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#MeToo ressurge no Egito após prisão de blogueiras por vídeos no TikTok

Nas últimas semanas, seis egípcias foram condenadas por "incitar a libertinagem" e "violar a moral" por causa de vídeos divulgados na rede social chinesa

Egípcias são presas: ONGs denunciam que as liberdades foram seriamente restringidas no Egito desde que Abdel Fatah al Sisi assumiu o poder, em 2014 (Farid Farid/AFP)

Egípcias são presas: ONGs denunciam que as liberdades foram seriamente restringidas no Egito desde que Abdel Fatah al Sisi assumiu o poder, em 2014 (Farid Farid/AFP)

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AFP

Publicado em 2 de agosto de 2020 às 16h14.

A prisão de jovens influenciadoras no Egito no final de julho trouxe à tona a disparidade no tratamento das mulheres, condenadas rapidamente por publicações online, enquanto o movimento #MeToo denuncia que as agressões sexuais raramente vão a julgamento.

Manar Samy foi condenada a três anos de prisão na quarta-feira por "incitar a libertinagem" por causa dos vídeos que postou na rede social TikTok, onde dança e canta "covers" de músicas famosas.

Esta condenação ocorre alguns dias após outro tribunal condenar cinco mulheres egípcias a dois anos de prisão por violar a moral, também devido a publicações no TikTok.

Trata-se de "mulheres, muito jovens, todas exercem seu direito à liberdade de expressão online", afirmou a ONG para a proteção das libertades digitais Access Now.

De acordo com grupos de defesa dos direitos humanos, as liberdades foram seriamente restringidas no Egito desde que Abdel Fatah al Sisi assumiu o poder, em 2014.

Muitos atores, acadêmicos, blogueiros, jornalistas, dissidentes, advogados e ativistas foram presos nos últimos anos. Agora, juntam-se a eles os "influencers".

"Não tem nada a ver com defender os valores da sociedade. É sobre controlar a Internet", denunciou Marwa Fatafta, da ONG Access Now, afirmando que "a repressão online também se estende a atividades não políticas ".

As autoridades egípcias exercem há vários anos um controle mais rigoroso da Internet, sob leis que lhes permitem bloquear sites considerados uma ameaça à segurança nacional e monitorar as contas com mais de 5.000 seguidores.

Anonimato

Embora as redes sociais no Egito, como em outros lugares, sirvam como uma plataforma virtual para várias interpretações da moralidade, agora as jovens egípcias também as usam para falar sobre o assédio ou a agressão sexual de que são vítimas.

Este é o caso de Menna Abdel Aziz, de 17 anos. Ela publicou em maio um vídeo no TikTok, no qual aparece com o rosto coberto de hematomas e afirma ter sido estuprada em grupo.

As autoridades reconheceram a existência do estupro, mas também ordenaram a prisão dela por "promover a libertinagem". "Ela cometeu crimes (...) merece ser castigada", disse o procurador-geral.

A Egyptian Initiative for Personal pediu sua liberdade imediata e a retirada de todas as acusações, exigindo que fosse considerada "vítima de estupro e uma sobrevivente".

Seus seis supostos agressores também foram presos e processados pelas mesmas acusações. Segundo o código penal egípcio, o estupro e a agressão sexual podem ser passíveis de prisão perpétua.

Este caso reacendeu o movimento #MeToo entre as egípcias.

Em 8 de julho, o governo aprovou um projeto de lei que mantém o anonimato das pessoas que fizerem denúncias de agressão sexual.

Segundo um estudo da ONU publicado em 2013, mais de 99% das mulheres foram vítimas de assédio no Egito, ou enfrentam diariamente comentários obscenos, inclusive toques.

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