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Luta pelo poder no Vaticano após denúncias de corrupção

Papa anunciou medidas para resolver os problemas financeiros. mas líderes religiosos denunciam que corrupção continua

Nas cartas enviadas ao Papa, Vigano denunciava a "corrupção" e a desordem que imperavam na administração vaticana (Getty Images)

Nas cartas enviadas ao Papa, Vigano denunciava a "corrupção" e a desordem que imperavam na administração vaticana (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2012 às 14h52.

Cidade do Vaticano - Recentes denúncias de corrupção no Vaticano provocaram uma luta pelo poder entre pessoas próximas ao Papa, minando as intenções de Bento XVI em relação ao saneamento das finanças ou à limitação das intrigas na Santa Sé.

Anos depois de o Papa ter adotado medidas com o objetivo de sanear as finanças e acrescentar transparência financeira em 2005, meios de comunicação italianos divulgaram no mês passado várias cartas do arcebispo Carlo Maria Vigano, que foi secretário-geral do Vaticano até 2011 antes de ser designado pelo sumo pontífice, em agosto passado, núncio apostólico nos Estados Unidos.

Nestas cartas ao Papa, Vigano denunciava no ano passado a "corrupção" e a desordem que imperavam na administração vaticana.

"Minha transferência (aos Estados Unidos) servirá para desanimar aqueles que acreditaram que seria possível limpar diversos casos de corrupção e de desvio de verbas na gestão" do Vaticano, explicava Vigano em março passado.

"Nunca pensei em ter que enfrentar uma situação tão desastrosa", escreveu, destacando que esta situação "inimaginável" era "conhecida por todos na Cúria".

Vigano também criticou os banqueiros italianos do Comitê de Finanças e Gestão, que teriam privilegiado "seus interesses".

Em dezembro, segundo suas acusações, uma operação financeira causou uma perda líquida de 2,5 milhões de dólares.

Para o prelado, as obras eram atribuídas sempre às mesmas empresas, com tarifas que costumam ser o dobro das aplicadas fora do Vaticano.

Segundo o jornal Corriere della Sera, Vigano se sentia ameaçado por manobras hostis no Vaticano, razão pela qual se dirigiu diretamente a Bento XVI, considerado preocupado com a transparência nas finanças.

Para a imprensa italiana, as denúncias custaram a Vigano não ser promovido a cardeal. O canal de televisão La7 assegurou que a iniciativa de Vigano foi tomada depois da operação "mãos limpas".


Após estas revelações, o porta-voz do Vaticano desmentiu uma eventual queda em desgraça de Vigano, assegurando que sua nomeação como núncio (embaixador) em Washington demonstrava a confiança do Papa.

Federico Lombardi também criticou o programa de televisão do La7 por apresentar "o exercício do governo de uma instituição complexa e articulada" de maneira "parcial e banal, exaltando os aspectos negativos".

Lombardi lamentou que o programa mostrasse um governo da Igreja caracterizado "profundamente por disputas, divisões e lutas de interesses" e expressou sua "amargura pela divulgação de documentos confidenciais".

"Os valores" mencionados e as "acusações muito graves" apresentadas pela rede de televisão são equiparáveis a "difamação", acrescentou.

Especialistas consideram que a divulgação das cartas de Vigano reflete uma luta de poder. Aqueles que estimularam sua divulgação tentaram fazer que o número dois do Vaticano, Tarcisio Bartone, abandonasse seu cargo, por considerar que não se opôs a operações insuficientemente transparentes ou muito arriscadas.

Para muitos especialistas, Bertone não agiu necessariamente de modo desonesto, mas não controlou as coisas da forma adequada.

Segundo o vaticanista Sandro Magister, há a possibilidade de que Bertone, que conta apenas com o apoio do Papa, abandone seu cargo neste ano.

Já Marco Politi, autor do livro "Joseph Ratzinger, crise de um pontificado", disse à AFP que considera "improvável que o Papa se prive de um colaborador que não elegeu por sua experiência de governo, mas por uma estreita relação baseada na confiança".

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