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Maré negra vai encarecer barril de petróleo

Londres - As dificuldades do grupo petroleiro britânico BP em deter a maré negra no Golfo do México suscitam novas interrogações sobre as perfurações em águas profundas, com efeitos possíveis para projetos de exploração, inclusive o do pré-sal no Brasil, e um aumento certo nos custos de extração e, portanto, dos preços do barril. "O […]

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.

Londres - As dificuldades do grupo petroleiro britânico BP em deter a maré negra no Golfo do México suscitam novas interrogações sobre as perfurações em águas profundas, com efeitos possíveis para projetos de exploração, inclusive o do pré-sal no Brasil, e um aumento certo nos custos de extração e, portanto, dos preços do barril.

"O que está acontecendo é algo que afetará a indústria mundial de gás e petróleo e terá, necessariamente um amplo impacto, não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo", disse nesta sexta-feira Tony Hayward, conselheiro delegado do grupo BP, que originou a pior maré negra da história dos Estados Unidos.

Na véspera, ele admitiu ao Financial Times que a BP não tinha "os instrumentos necessários em (sua) caixa de ferramentas".

"Os acontecimentos do Golfo do México demonstraram que perfurar a uma milha (1,6 km) de profundidade, mais 2 milhas na rocha submarina é um pouco como enviar um homem à Lua. A tecnologia para encontrar petróleo a estas profundidades existe (...), mas a tecnologia para administrar um desastre a esta distância, não", disse David Hufton, analista da PVM.

A primeira consequência para a indústria foi a moratória de seis meses decretada pelos Estados Unidos sobre novas perfurações, que adiou vários projetos petroleiros em frente à costa do Alasca.

Seu impacto deveria ser pouco importante. Segundo um estudo de Wood Machenzie, reduziria em 80.000 barris diários a produção mundial em 2011, isto é, menos de 1% do total.

Mas as consequências da catástrofe para o abastecimento devem ir muito além das restrições.

"A incerteza sobre o futuro das perfurações petroleiras em águas profundas é agora considerável nos Estados Unidos e em outros lugares", disse Helen Henton, analista do banco Standard Chartered.

Para o mercado americano, estas dúvidas não são insignificantes. O Golfo do México representa 19% das reservas de petróleo americanas, 80% das quais em águas profundas, e 29% da produção nacional, afirmou.

Segundo a Agência Nacional de Energia, esta região é essencial para assegurar a oferta futura do planeta: deveria fornecer meio milhão de barris diários acima de sua produção atual entre 2008 e 2014.

A catástrofe poderia ter, também, efeitos na exploração de uma jazida ainda mais promissora: as reservas offshore de Brasil, estimadas em 50 bilhões de barris de petróleo presas sob uma espessa camada de sal a 7.000 metros de profundidade.

"A última consequência (da maré negra) será frear o desenvolvimento dos projetos em águas profundas, aumentar os custos de produção, o que fará subir os preços do petróleo a longo prazo", concluiu Henton.

"É surpreendente que os preços do barril não tenham reagido com mais força", emendou Hufton.

A maré negra demonstrou a dificuldade das companhias privadas para ter acesso a novas reservas: distantes das grandes jazidas "fáceis" do Oriente Medio, com exceção do Iraque, devem procurar petróleo em condições cada vez mais perigosas.

"O mundo precisa do aporte do petróleo de águas profundas e os Estados Unidos podem se beneficiar amplamente destes recursos do Golfo do México", disse Hayward.

Também dá argumentos aos defensores do "pico petroleiro", aqueles especialistas convencidos de que a era dos hidrocarbonetos está prestes a terminar.

"A indústria perfura a profundidades tão extremas só porque tem poucas alternativas (...); é um sinal claro da iminência do pico petroleiro", escreveu no jornal The Independant David Strahan, autor de "The last oil shock" (A última crise do petróleo, em tradução livre).

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