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Mohamed Mursi governa um Egito polarizado

Poucos poderiam imaginar no início de 2012 que este homem de pouco carisma e saído do aparelho da Irmandade Muçulmana fosse se transformar no chefe de Estado do país.

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Da Redação

Publicado em 21 de dezembro de 2012 às 20h48.

Cairo - O islamita Mohammed Mursi se tornou em junho o primeiro presidente do Egito eleito democraticamente e, após tirar os militares do poder, agora tenta endireitar o rumo de um país ainda cambaleante e profundamente dividido por suas últimas decisões.

Poucos poderiam imaginar no início de 2012 que este homem de pouco carisma e saído do aparelho da Irmandade Muçulmana fosse se transformar no chefe de Estado do país.

De fato, o primeiro candidato eleito para representar a Irmandade foi o empresário islamita Khairat Shater, que teve que abrir passagem para Mursi após ser desqualificado da corrida presidencial em abril.

Antes, a Irmandade Muçulmana havia triunfado com grande maioria nos pleitos legislativos, que aconteceram ao longo de um interminável e intrincado processo entre o final de 2011 e o início de 2012.

A vitória do grupo islamita nas parlamentares suscitou as suspeitas de alguns, que temeram um controle total por parte da Irmandade Muçulmana de todos os níveis de poder se chegasse à presidência.

Frente ao pouco apelo de Mursi, os meios de comunicação ficaram mais próximos a candidatos presidenciais mais carismáticos como o ex-secretário geral da Liga Árabe, Amr Moussa, e o islamita moderado Abde Moneim Abul Futuh, que protagonizaram o primeiro debate eleitoral televisado da história do Egito.


A corrida rumo à chefia de Estado não começou sem sua dose justa de melodrama, onipresente na transição, com a reaparição estelar do ex-vice-presidente Omar Suleiman, considerado no passado o principal espião do Oriente Médio, e a fulgurante irrupção do candidato salafista Hazem Abu Ismail.

No final ambos foram descartados, no caso de Suleiman em virtude de uma nova lei que impedia aspirantes que tivessem sido funcionários do antigo regime, e no de Abu Ismail, após um episódio rocambolesco sobre a suposta nacionalidade americana de sua mãe, que lhe impedia de candidatar-se.

Com o mês de maio chegou a trepidante campanha eleitoral. Pela primeira vez, o Egito foi testemunha de comícios, debates televisados e atos eleitorais para escolher um presidente em meio à normalidade democrática.

As conversas mais frequentes nos cafés do Cairo versavam sobre o candidato da vez, as eleições e as manobras da Junta Militar, que comandou o país desde a derrocada de Hosni Mubarak até a eleição de Mursi.

Entre todos os candidatos possíveis, o Egito se decidiu no primeiro turno pela opção islâmica, representada por Mursi, e pela saudade da estabilidade do antigo regime, personificada no general Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro de Mubarak.

Ironias do destino, após uma revolução, o país não era capaz de safar-se das forças antagônicas que tradicionalmente tinham disputado o poder: o Exército e o islã político.


Desta maneira, entre os dias 16 e 17 de junho, um país com o coração dividido foi às urnas para o turno final das eleições que deram o triunfo a Mursi com 51% dos votos, contra 49% de Shafiq.

Seus oponentes duvidavam que este engenheiro, de origem camponesa, fosse capaz de se transformar no presidente forte que o país precisava para promover reformas e impor-se à Junta Militar, que parecia querer perpetuar-se no poder.

No entanto, um mês após jurar o cargo no final de junho, Mursi surpreendeu ao remodelar a cúpula militar e aposentar os generais integrantes do Conselho Supremo das Forças Armadas.

Desta maneira, ficava fora de jogo um dos principais empecilhos a um Governo islamita, embora neste país, capital mundial das teorias conspiratórias, muito tenha se falado no último ano sobre um hipotético pacto entre a Irmandade Muçulmana e o Exército para viverem em paz mutuamente.

Embora parecesse que o caminho estava aberto para que os islamitas implantassem suas reformas, o fato é que outra batalha foi travada nos tribunais para deter o avanço da maré verde, a cor do islã.

Em junho, a Corte Constitucional ordenou a dissolução do Parlamento ao invalidar o pleito legislativo, por considerar que os partidos não respeitaram a lei eleitoral.

Em paralelo, a Assembleia Constituinte, saída do Parlamento e dominada pelos islamitas, também parecia prestes a ser dissolvida nos tribunais até que, em uma nova reviravolta, Mursi emitiu um decreto no final de novembro que blindava seus poderes e tornava inapeláveis suas decisões perante a Justiça.

Mursi justificou esta decisão para evitar que a redação da Constituição se atrasasse ainda mais e garantir a eleição de uma nova Câmara Baixa do Parlamento, o que não conseguiu aplacar a ira de laicos e revolucionários, que tomaram a Praça Tahrir do Cairo para protestar contra 'o novo faraó'.

Quase dois anos depois da revolução que derrubou Mubarak, 2012 acaba com um referendo sobre a nova Carta Magna - redigida por uma assembleia majoritariamente islamita -, um país mais polarizado que nunca entre islamitas e laicos, e uma população farta de não ver melhoras em sua vida diária. EFE

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Cairo - O islamita Mohammed Mursi se tornou em junho o primeiro presidente do Egito eleito democraticamente e, após tirar os militares do poder, agora tenta endireitar o rumo de um país ainda cambaleante e profundamente dividido por suas últimas decisões.

Poucos poderiam imaginar no início de 2012 que este homem de pouco carisma e saído do aparelho da Irmandade Muçulmana fosse se transformar no chefe de Estado do país.

De fato, o primeiro candidato eleito para representar a Irmandade foi o empresário islamita Khairat Shater, que teve que abrir passagem para Mursi após ser desqualificado da corrida presidencial em abril.

Antes, a Irmandade Muçulmana havia triunfado com grande maioria nos pleitos legislativos, que aconteceram ao longo de um interminável e intrincado processo entre o final de 2011 e o início de 2012.

A vitória do grupo islamita nas parlamentares suscitou as suspeitas de alguns, que temeram um controle total por parte da Irmandade Muçulmana de todos os níveis de poder se chegasse à presidência.

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Entre todos os candidatos possíveis, o Egito se decidiu no primeiro turno pela opção islâmica, representada por Mursi, e pela saudade da estabilidade do antigo regime, personificada no general Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro de Mubarak.

Ironias do destino, após uma revolução, o país não era capaz de safar-se das forças antagônicas que tradicionalmente tinham disputado o poder: o Exército e o islã político.


Desta maneira, entre os dias 16 e 17 de junho, um país com o coração dividido foi às urnas para o turno final das eleições que deram o triunfo a Mursi com 51% dos votos, contra 49% de Shafiq.

Seus oponentes duvidavam que este engenheiro, de origem camponesa, fosse capaz de se transformar no presidente forte que o país precisava para promover reformas e impor-se à Junta Militar, que parecia querer perpetuar-se no poder.

No entanto, um mês após jurar o cargo no final de junho, Mursi surpreendeu ao remodelar a cúpula militar e aposentar os generais integrantes do Conselho Supremo das Forças Armadas.

Desta maneira, ficava fora de jogo um dos principais empecilhos a um Governo islamita, embora neste país, capital mundial das teorias conspiratórias, muito tenha se falado no último ano sobre um hipotético pacto entre a Irmandade Muçulmana e o Exército para viverem em paz mutuamente.

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Em junho, a Corte Constitucional ordenou a dissolução do Parlamento ao invalidar o pleito legislativo, por considerar que os partidos não respeitaram a lei eleitoral.

Em paralelo, a Assembleia Constituinte, saída do Parlamento e dominada pelos islamitas, também parecia prestes a ser dissolvida nos tribunais até que, em uma nova reviravolta, Mursi emitiu um decreto no final de novembro que blindava seus poderes e tornava inapeláveis suas decisões perante a Justiça.

Mursi justificou esta decisão para evitar que a redação da Constituição se atrasasse ainda mais e garantir a eleição de uma nova Câmara Baixa do Parlamento, o que não conseguiu aplacar a ira de laicos e revolucionários, que tomaram a Praça Tahrir do Cairo para protestar contra 'o novo faraó'.

Quase dois anos depois da revolução que derrubou Mubarak, 2012 acaba com um referendo sobre a nova Carta Magna - redigida por uma assembleia majoritariamente islamita -, um país mais polarizado que nunca entre islamitas e laicos, e uma população farta de não ver melhoras em sua vida diária. EFE

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