Machu Picchu: ícone internacional do turismo conquista certificação inédita de destino comprometido com a mitigação das mudanças climáticas (Enrique Castro-Mendivil/Reuters)
Agora, além de ser uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno e Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade, Machu Picchu exibe o título de primeiro destino turístico carbono neutro do planeta. A conquista – fruto do trabalho articulado dos setores público e privado e da sociedade civil – posiciona o Santuário Histórico na vanguarda da sustentabilidade e do combate às mudanças climáticas.
A certificação foi concedida no dia 2 de setembro pela Organização Mundial do Turismo, por meio da empresa certificadora Green Initiative. O compromisso assumido é reduzir as emissões de carbono em 45% até 2030 e atingir zero emissões líquidas até 2050, seguindo as diretrizes do Acordo de Paris.
O governo peruano trabalha na descarbonização de Machu Picchu desde 2016, após uma crise no gerenciamento de resíduos que fez a UNESCO considerar a inclusão da cidade inca na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo. De lá para cá, foi planejada uma série de ações relevantes que levaram à certificação inédita.
Uma das ações para reduzir a pegada de carbono foi a implantação de uma compactadora de resíduos plásticos, que processa sete toneladas por dia. A infraestrutura garante que os resíduos deixados pela atividade turística não comprometam a paisagem e o ecossistema da região. Desde dezembro de 2018, também é proibida a entrada de plásticos não reutilizáveis no Santuário Histórico.
Outra iniciativa relacionada à economia circular foi a inauguração de uma fábrica de transformação de óleo em biodiesel e glicerina, instalada no Hotel Inkaterra Machu Picchu Pueblo, com o objetivo de evitar o vazamento de óleo no rio Vilcanota.
O distrito de Machu Picchu ganhou ainda um projeto pioneiro no Peru: a primeira estação de tratamento de resíduos orgânicos por pirólise do país. Com capacidade para processar oito toneladas de material, a estrutura usa a tecnologia inovadora para realizar a decomposição química em altas temperaturas na ausência de oxigênio, sem emissão de carbono.
O processo transforma o lixo em biocarvão, um fertilizante natural que será usado no reflorestamento do Santuário, outra ação importante em curso. Serão plantadas um milhão de árvores, a maioria de espécies nativas.
O desafio é recuperar espaços degradados no ecossistema da região, numa área equivalente a 779,42 hectares, a fim de prevenir desastres naturais e restaurar a biodiversidade. As primeiras 100 mil mudas já foram plantadas na bacia do rio Salkantay.
Paralelamente, a prefeitura da cidade estimula a responsabilidade ambiental no dia a dia da população, por meio de ações como campanhas de reciclagem, educação ambiental para as crianças, incentivo à locomoção a pé ou de bicicleta, prevenção de incêndios e eventos com foco em sustentabilidade.
Todas as iniciativas estão alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, principalmente com o Objetivo 12 (Produção e Consumo Responsáveis) e o Objetivo 13 (Ação Climática), que promove a mitigação de CO2 por meio da compensação e redução de emissões.
A Organização Mundial do Turismo estima que 5% das emissões totais de carbono no Peru estão relacionadas ao turismo, o que reforça a importância do compromisso ambiental da indústria do setor no país.
Além de contribuir com a estratégia nacional frente às mudanças climáticas e preservar uma das maravilhas do mundo, a redução das emissões de gases de efeito estufa beneficiará o país em 98 bilhões de dólares até 2050. A projeção é do “Estudo técnico rumo à neutralidade de carbono no Peru no longo prazo”, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente.
“Acreditamos firmemente que a transição para um futuro descarbonizado é uma grande oportunidade para maximizar os benefícios nacionais para um desenvolvimento competitivo, rentável e eficiente para o país”, afirmou a Diretora Geral de Mudanças Climáticas e Desertificação, Laura Secada, em nota oficial do governo peruano.