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Maduro se empenha em denunciar que sofreu tentativa de golpe

A Venezuela vive dias de tensão por protestos contra Maduro que deixam 77 mortos desde 1º de abril, segundo a Procuradoria

Nicolás Maduro: as eleições gerais são a principal exigência dos protestos (Marco Bello/Reuters)
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AFP

Publicado em 28 de junho de 2017 às 20h04.

O governo venezuelano defendia nesta quarta-feira a sua tese de uma tentativa de golpe de Estado, após denunciar que o máximo tribunal foi atacado com granadas por um helicóptero, um caso que gera suspeitas entre opositores e analistas.

O helicóptero da Polícia Forense CICPC foi encontrado nesta quarta-feira no povoado de Osma, próximo a Caracas, informou o vice-presidente, Tareck El Aissami, sem reportar capturas.

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Ao criticar o silêncio de muitos países diante do suposto complô, o chanceler Samuel Moncada ordenou a seus embaixadores informar sobre este "ataque terrorista" a "todas as chancelarias do mundo".

"Estão protegendo os autores do fato com sua cumplicidade e ignorância fingida", assinalou Moncada em coletiva, questionando os Estados Unidos, o México e a União Europeia, mas agradeceu a solidariedade de Bolívia, Cuba, Equador e Turquia.

O autor assinalado é Óscar Pérez, inspetor aeronáutico do CICPC, de 36 anos, e ator amador que protagonizou um suspense em 2015 com o apoio da instituição.

Após vários dias denunciando um complô para derrubá-lo, o presidente assegurou que na terça-feira foram lançadas quatro granadas de um helicóptero policial contra o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) e fizeram 15 disparos contra o Ministério do Interior.

Não houve feridos, segundo Maduro , que disse ter sabido do caso em meio a um ato pelo dia do jornalista, transmitido pela televisão, no qual se mostrou tranquilo e continuou fazendo piadas.

Ainda assim, disse ter ativado "toda a Força Armada para defender a tranquilidade" e capturar os responsáveis, cujo paradeiro se desconhece. A aeronave pertence ao CICPC e foi "sequestrada" em uma base militar de Caracas.

Entretanto, na cidade não era vista nesta quarta-feira uma presença incomum de militares. "Esse psicopata não merece", justificou o chanceler.

"Escalada golpista"

A Venezuela vive dias de tensão por protestos contra Maduro que deixam 77 mortos desde 1º de abril, segundo a Procuradoria.

O presidente também enfrenta uma ofensiva da procuradora-geral, Luisa Ortega, que nesta quarta-feira denunciou que na Venezuela há um "terrorismo de Estado".

Na terça-feira, circularam vídeos e fotos nas redes sociais que mostravam o helicóptero sobrevoando edifícios de Caracas. Ao longe podem ser ouvidas explosões.

Também foram divulgadas fotos do helicóptero com uma faixa que dizia "350 Liberdade", uma referência ao artigo constitucional invocado pela oposição para uma desobediência civil ao governo de Maduro.

Pérez também divulgou vídeos nos quais afirma ser parte de uma "coalizão entre funcionários militares, policiais e civis (...) contra este governo (...) criminoso". Junto a ele aparecem quatro encapuzados, dois com grandes armas.

O homem exige a renúncia de Maduro à Presidência e a convocação de eleições gerais.

As eleições são a principal exigência dos protestos, que nesta quarta-feira continuaram com novos bloqueios de vias para forçar Maduro a desistir de seu chamado a uma Assembleia Constituinte.

Maduro sustenta que o episódio acontece em uma "escalada golpista" de "fatores extremistas" da oposição.

Horas antes do incidente, advertiu que se a chamada Revolução Bolivariana fosse destruída, "iríamos ao combate (...) e o que não conseguíssemos com votos, tomaríamos com as armas".

O TSJ, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e a Defensoria Pública, acusados pela oposição de servir ao governo, condenaram o atentado.

O presidente da Corte, Maikel Moreno, afirmou que esta se encontra "sob ameaça terrorista", enquanto a titular CNE, Tibisay Lucena, garantiu a eleição da Constituinte em 30 de julho, diante das "ameaças" da oposição de impedi-la.

Trama governista?

Diante da denúncia de Maduro, a UE pediu para acabarem "urgentemente" com a violência, enquanto o Brasil, crítico do governo venezuelano, condenou igualmente o ataque e o "cerco de grupos paramilitares", na terça-feira, contra o Parlamento.

Maduro vincula o complô a seu ex-ministro do Interior e general reformado, Miguel Rodríguez Torres, que segundo o presidente, teve Óscar Pérez como piloto. Ambos são acusados de estar a serviço da Agência Central de Inteligência americana (CIA).

"Militares reformados não dão golpes", se defendeu Rodríguez Torres.

A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) disse que examinará a denúncia do helicóptero, sem descartar que tudo não passe de uma trama do governo.

"Seja o que for, é gravíssimo (...), a situação é insustentável", disse à imprensa Julio Borges, presidente do Legislativo.

A especialista em temas de Defesa Rocío San Miguel descartou que na Venezuela "esteja ocorrendo um levantamento militar".

"É possível que o evento do helicóptero seja organizado pelo governo, para distrair a atenção (...) ou provocar uma reação das fileiras médias para continuar expurgando forças de segurança", comentou à AFP Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit, com sede em Londres.

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