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Lugo, o primeiro presidente destituído no Paraguai

Lugo deixou o cargo em 22 de junho, após ser submetido pelo Legislativo a um processo que durou menos de 30 horas


	Presidente do Paraguai, Fernando Lugo, em foto de 2012: o impeachment de Lugo foi a segunda grande crise da jovem democracia paraguaia
 (John Vizcaino/Reuters)

Presidente do Paraguai, Fernando Lugo, em foto de 2012: o impeachment de Lugo foi a segunda grande crise da jovem democracia paraguaia (John Vizcaino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 24 de dezembro de 2012 às 13h37.

Assunção - Fernando Lugo se tornou, em 2012, o primeiro presidente do Paraguai destituído em julgamento político durante uma crise assumida com tranquilidade pelos cidadãos, mas que levou o país a um isolamento regional.

Lugo deixou o cargo em 22 de junho, após ser submetido pelo Legislativo a um processo que durou menos de 30 horas e que derivou, sete dias depois, na suspensão do Paraguai do Mercosul e da Unasul.

A decisão do Parlamento, que não foi evitada nem com a visita de urgência a Assunção dos chanceleres da Unasul, foi recebida com passividade pela população, que fecha o ano imersa nas primárias para as eleições gerais de 21 de abril de 2013.

Essas eleições têm especial interesse regional, pois o Mercosul e a Unasul advertiram que só reconhecerão as autoridades que forem escolhidas pela população e mantêm o isolamento ao governo de Federico Franco.

O Executivo de Franco - o ex-vice-presidente de Lugo - qualificou de "ilegais" as sanções e rejeitou, além disso, a incorporação plena da Venezuela ao Mercosul, assim como o início do processo de adesão da Bolívia a este bloco.

O Paraguai, membro fundador desse bloco junto com Brasil, Argentina e Uruguai, expressou em diversas ocasiões sua intenção de continuar no Mercosul, mas deixou em aberto a possibilidade de se retirar da Unasul, que segundo o país é dominado por interesses "ideológicos".


As esperanças de romper o isolamento regional seguem depositadas nas eleições de 2013, que contarão com o acompanhamento de uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) a cargo de Óscar Arias, ex-presidente da Costa Rica.

O duas vezes governante costarriquenho e Prêmio Nobel da Paz em 1987, que na primeira semana de dezembro concluiu sua primeira visita a Assunção, se ofereceu para ser moderador de um eventual diálogo entre os candidatos presidenciais para tentar assegurar a harmonia política durante a campanha.

Arias disse esperar, além disso, que "as eleições de 2013 serão iguais ou melhores em transparência, justiça e liberdade do que as eleições de 2008", quando o ex-bispo Lugo pôs fim a 61 anos de hegemonia do Partido Colorado (conservador).

O empresário Horacio Cartes, eleito candidato à presidência nas primárias de seu partido no dia 9 de dezembro, tentará recuperar o poder para os "colorados" em um pleito no qual enfrentará o ex-ministro de Obras Públicas Efraín Alegre, candidato do governamental Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA, de centro-direita).

O PLRA, segunda força política do país e parte da aliança que levou Lugo ao poder, retirou seu apoio ao ex-líder poucas horas antes da abertura do julgamento político.


Esse processo, pelo qual Lugo foi declarado culpado pelo "mau desempenho de suas funções", teve como fator chave a morte de 6 policiais e 11 camponeses em um tiroteio durante uma operação de despejo de "sem terras", em uma propriedade rural em Curuguaty (nordeste).

Para Lugo, os fatos de Curuguaty, que tingiram de sangue a luta pela terra no Paraguai, foram parte de um plano para tirá-lo do poder, instigado por Cartes.

O ex-presidente promove agora sua candidatura ao Senado pela Frente Guasú, uma coalizão de partidos minoritários de esquerda que mantiveram o apoio, mas não conseguiram manter a unidade.

A Frente Guasú sofreu uma significativa divisão com o afastamento do agora candidato presidencial pelo movimento "Avança País", o ex-apresentador de televisão Mario Ferreiro.

O impeachment de Lugo foi a segunda grande crise da jovem democracia paraguaia, instaurada após a queda em 1989 do governo ditatorial de Alfredo Stroessner, que chegou ao poder em 1954.

O último julgamento político de um presidente havia acontecido em março de 1999 - no caso, Raúl Cubas, que optou por renunciar e foi substituído pelo presidente do Congresso, já que o vice-presidente, Luis María Argaña, tinha sido assassinado. 

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