hospital cobertos de bandagens, mas com poucos vestígios de sangue aparentes.
Já o Exército explicou por meio de comunicado de imprensa que "terroristas armados" atacaram a sede da Guarda Republicana. A nota foi publicada no jornal al-Ahram, do governo.
"Nós não vamos permitir ameaças à segurança nacional egípcia, quaisquer que sejam as circunstâncias", declarou o porta-voz do exército, coronel Ahmed Ali.
O coronel Ali afirmou que "um grupo armado atacou" soldados por volta das 04h00 da manhã (23h00 de Brasília). De acordo com ele, o Exército teria então respondido "dando tiros para o alto e disparando bombas de gás lacrimogêneo" e "só interveio após ter sido atacado pelo outro lado".
O porta-voz disse ainda que um oficial do Exército foi morto durante os confrontos, e que 42 soldados ficaram feridos.