Mundo

Mali ameaça jihadista rumo à reconciliação nacional

Mali conseguiu superar neste ano uma das piores crises de sua história recente


	Soldados do Mali: mesmo com toda instabilidade governamental, entre novembro e dezembro do ano passado, o país conseguiu realizar as eleições legislativas
 (PASCAL GUYOT/AFP/Getty Images)

Soldados do Mali: mesmo com toda instabilidade governamental, entre novembro e dezembro do ano passado, o país conseguiu realizar as eleições legislativas (PASCAL GUYOT/AFP/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2013 às 15h43.

Bamaco -  O Mali conseguiu superar neste ano uma das piores crises de sua história recente, decorrentes dos estragos causados pelo golpe de Estado de 22 de março de 2012 e pela ocupação jihadista do norte do país, para retomar o difícil caminho em direção à democrática reconciliação nacional.

O último episódio deste retrocesso foi a acusação oficial e prisão provisória, ocorrida em novembro do ano passado, do general Amadu Haja Sanogo, líder do golpe de Estado que pôs fim ao mandato do então presidente Amadu Tumani Touré e acelerou o colapso das províncias setentrionais.

Sanogo, que se beneficiou pouco depois do levante militar de uma anistia em troca da permissão ao retorno da ordem constitucional, foi acusado de assassinato pela morte de cerca de 20 soldados durante a repressão de um fracassado contra-ataque lançado em abril de 2012.

Mesmo com toda instabilidade governamental, entre novembro e dezembro do ano passado, o país conseguiu realizar as eleições legislativas, consideradas o selo final de uma complicada transição que culminou com a eleição do antigo primeiro-ministro Ibrahim Boubacar Keita como presidente do país no último mês de agosto.

Keita, conhecido por seus seguidores como IBK, se impôs com mais de 70% dos votos, enquanto as eleições contaram com uma participação popular acima de 50%, o maior índice registrado desde 1992, quando foram realizadas as primeiras eleições presidenciais multipartidárias.

Após este impulso, vários setores malineses depositaram em IBK suas esperanças de superar tanto a crise que castiga a população, como os velhos demônios que ciclicamente ameaçam sua estabilidade, as rebeliões tuaregues no norte do país.

"Existe um ambiente de esperança e de volta à normalidade. Apesar de a situação estar longe de ser considerada fácil, achamos que o Mali está agora em um bom caminho", assegurou à Agência Efe Amadu Goita, membro do partido Frente pela Defesa da República (FDR), uma das legendas mais hostis aos militares golpistas.

O ponto de inflexão em direção à normalização da situação também desencadeou a intervenção militar francesa em janeiro deste ano, a chamada "Operação Serval", solicitada pelo então presidente transitório, Dioncounda Traoré, após uma nova ofensiva dos grupos jihadistas que ocupavam o norte do país.


O grupo salafista Ansar al Din, assim como os terroristas Al Qaeda, no Magrebe Islâmico (AQMI), e Jihad, na África Ocidental (MYAO), assumiram o controle das províncias de Gao, Kidal e Timbuktu em junho de 2012, após a expulsão do grupo rebelde tuaregue Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA).

Estes rebeldes tuaregues, que tinham se levantado em armas no início desse ano para reivindicar a independência desta vasta região malinesa, assumiram o controle da parte norte do país graças ao caos e ao vazio de poder que seguiu ao golpe militar de Sanogo.

Após a "Operação Serval", conduzida pela França e apoiada pela Comunidade Econômica de Estados de África Ocidental (Cedeao), o país recebeu a Missão da ONU para a Estabilização do Mali (Minusma), que, por sua vez, acelerou os dispositivos para a realização das eleições.

O desdobramento militar permitiu a progressiva normalização da situação de segurança no norte, embora tenham sidos registrados inúmeros ataques e atentados protagonizados pelos grupos jihadistas.

Entre estas ações, destaca-se o sequestro e assassinato da jornalista da "Radio France International" (RFI) Ghislaine Dopont e do técnico Claude Verlon, registradas no início de novembro em Kidal, cidade sobre a qual os rebeldes tuaregues ainda exercem um grande controle.

Neste contexto, a intervenção também favoreceu a assinatura de um acordo - registrado em meados de junho, em Burkina Faso - entre Bamaco e os grupos rebeldes independentistas, o qual, entre outras coisas, contemplava um cessar-fogo, a realização das eleições e o retorno do Exército e da Administração Civil a Kidal, ou seja, o começo de um diálogo de reconciliação.

Mesmo com tal acordo e com as desocupação das sedes dos principais edifícios governamentais, que estavam nas mãos dos rebeldes, a tensão entre ambas as partes continua latente e passível de esporádicos confrontos.

"É necessário evitar uma gestão superficial desta crise. O presidente deve abrir os olhos e acelerar as mudanças", declarou à Efe Nuhum Keita, membro da plataforma pró-golpista Movimento Popular do 22 de março (MP22).

De acordo com Keita, a crise no norte "é profunda" e o risco dos rebeldes do MNLA, que acusam o Exército regular de cometer excessos, retomarem as armas ainda é muito alto. 

Acompanhe tudo sobre:MaliONU

Mais de Mundo

Violência após eleição presidencial deixa mais de 20 mortos em Moçambique

38 pessoas morreram em queda de avião no Azerbaijão, diz autoridade do Cazaquistão

Desi Bouterse, ex-ditador do Suriname e foragido da justiça, morre aos 79 anos

Petro anuncia aumento de 9,54% no salário mínimo na Colômbia