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Marin é condenado em seis das sete acusações de corrupção

A pena ainda não foi imposta pela juíza Pamela Chen, o que deve acontecer somente depois do Natal

José Maria Marin: o cartola brasileiro e seus pares cumprem prisão domiciliar em Nova York (REUTERS/Jorge Adorno/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 22 de dezembro de 2017 às 17h11.

Última atualização em 22 de dezembro de 2017 às 17h11.

O ex-presidente da CBF José Maria Marin, de 85 anos, foi condenado nesta sexta-feira na Corte do Distrito Leste de Nova York, nos Estados Unidos. A pena ainda não foi imposta pela juíza Pamela Chen, o que deve acontecer somente depois do Natal.

Junto com o brasileiro, outro cartola também foi condenado: Juan Angel Napout, ex-presidente da Conmebol e ex-vice-presidente da Fifa. Manuel Burga, ex-presidente da Federação Peruana de Futebol, ainda não teve o veredicto de sue caso anunciado.

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O trio responde a 13 denúncias, transformadas em 7 acusações. Há três semanas, o júri norte-americano, composto por 12 pessoas, delibera sobre o assunto depois de ouvir acusações e defesas dos réus. O cartola brasileiro e seus pares cumprem prisão domiciliar em Nova York. Todos eles estavam no tribunal nesta sexta-feira.

Marin foi condenado na última sessão do tribunal antes do Natal, embora não haja semana de recesso na Corte dos EUA. Ele era acusado de sete crimes: conspiração para recebimento de dinheiro ilícito, conspiração para fraude relativa à Libertadores, conspiração para lavagem de dinheiro relativa à Libertadores, conspiração para fraude relativa à Copa do Brasil, conspiração para lavagem de dinheiro relativa à Copa do Brasil, conspiração para fraude relativa à Copa América e conspiração para lavagem de dinheiro relativa à Copa América. A Justiça dos EUA o acusou formalmente de ter recebido US$ 6,5 milhões desde que assumiu o cargo em 2012.

Na decisão desta sexta em Nova York, o jurado considerou Marin culpado em seis das sete acusações. O dirigente brasileiro foi absolvido da acusação de lavagem de dinheiro da Copa do Brasil. Juan Angel Napout foi considerado culpado em três das cinco acusações.

Quando José Maria Marin foi surpreendido pela polícia em seu luxuoso quarto de hotel, em Zurique, no dia 27 de maio de 2015, recebeu uma recomendação dos agentes que o levaram: a mala que estava preparando era pequena demais. “Faça uma mala maior. Existe o risco de que isso não termine muito cedo”, disse um deles.

Eles sabiam do que falavam. Eram 6h10 da manhã daquela primavera europeia. Não houve chute na porta ou algemas. No luxuoso hotel Baur au Lac de Zurique, uma operação da polícia suíça daria início a uma revolução no futebol, com a prisão de alguns dos mais poderosos dirigentes do esporte em cooperação com o FBI.

Dois anos e meio depois, 41 cartolas foram indiciados e mais de uma dezena de federações viram seus presidentes serem presos por corrupção. No total, a Justiça norte-americana já aplicou mais de US$ 190 milhões em multas. A Fifa, bilionária, foi obrigada a se refundar para não desaparecer e gastou US$ 60 milhões apenas com advogados.

Mas se Marin foi condenado, o julgamento e acordos de delação premiada mostraram de forma inédita as “entranhas do futebol brasileiro”, com revelações sobre como sede de Copas foram compradas, como jogos foram arranjados e como um sistema criminoso penetrou no futebol.

Para investigadores envolvidos no caso, a condenação debilita Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, que tinham conseguido evitar uma prisão. Em ambos os casos citados diante do tribunal, a interpretação é de que eles também foram em parte julgados em suas ausências e que, para a Justiça brasileira, ficará cada vez mais difícil justificar a inexistência de um processo.

Oficialmente, o único condenado por enquanto entre os cartolas brasileiro é Marin, que herdou uma CBF de Ricardo Teixeira repleta de “acordos”. Segundo as investigações, o ex-governador de São Paulo nada fez para acabar com a corrupção. De fato, ele a ampliou e, em apenas dois anos, recebeu mais de US$ 6,5 milhões em propinas relacionadas a Copa do Brasil, Libertadores e Copa América.

Marin se recusou a confessar seus crimes e, assim, passou seis meses preso em uma cadeia em Zurique. Acabou cedendo, em troca da garantia que ficaria em prisão domiciliar nos EUA.

Nesta semana, enquanto aguardava a deliberação do júri, Marin foi visto por pessoas que acompanhavam o processo comendo banana na cafeteria do tribunal, sem cerimônias. Ao longo dos últimos dois anos, ele foi obrigado a buscar mais de R$ 60 milhões em garantias de crédito para sua fiança, para pagar por sua segurança e por um pequeno batalhão de advogados na Suíça, EUA e Brasil.

Para investigadores que conversaram com o Estado, Marin era apenas o elo mais fraco do esquema na CBF. Seu julgamento, segundo esses investigadores, serviu, ainda assim, como uma grande vitrine para o que de fato é o futebol no Brasil: um assunto pessoal de alguns dirigentes.

Os efeitos, mesmo distantes, acabaram se concretizando inclusive para aqueles que conseguiram fugir.

Marco Polo Del Nero, depois de manobrar o estatuto da CBF, continuou a mandar na entidade. Mas foi afastado pela Fifa na semana passada, depois de gravações, evidências e testemunhas terem o apontado como receptor de US$ 6,5 milhões em propinas. Ainda que seus advogados garantam que ele vai se defender, na Fifa não existe qualquer predisposição a aceitar uma volta sua ao futebol.

Ricardo Teixeira, apontado como um dos artífices do esquema de corrupção em denúncias de outros cartolas presos, continua solto. Mas foram as investigações nos EUA que levaram a Espanha a abrir um processo que culminou na prisão de Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, e emitir uma ordem internacional de prisão contra o brasileiro. Foi também o processo que levou Monaco e a França a descobrir depósitos em seu nome, enquanto o cerco também se fecha na Suíça.

O julgamento também acabou revelando cúmplices do esquema montado por 30 anos na CBF. A Rede Globo foi citada como autora de pagamento de propinas, em troca de contratos e a Nike foi acusada de fazer parte de um esquema de propinas no patrocínio da seleção brasileira. Ambos negaram.

No Brasil, o processo nos EUA levou o Senado a instaurar a CPI do Futebol. Mas que teve seu trabalho bombardeado pela bancada da bola, que, nos bastidores, esvaziou o processo. O senador Romero Jucá, que responde a três processos no Supremo Tribunal Federal, foi escolhido como relator da CPI. O presidente do Senado, Renan Calheiros, também atuou para garantir que Del Nero e Teixeira não fossem chamados a depor. Ele teve sua campanha eleitoral em parte financiada pela CBF.

Na América do Sul, renunciaram os presidentes das federações da Colômbia, Venezuela, Peru, Chile e Bolívia. Na América Central, caíram os caudilhos das federações da Costa Rica, Honduras, Guatemala, El Salvador, Nicarágua e Panamá. Argentinos, uruguaios e paraguaios também foram abalados. Na Fifa, Joseph Blatter, Michel Platini, Franz Beckenbauer e outros pilares do poder do futebol hoje fazem parte do passado.

No total, mais de 30 dirigentes admitiram culpa. Alguns chegaram a entregar o anel de noivado de sua mulher entre os itens da fiança. Pelo menos um dos citados cometeu suicídio, enquanto o esporte mais popular do planeta viu seus donos mudarem de mãos.

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