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Mensagem do papa indica novo tom sobre gays e aborto

Francisco disse que a Igreja precisa abandonar sua obsessão com estruturas e regras, e deixar de colocar as pessoas em guetos

Papa Francisco cumprimenta fiéis: a declaração forçará a uma mudança de tom por parte de párocos, mas não deve resultar em uma mudança estrutural da igreja (Vincenzo Pinto/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2013 às 19h38.

Cidade do Vaticano e Paris - Uma histórica entrevista do papa Francisco obrigará católicos conservadores a recalibrar a forma como lidam com a homossexualidade, o aborto e a contracepção, mas não deve prenunciar mudanças doutrinárias sísmicas, segundo especialistas em religião .

Em entrevista na quinta-feira à revista jesuíta italiana Civiltà Cattolica, o papa disse que a Igreja precisa abandonar sua obsessão com estruturas, regras e regulamentos, e deixar de colocar as pessoas em guetos.

Mas, nesta sexta-feira, Francisco discretamente reafirmou a oposição da Igreja ao aborto, em um discurso a médicos católicos, falando daqueles "injustamente condenados ao aborto".

No entanto, a entrevista do pontífice argentino, primeiro papa não-europeu em 1.300 anos, forçará a uma mudança de tom por parte de párocos habituados a recriminar homossexuais e mulheres que abortam.

O papa alertou, por exemplo, que o confessionário "não é uma câmara de tortura" e que sem misericórdia "mesmo o edifício moral da Igreja tende a cair como um castelo de cartas".

Um prelado graduado no Vaticano disse que esse ponto de vista será "muito desafiador para todos os que estiveram tão forte e minuciosamente investidos na antiga perspectiva".

"Todos, especialmente bispos e conferências episcopais, vão sentir a necessidade de recalibrar suas prioridades, seu estilo, seu tom", acrescentou o religioso.


"Nós costumamos colocar as questões morais à frente da fé, e não ao contrário", admitiu outro prelado, subdiretor de um importante departamento do Vaticano. "O que o papa está dizendo é que as regras são uma consequência da fé. A fé não é uma consequência das regras. Não se pode substituir a fé por moralismo." Em outras palavras, disse outra figura do Vaticano, os católicos devem continuar ouvindo sermões contra o aborto, mas não mais sermões espezinhando mulheres que podem ter abreviado uma gravidez por causa de uma situação econômica ou social.

Francisco, que tem feito da misericórdia pelos pobres e sofredores uma marca do seu pontificado, iniciado há cinco meses, disse que a Igreja precisará encontrar um "novo equilíbrio" entre a preservação das suas regras e a prática da misericórdia.

Isso poderá desorientar católicos conservadores, especialmente em países mais ricos, onde a Igreja se tornou muito polarizada a respeito de questões como o aborto, ao mesmo tempo em que foi assolada por escândalos sexuais e polêmicas envolvendo o celibato clerical e a ordenação de mulheres.

Até agora, Francisco oferece um forte contraste em relação ao seu austero antecessor, Bento 16, um teólogo alemão conservador que renunciou em fevereiro.

"Até seis meses atrás, o lado conservador se sentia invulnerável, completamente seguro", disse o teólogo Massimo Faggioli, radicado nos Estados Unidos. "Agora, eles entendem que todo o quadro mudou. Há um grande processo de ajuste pela frente."

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Cidade do Vaticano e Paris - Uma histórica entrevista do papa Francisco obrigará católicos conservadores a recalibrar a forma como lidam com a homossexualidade, o aborto e a contracepção, mas não deve prenunciar mudanças doutrinárias sísmicas, segundo especialistas em religião .

Em entrevista na quinta-feira à revista jesuíta italiana Civiltà Cattolica, o papa disse que a Igreja precisa abandonar sua obsessão com estruturas, regras e regulamentos, e deixar de colocar as pessoas em guetos.

Mas, nesta sexta-feira, Francisco discretamente reafirmou a oposição da Igreja ao aborto, em um discurso a médicos católicos, falando daqueles "injustamente condenados ao aborto".

No entanto, a entrevista do pontífice argentino, primeiro papa não-europeu em 1.300 anos, forçará a uma mudança de tom por parte de párocos habituados a recriminar homossexuais e mulheres que abortam.

O papa alertou, por exemplo, que o confessionário "não é uma câmara de tortura" e que sem misericórdia "mesmo o edifício moral da Igreja tende a cair como um castelo de cartas".

Um prelado graduado no Vaticano disse que esse ponto de vista será "muito desafiador para todos os que estiveram tão forte e minuciosamente investidos na antiga perspectiva".

"Todos, especialmente bispos e conferências episcopais, vão sentir a necessidade de recalibrar suas prioridades, seu estilo, seu tom", acrescentou o religioso.


"Nós costumamos colocar as questões morais à frente da fé, e não ao contrário", admitiu outro prelado, subdiretor de um importante departamento do Vaticano. "O que o papa está dizendo é que as regras são uma consequência da fé. A fé não é uma consequência das regras. Não se pode substituir a fé por moralismo." Em outras palavras, disse outra figura do Vaticano, os católicos devem continuar ouvindo sermões contra o aborto, mas não mais sermões espezinhando mulheres que podem ter abreviado uma gravidez por causa de uma situação econômica ou social.

Francisco, que tem feito da misericórdia pelos pobres e sofredores uma marca do seu pontificado, iniciado há cinco meses, disse que a Igreja precisará encontrar um "novo equilíbrio" entre a preservação das suas regras e a prática da misericórdia.

Isso poderá desorientar católicos conservadores, especialmente em países mais ricos, onde a Igreja se tornou muito polarizada a respeito de questões como o aborto, ao mesmo tempo em que foi assolada por escândalos sexuais e polêmicas envolvendo o celibato clerical e a ordenação de mulheres.

Até agora, Francisco oferece um forte contraste em relação ao seu austero antecessor, Bento 16, um teólogo alemão conservador que renunciou em fevereiro.

"Até seis meses atrás, o lado conservador se sentia invulnerável, completamente seguro", disse o teólogo Massimo Faggioli, radicado nos Estados Unidos. "Agora, eles entendem que todo o quadro mudou. Há um grande processo de ajuste pela frente."

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