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McKinney, de NY: parques são investimento

O arquiteto Charles McKinney é diretor do departamento de parques da cidade de Nova York e, nos últimos 30 anos, ajudou a transformar a paisagem urbana da maior cidade dos Estados Unidos. Ele é responsável por 17.000 parques e áreas de lazer que ajudam os moradores a ter mais contato com a natureza e, com […]

MCKINNEY: há 30 anos à frente dos parques, ele ajudou a fazer de Nova York uma cidade mais agradável – e produtiva  / Divulgação

MCKINNEY: há 30 anos à frente dos parques, ele ajudou a fazer de Nova York uma cidade mais agradável – e produtiva / Divulgação

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Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2016 às 17h32.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h08.

O arquiteto Charles McKinney é diretor do departamento de parques da cidade de Nova York e, nos últimos 30 anos, ajudou a transformar a paisagem urbana da maior cidade dos Estados Unidos. Ele é responsável por 17.000 parques e áreas de lazer que ajudam os moradores a ter mais contato com a natureza e, com isso, tornam a megalópole mais saudável. McKinney esteve em São Paulo para participar de um evento sobre espaços públicos organizado pelo Sesc e pela Escola da Cidade. A EXAME Hoje, disse que momentos como este que o país atravessa são ideias para repensar a organização das cidades — e, de um jeito barato, fazer as pessoas felizes e produtivas.

Parques e áreas verdes não costumam ser prioridades para os prefeitos brasileiros. Com a crise política e econômica que o país vive, o tema ficou ainda mais em segundo plano. Faz sentido pensar em parques neste momento?
Parques são um investimento — e são a coisa mais barata que se pode fazer. Por eles serem bonitos e agradáveis, seu entorno melhora e passa a atrair mais investimentos, as pessoas da região podem cobrar mais caro o aluguel. E é fundamental que as pessoas tenham liberdade para propor novos usos para o espaço — são elas que moram na cidade, que a conhecem, então, sempre estão surgindo ideias ótimas. O Highline [parque suspenso construído em um antigo viaduto] existe não por causa de uma ideia do governo, mas por causa da sugestão de um cidadão.

O senhor atua como designer urbano em Nova York há mais de 30 anos. O que mudou ao longo dessas décadas?
Os sonhos para a cidade são desenhados pelo prefeito. Michael Bloomberg, meu primeiro chefe, era um grande entusiasta da qualidade de vida. Ele dizia: vamos ter mais 1 milhão de pessoas vivendo aqui no futuro. Vamos nos preparar para elas: fazer parques, boas escolas e linhas de metrô. Se elas tiverem qualidade de vida, seremos competitivos, e essas pessoas vão dar vida à cidade, vão pagar mais impostos. Meu prefeito atual [Bill de Blasio] está focado nos espaços públicos de recreação e em diminuir a velocidade da cidade para que nenhum pedestre morra no trânsito. Os sonhos mudam a cada quatro ou oito anos — depende de quem for o sonhador oficial.

Saber que bons parques são necessários é consenso desde sempre?
O Central Park foi construído porque havia o consenso de que Nova York cresceria tanto que não haveria ar puro, que seria densa demais e não haveria escapatória. E, quando você está andando na rua, tenso por causa do trânsito ou do trabalho, é bom ter um lugar para espairecer. Isso foi em 1870.

Nas grandes cidades brasileiras temos um enorme déficit de praças e espaços públicos pensados para crianças. Como estimular que elas cresçam em contato com a rua?
A rua não é o melhor lugar para as crianças brincarem, e nós temos de promover lugares seguros e verdes onde as crianças possam ficar livres para brincar e correr. Outra opção é caminhar até a escola, por exemplo, pois é importante para as crianças se exercitarem e para o desenvolvimento social delas. Para os pais, também é uma oportunidade de passar mais tempo com os filhos. Nós temos de fazer com que essa caminhada seja prazerosa, e essas experiências são impossíveis de ocorrer senão a pé. Acho que o carro isola as pessoas, que ficam menos cooperativas e menos interessadas em compartilhar.

Como criar esses espaços de lazer numa cidade que tem poucos terrenos vazios e poucas áreas verdes, como São Paulo?
Isso é diferente em cada bairro. Mas por que não usar estacionamentos? Muitas vezes, se usa a desculpa de não ter dinheiro ou não ter lugar para ir. Mas a única coisa que é preciso fazer é sair para olhar a cidade e descobrir que os locais podem ser mais bem aproveitados. Depois de escolhido o lugar, uma boa alternativa para financiar o parque é encontrar parceiros e identificar que empresas teriam interesse em atrair mais pessoas para aquela área.

Por outro lado, há áreas livres que são subaproveitadas ou até abandonadas pelos moradores. Existe alguma receita para fazer com que as áreas sejam ocupadas?
Ter uma razão para ir lá. Feiras de rua, música, arte — tem de ter alguma coisa. Por que não uma quadra de futebol? Ou uma pista de bicicleta? Se houver atividades e se o espaço for seguro e limpo, as pessoas vão frequentá-lo e aparecerá alguém com um carrinho de bebidas ou de sorvete. É importante criar o ambiente e cuidar dele. O resto surge de forma orgânica.

Em várias cidades do Brasil, avenidas estão sendo fechadas para carros nos fins de semana, tentando suprir a falta de espaços públicos. Esse tipo de iniciativa traz tantos benefícios quanto um parque?
As atividades de rua e de parque proporcionam diferentes benefícios. As pessoas usam a rua porque é tudo que elas têm. Ter um lugar para socializar, encontrar pessoas, conhecer os amigos dos nossos amigos, isso faz de nós mais felizes. Mas é importante ter natureza. Com que frequência você vê borboletas, pássaros ou sapos? Esse contato é importante, cria empatia. Se as pessoas crescem com déficit de natureza, elas se importam menos com o mundo à sua volta.

(Camila Almeida)

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