Macron e Le Pen dão a largada na campanha de 2º turno na França
Após uma campanha de primeiro turno quase inexistente, Macron visita redutos eleitorais de Le Pen. Há somente duas semanas até a votação em 24 de abril
Carolina Riveira
Publicado em 12 de abril de 2022 às 06h00.
Se uma das principais críticas dos eleitores na França foi a quase inexistência de campanha no primeiro turno, a reta final da eleição no país promete ser muito mais movimentada. A agenda eleitoral do presidente Emmanuel Macron e de sua concorrente, Marine Le Pen, tem novos eventos nesta terça-feira, 12, e seguirá com atividades diárias até a votação no segundo turno, em 24 de abril.
Macron, que só fez um evento de campanha no primeiro turno - o que analistas afirmam ter dado espaço a Le Pen -, tentará tirar o atraso visitando hoje redutos eleitorais da opositora.
O presidente passa nesta terça-feira por áreas do leste do país, após já ter visitado eleitores no norte na segunda-feira, 11. Em ambas as regiões, a abstenção foi alta (acima de um terço) e os que votaram preferiram Le Pen e, em segundo, o esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
Já Le Pen visitou ontem fazendeiros na região de Borgonha, onde discutiu o alto custo de vida e a inflação, temas que foram prioritários na campanha no primeiro turno. Nesta terça-feira, ela fará um pronunciamento onde prometeu detalhar sua "visão para revitalizar a democracia" na França.
Macron e Le Pen se enfrentam em duas semanas após terem sido os melhores colocados na eleição do último domingo, 10.
- Macron, do partido centrista Em Marcha (fundado por ele próprio), liderou com 27,8% dos votos.
- Le Pen, do ultradireitista Reunião Nacional, teve 23,2%.
- Jean-Luc Mélenchon, do esquerdista França Insubmissa, teve 22,0%.
Corrida contra o relógio
Entre os apertos de mão, fotografias comendo croissant e visitas a áreas diversas da França antes do segundo turno, os candidatos terão dois desafios principais: angariar votos dos oponentes já eliminados (somados, são 49%) e convencer mais eleitores a irem às urnas, após a abstenção recorde no fim de semana (dos quase 49 milhões de eleitores aptos, mais de 26% não votaram).
Em 2017, última eleição, Macron e Le Pen já haviam disputado o segundo turno. Na ocasião, o atual presidente venceu com folga, tendo mais de 66% dos votos.
Desta vez, a missão de Macron para seguir no cargo será mais difícil. As primeiras pesquisas dão cenário de somente 53% dos votos para Macron e 47% para Le Pen, na média, e muitas sondagens colocam a liderança do atual presidente somente dentro da margem de erro.
Há uma rejeição constante dos franceses a políticos que já estão no cargo, e Macron, se vitorioso, seria o primeiro presidente reeleito em duas décadas. Em 2017, o mandatário se vendeu na campanha como figura de novidade e renovação, o que o levou à vitória, mas, em 2022, ele chega ao pleito com alta rejeição acumulada.
Educado nas melhores faculdades da França e ex-banqueiro, Macron é visto como elitista e descolado dos anseios da população. O presidente defende reformas impopulares (como a idade mínima para aposentadoria aos 65 anos) e teve a imagem impactada por protestos como os dos "coletes amarelos" em 2018.
Um de seus trunfos recentes na campanha, as negociações com Vladimir Putin sobre a guerra na Ucrânia, não é mais prioridade para o eleitor.
Enquanto isso, Le Pen tem moderado o discurso, feito campanha com crianças e idosos no interior e tentado imprimir uma nova imagem de conciliação e simpatia, o que a fez reduzir parte da rejeição que trazia anteriormente. A candidata da extrema-direita também cresceu nas pesquisas ao se colocar como porta-voz de temas como o custo de vida, a inflação e os salários, que se somam a suas tradicionais pautas conservadoras, com posições anti-imigração e anti-União Europeia.
A frente ampla contra os Le Pen
Apesar da tentativa da candidata da Reunião Nacional de mostrar moderação, uma frente democrática contra Le Pen se formou logo após os resultados.
Partidos diversos declararam apoio a Macron, como o Partido Socialista (centro-esquerda tradicional) e o Republicanos (centro-direita tradicional), além dos ambientalistas e dos comunistas.
“Vou votar em Macron para evitar a chegada de Le Pen ao poder e o caos resultante”, disse a direitista Valérie Pécresse, dos Republicanos. Dos principais candidatos, só Éric Zemmour, também de extrema-direita, apoia Le Pen.
Movimento parecido já havia ocorrido em 2017 e sobretudo em 2002, quando o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, foi ao segundo turno de forma inédita. Le Pen "pai" saiu massacrado pelo conservador Jacques Chirac, que contou com apoio de rivais da esquerda e teve mais de 80% dos votos.
Desta vez, mesmo Mélenchon, que pertence a uma ala mais radical da esquerda e é critico ferrenho de Macron, disse que "não deve ser dado um voto sequer a Le Pen" - embora não tenha citado diretamente o nome do atual presidente.
Mas o cenário fica indefinido porque seu eleitorado - que votou em propostas como aposentadoria aos 60 anos, menor jornada de trabalho e energias renováveis - pode não necessariamente transferir os votos para Macron, a quem este grupo rejeita.
Eleitores de Mélenchon com menor escolaridade e mais pobres tendem a transferir mais votos para Le Pen, como mostram as pesquisas até o momento.
Segundo pesquisa Ifop nesta segunda-feira, 44% dos eleitores de Mélenchon sequer planejam votar. Os que vão às urnas estão divididos em 33% para Macron e altíssimos 22% para Le Pen. Caberá a Macron convencê-los do contrário nas próximas duas semanas, começando agora.