Militares comandam economia na Venezuela, afirmam analistas
A tendência inclui a linguagem cotidiana do governo de Nicolás Maduro, que chegou à Presidência substituindo o falecido "Comandante Supremo" Hugo Chávez
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2014 às 15h18.
Caracas - A designação de militares para postos importantes do governo venezuelano abriu um debate sobre a tomada progressiva do poder por parte dos militares nas áreas econômica e de segurança cidadã, as duas mais questionadas do governo chavista.
"Os militares estão controlando claramente a parte econômica, a inteligência e as armas. Estão em 25% dos ministérios (...) Os homens com mais poder no país têm uniforme militar. Há uma tomada de poder por parte dos militares", declarou à AFP Rocío San Miguel, diretora da ONG Control Ciudadano.
De embaixadores, governadores e diretores de universidades a um canal de televisão militar, passando por empresas de construção ou organismos encarregados controlar os preços; a lista da militarização da política venezuelana pode ser extensa.
A tendência inclui a linguagem cotidiana do governo de Nicolás Maduro , que chegou à Presidência substituindo o falecido "Comandante Supremo" Hugo Chávez .
Os termos "guerra econômica", "batalhas", "ofensivas" e "combates" são aplicados pelo presidente e seus ministros a cada ato político, econômico ou social.
Na história democrática venezuelana, as Forças Armadas foram consideradas uma instituição prestigiada no país, dedicada à defesa. Mas a partir da eleição como presidente de Chávez, em 1998, os militares começaram a ocupar cargos que normalmente eram dedicados aos civis. Com isso, os questionamentos sobre o papel das Forças Armadas começaram a surgir.
Esta é uma prática que Maduro estendeu ao seu governo e, com frequência, ele é visto acompanhado por militares. O jornal local El Nacional calculou em 368 o número de militares que foram designados pelo presidente para ocupar postos públicos nos nove meses transcorridos desde sua chegada à Presidência, em abril de 2013.
Para San Miguel, não se pode falar de uma "jogada política de Maduro". A especialista em matéria militar conclui que, definitivamente, trata-se da "efetivação real do poder que possuem os promovidos da intentona militar do 4F (o golpe frustrado de fevereiro de 1992 liderado por Chávez) e que hoje realmente controlam o país".
Militares em toda parte
Os temas econômicos concentram o avanço dos militares, o último deles na semana passada, quando o general do Exército Marco Torres foi designado para o Ministério das Finanças, que se fundiu com o dos Bancos Públicos. Torres substituiu o civil Nelson Merentes, um matemático que retorna ao Banco Central da Venezuela (BCV).
Também é membro das Forças Armadas o ministro do Transporte Aquático e Terrestre, Hebert García Plaza, que dirige também o Órgão Superior da Economia, responsável por aplicar as reduções forçadas de preços no âmbito da ofensiva econômica do governo contra a inflação e a "guerra econômica da burguesia".
Na lista de ministros militares ativos ou na reserva aparecem os de Alimentação, Indústria, Energia Elétrica e, obviamente, Defesa.
O ministro de Interior, Justiça e Paz, Miguel Rodríguez, que tem a difícil tarefa de reduzir a taxa de homicídios, que oscila entre 39 e 79 para cada 100.000 habitantes, segundo o governo e ONGs, também é militar.
A metade dos governadores do país (11 de 23), os encarregados dos serviços de inteligência, o diretor da Universidade sobre temas de Segurança e vários embaixadores em destinos importantes pertencem às Forças Armadas, sem esquecer o número dois do chavismo e presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.
"Os militares têm sob sua responsabilidade a execução da política econômica do país", sustenta o analista em temas militares Carlos Hernández.
São os do 4F
Às vésperas do Ano Novo, Maduro promoveu um grupo de militares da reserva para cargos do governo e que acompanharam o falecido Hugo Chávez nas revoltas militares de 1992.
"Que coisas da vida que me tocaram (...) dar este passo de justiça com os valentes soldados do 4 de fevereiro e do 27 de novembro do ano de 1992!", exclamou.
Entre eles, estavam Cabello e os governadores dos estados de Zulia, tenente-coronel Francisco Arias Cárdenas, e de Guárico, capitão Ramón Rodríguez Chacín.
Para aumentar a influência militar, o governo criou a Televisora de la Fuerza Armada (TV FANB), além de um banco, uma construtora, uma emissora de rádio e uma empresa agrícola, todas comandadas por integrantes das Forças Armadas.
O general de divisão da reserva Fernando Ochoa Antich, ministro da Defesa do presidente social-democrata Carlos Andrés Pérez durante as tentativas chavistas de tomar o poder, em 1992, assegura que no governo estão no comando, "em sua maioria, oficiais que estiveram envolvidos nos golpes militares e se mantiveram ao lado de Hugo Chávez".
Ochoa Antich considera que Maduro precisa garantir o vínculo com os militares por dois motivos. O primeiro motivo é reforçar sua liderança, para não ser visto como alguém "que chegou lá apenas porque foi escolhido por Chávez", principalmente, depois de um triunfo nas eleições presidenciais de abril de 2013 com apenas 1,5% de vantagem.
A segunda razão citada pelo especialista é fazer que os "os venezuelanos relacionem o governo às Forças Armadas, para que não apoiem os militares, caso queiram interferir no processo político".
Caracas - A designação de militares para postos importantes do governo venezuelano abriu um debate sobre a tomada progressiva do poder por parte dos militares nas áreas econômica e de segurança cidadã, as duas mais questionadas do governo chavista.
"Os militares estão controlando claramente a parte econômica, a inteligência e as armas. Estão em 25% dos ministérios (...) Os homens com mais poder no país têm uniforme militar. Há uma tomada de poder por parte dos militares", declarou à AFP Rocío San Miguel, diretora da ONG Control Ciudadano.
De embaixadores, governadores e diretores de universidades a um canal de televisão militar, passando por empresas de construção ou organismos encarregados controlar os preços; a lista da militarização da política venezuelana pode ser extensa.
A tendência inclui a linguagem cotidiana do governo de Nicolás Maduro , que chegou à Presidência substituindo o falecido "Comandante Supremo" Hugo Chávez .
Os termos "guerra econômica", "batalhas", "ofensivas" e "combates" são aplicados pelo presidente e seus ministros a cada ato político, econômico ou social.
Na história democrática venezuelana, as Forças Armadas foram consideradas uma instituição prestigiada no país, dedicada à defesa. Mas a partir da eleição como presidente de Chávez, em 1998, os militares começaram a ocupar cargos que normalmente eram dedicados aos civis. Com isso, os questionamentos sobre o papel das Forças Armadas começaram a surgir.
Esta é uma prática que Maduro estendeu ao seu governo e, com frequência, ele é visto acompanhado por militares. O jornal local El Nacional calculou em 368 o número de militares que foram designados pelo presidente para ocupar postos públicos nos nove meses transcorridos desde sua chegada à Presidência, em abril de 2013.
Para San Miguel, não se pode falar de uma "jogada política de Maduro". A especialista em matéria militar conclui que, definitivamente, trata-se da "efetivação real do poder que possuem os promovidos da intentona militar do 4F (o golpe frustrado de fevereiro de 1992 liderado por Chávez) e que hoje realmente controlam o país".
Militares em toda parte
Os temas econômicos concentram o avanço dos militares, o último deles na semana passada, quando o general do Exército Marco Torres foi designado para o Ministério das Finanças, que se fundiu com o dos Bancos Públicos. Torres substituiu o civil Nelson Merentes, um matemático que retorna ao Banco Central da Venezuela (BCV).
Também é membro das Forças Armadas o ministro do Transporte Aquático e Terrestre, Hebert García Plaza, que dirige também o Órgão Superior da Economia, responsável por aplicar as reduções forçadas de preços no âmbito da ofensiva econômica do governo contra a inflação e a "guerra econômica da burguesia".
Na lista de ministros militares ativos ou na reserva aparecem os de Alimentação, Indústria, Energia Elétrica e, obviamente, Defesa.
O ministro de Interior, Justiça e Paz, Miguel Rodríguez, que tem a difícil tarefa de reduzir a taxa de homicídios, que oscila entre 39 e 79 para cada 100.000 habitantes, segundo o governo e ONGs, também é militar.
A metade dos governadores do país (11 de 23), os encarregados dos serviços de inteligência, o diretor da Universidade sobre temas de Segurança e vários embaixadores em destinos importantes pertencem às Forças Armadas, sem esquecer o número dois do chavismo e presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.
"Os militares têm sob sua responsabilidade a execução da política econômica do país", sustenta o analista em temas militares Carlos Hernández.
São os do 4F
Às vésperas do Ano Novo, Maduro promoveu um grupo de militares da reserva para cargos do governo e que acompanharam o falecido Hugo Chávez nas revoltas militares de 1992.
"Que coisas da vida que me tocaram (...) dar este passo de justiça com os valentes soldados do 4 de fevereiro e do 27 de novembro do ano de 1992!", exclamou.
Entre eles, estavam Cabello e os governadores dos estados de Zulia, tenente-coronel Francisco Arias Cárdenas, e de Guárico, capitão Ramón Rodríguez Chacín.
Para aumentar a influência militar, o governo criou a Televisora de la Fuerza Armada (TV FANB), além de um banco, uma construtora, uma emissora de rádio e uma empresa agrícola, todas comandadas por integrantes das Forças Armadas.
O general de divisão da reserva Fernando Ochoa Antich, ministro da Defesa do presidente social-democrata Carlos Andrés Pérez durante as tentativas chavistas de tomar o poder, em 1992, assegura que no governo estão no comando, "em sua maioria, oficiais que estiveram envolvidos nos golpes militares e se mantiveram ao lado de Hugo Chávez".
Ochoa Antich considera que Maduro precisa garantir o vínculo com os militares por dois motivos. O primeiro motivo é reforçar sua liderança, para não ser visto como alguém "que chegou lá apenas porque foi escolhido por Chávez", principalmente, depois de um triunfo nas eleições presidenciais de abril de 2013 com apenas 1,5% de vantagem.
A segunda razão citada pelo especialista é fazer que os "os venezuelanos relacionem o governo às Forças Armadas, para que não apoiem os militares, caso queiram interferir no processo político".