Angela Merkel: a Turquia deve usar o trunfo da política migratória para pressionar Merkel (AFP)
EFE
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 09h13.
Istambul - A chanceler alemã, Angela Merkel, se reúne nesta quinta-feira na Turquia com o presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, para uma tensa rodada de negociações sobre a cooperação militar na Síria, os refugiados e as acusações de Ancara de que a Alemanha apoia supostos golpistas.
Oficialmente, o tema principal na agenda dos líderes é "a cooperação para resolver a crise dos refugiados".
Merkel foi quem impulsionou o acordo assinado pela União Europeia (UE) em março do ano passado no qual a Turquia se comprometia a receber refugiados deportados da Europa em troca de concessões políticas e econômicas.
Erdogan denunciou em várias ocasiões que a UE descumpre seu compromisso de não exigir visto a turcos que queiram viajar para território comunitário e que os seis bilhões de euros estipulados não estão chegando da forma combinada.
Segundo alguns analistas citados pela agência "Anadolu", a Turquia usará o trunfo da política migratória para pressionar Merkel, que poderia ter sua campanha prejudicada com uma nova onda de refugiados antes das eleições gerais alemãs, em setembro.
A Alemanha espera o sinal verde de Ancara para realizar investimentos em uma pista de decolagem e um escritório de comando na base aérea de Incirlik, no sul da Turquia, da qual saem seus caças Tornado para sobrevoar Síria e Iraque em missão de vigilância e coleta de dados, informa a "Anadolu".
Segundo o jornal turco "Hürriyet", que cita veículos de imprensa alemães, a Turquia pede em troca que a Alemanha entregue todas as fotografias aéreas que capturou, não só as relacionadas com o grupo terrorista Estado Islâmico (EI), mas também com as milícias curdas da Síria.
A Turquia combate estas milícias, às quais classifica como "terroristas", enquanto elas estão respaldadas pelo resto dos países na coalizão antijihadista, liderada pelos Estados Unidos, que as consideram seus aliados na luta contra o EI.
Outro ponto polêmico é o pedido de asilo apresentado por vários militares turcos estacionados em instalações da Otan na Alemanha, e que Ancara acusa de serem membros da confraria do clérigo islamita Fethullah Gülen, suposto responsável pelo fracassado golpe de Estado de julho do ano passado.
O ministro da Defesa da Turquia, Fikri Isik, já anunciou que seria "inaceitável" a Alemanha dar seguimento a essas solicitações.
O próprio Erdogan chegou a acusar a Alemanha de acolher terroristas e golpistas, enquanto Berlim criticou a onda de detenções, demissões e fechamento de veículos de imprensa na Turquia pela perseguição aos supostos golpistas.