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Merkel e Hollande pedem maior unidade à UE ante migrantes

"É justo agora que precisamos de mais Europa. Precisamos de coragem e coesão, o que a Europa sempre mostrou quando foi necessário", disse Merkel


	O presidente da França, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel: "Não precisamos de menos Europa, e sim de mais Europa. A Europa deve se afirmar, caso contrário veremos o fim da Europa", disse o presidente francês
 (Benoit Tessier/Reuters)

O presidente da França, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel: "Não precisamos de menos Europa, e sim de mais Europa. A Europa deve se afirmar, caso contrário veremos o fim da Europa", disse o presidente francês (Benoit Tessier/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 7 de outubro de 2015 às 15h54.

O presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, pediram nesta quarta-feira em um histórico discurso conjunto ante a Eurocâmara maior unidade à UE para enfrentar a crise de migrantes e a guerra na Síria.

"É justo agora que precisamos de mais Europa. Precisamos de coragem e coesão, o que a Europa sempre mostrou quando foi necessário", disse Merkel lembrando as mudanças que a UE enfrentou desde a queda do Muro, em 1989.

"Não precisamos de menos Europa, e sim de mais Europa. A Europa deve se afirmar, caso contrário veremos o fim da Europa" e o retorno às fronteiras nacionais, disse por sua vez o presidente francês.

Esta foi a primeira vez em que presidentes da França e da Alemanha se dirigiram ao plenário desde 1989, quando o chanceler Helmut Kohl e o presidente François Mitterand discursaram semanas após a queda do muro de Berlim.

Diante dos eurodeputados, Hollande estimou que a Europa demorou para medir a importância da crise dos refugiados.

"A Europa demorou para compreender que as tragédias do Oriente Médio e da África teriam consequências para ela", disse o presidente.

A UE enfrenta a pior crise migratória em décadas, que ameaça sua unidade e várias políticas comuns sobre as quais repousam sua construção.

Diante da chegada maciça de solicitantes de asilo, os membros do bloco reagiram de maneira diferente. A Hungria construiu um muro em sua fronteira com a Sérvia e depois cercas na fronteira com a Croácia.

Enquanto isso, a Alemanha recebeu de braços abertos centenas de milhares de refugiados sírios. De janeiro a setembro recebeu 577.000 pedidos de asilo e o governo estima que chegarão a um milhão neste ano.

Regras obsoletas

A Comissão Europeia propôs um plano para dividir entre os países membros do bloco até 160.000 refugiados, mas se chocou com a reticência de vários Estados membros, e ele foi aprovado recentemente, após várias semanas de negociações e pressões.

O plano estava destinado a ajudar a Itália e a Grécia, literalmente sobrecarregados pela chegada em massa de migrantes por mar e por terra. As regras de asilo comunitárias supõem que os pedidos de asilo serão tratados pelos países nos quais os demandantes chegarem em primeiro lugar.

Para Merkel estas regras são obsoletas. "Sejamos francos, o processo de Dublin (como estas regras são conhecidas) em sua forma atual é obsoleto", disse Merkel declarando-se a favor de um "novo procedimento" para dividir igualmente os solicitantes de asilo entre países europeus.

Muitos países se protegeram com estas regras para rejeitar em um primeiro momento a divisão de solicitantes de asilo que era pedida pela Comissão, e apenas recentemente a aceitaram, quando o caráter excepcional da medida ficou registrado nas atas.

Sofrimento

Antes que Hollande e Merkel pronunciassem seus discursos, o rei Felipe VI da Espanha, que também havia sido convidado a discursar ante o plenário, fez um pedido de solidariedade para os refugiados.

"Estamos assustados com o sofrimento daqueles que vêm à Europa fugindo da violência e do fanatismo", disse.

"São centenas de milhares os refugiados que perseguem um projeto de esperança, que veem na União um território de paz, prosperidade e justiça", insistiu.

"Não podemos decepcioná-los", disse o rei ao fim de seu discurso, destacando que não podia "deixar de me referir explicitamente ao drama que está ocorrendo atualmente em nossas fronteiras".

A UE deve "responder com generosidade, solidariedade e responsabilidade". Deve tratar "as causas do êxodo destas pessoas forçadas" a deixar seus países, acrescentou.

Operação marítima

As intervenções ante a Eurocâmara coincidem com o lançamento da fase mais ofensiva da UE contra os traficantes de seres humanos na costa da Líbia.

São seis navios de guerra europeus - italiano, francês, alemão, britânico e espanhol - com 1.300 marinheiros podem abordar à força, inspecionar, confiscar e destruir em águas internacionais os navios utilizados pelos traficantes.

A operação impõe, assim, um bloqueio em toda a costa noroeste da Líbia, da fronteira com a Tunísia até a Sirte, com exceção da zona diante de Trípoli que ficará aberta para evitar exercer de fato um bloqueio marítimo.

Esta porta é o principal ponto de partida de milhares de refugiados, mas também de cidadãos de diferentes países africanos que buscam uma vida melhor embarcando toda semana em embarcações precárias com destino à Europa.

Até agora, as operações europeias se limitavam à vigilância à distância das redes de traficantes.

Pela outra rota utilizada pelos refugiados sírios e iraquianos o fluxo não para. Ela começa na costa turca com um cruzamento através do Egeu até a Grécia e depois continua por terra até o norte através dos Bálcãs para entrar na UE pela Hungria e pela Croácia.

Entre terça e esta quarta-feira três trens partiram da fronteira sérvia até a Hungria em um trajeto no qual atravessa a Croácia. As autoridades privilegiam este meio de transporte para ser mais eficaz: um trem pode transportar até mil pessoas.

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