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Liderança de ElBaradei na revolta do Egito é questionada

Ganhador do Nobel da Paz é criticado pela suas constantes viagens ao exterior; analistas consideram que ele não tem apoio popular para liderar o país

ElBaradei, dirigente da oposição e Nobel da Paz, volta ao país para participar dos protestos (Peter Macdiarmid/Getty Images)

ElBaradei, dirigente da oposição e Nobel da Paz, volta ao país para participar dos protestos (Peter Macdiarmid/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2011 às 14h13.

Cairo - Os manifestantes egípcios colocam em dúvida a liderança do ativista opositor Mohamed ElBaradei na revolta popular por causa de suas frequentes ausências do país e por não contar com o apoio das massas.

"É uma boa pessoa, mas não nos representa porque não esteve no Egito nos últimos anos", justificou nesta segunda-feira à Agência Efe na Praça Tahrir o engenheiro de telecomunicações Islam Adly.

Adly, que participou dos protestos desde o primeiro dia, considera que ElBaradei, prêmio nobel da paz em 2005, "não conhece o Egito nem as reivindicações do povo".

Embora tenha sido aclamado pela oposição na chegada ao Egito em fevereiro do ano passado e tenha formado um grupo para pedir a mudança política no país, ElBaradei foi criticado por suas frequentes viagens ao exterior e pela falta de constância em sua campanha.

O prêmio nobel da paz chegou no domingo à noite à praça Tahrir, epicentro da revolta popular que começou na terça-feira no Egito, e prometeu aos manifestantes que "a mudança chegará".

"O que começamos não tem volta", disse ElBaradei em mensagem pronunciada ao megafone na mão, diante de milhares de manifestantes que estavam no coração do Cairo.

Apesar desta atuação e de seu grupo, a Assembleia Nacional para a Mudança, foi um dos promotores dos protestos, são muitos os que duvidam de sua liderança.

"Não será o líder deste movimento de protesto", garantiu nesta segunda-feira à Efe o analista Emad Gad, do renomado centro de Estudos Estratégicos e Políticos de Al-Ahram.

Para Gad, os líderes desta revolta popular sem precedentes na era de Mubarak pertencem a "uma nova geração", e ElBaradei "não tem massas que apóiem".

Com a mesma opinião está o engenheiro de 26 anos Osama Said, quem considera importante o apoio do prêmio nobel para retirar nos confrontos, mas "não liderar os protestos", tampouco dirigir o país.

"ElBaradei não pode ser nosso próximo presidente", ressaltou Said, quem não quer outro militar como chefe de Estado e deseja que todos os membros do antigo Governo deixem o poder, "porque acredita que se isso não ocorrer o sistema não vai mudar".

A maioria dos manifestantes rejeita outro militar na Presidência, mas alguns veem com bons olhos um Governo de transição liderado por ElBaradei.

Um empresário identificado pelo nome de Esham disse à Agência Efe que "ElBaradei poderia ser o primeiro presidente de fora das fileiras militares".

"Isso está certo. Poderia dirigir o país por um período de tempo", assinalou Esham, quem rejeita a ideia de que o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, ocupe o posto durante a transição.

Nenhuma das pessoas consultadas pela Efe no centro do Cairo sabia pôr nome ao próximo presidente e não consideravam aos políticos da fragmentada oposição possíveis candidatos ao posto.

O analista Emad Gad negou que ElBaradei possa unificar a oposição e revela que dois partidos o rejeitaram como líder e convidaram o prêmio nobel de física Ahmed Suel para ocupar o papel.

Nesse sentido, o dirigente do grupo Irmãos Muçulmanos Mahmoud Ghazali assinalou à Agência Efe que "ElBaradei é só um membro a mais de um comitê de dez pessoas que formou a oposição para dialogar com o Exército, mas não com Mubarak, nem com ninguém do Governo".

Embora Mubarak pediu na véspera a seu novo primeiro-ministro, Ahmed Shafiq, que dialogue com a oposição para promover a democracia no país, os partidos opositores anunciaram a criação de um comitê com a missão de criar pontes de comunicação com o Exército, à margem do regime.

Na opinião de Gad, os partidos tradicionais estão fazendo um "jogo sujo" ao tentar "usar os esforços do povo para alcançar o poder".

Enquanto isso, os manifestantes reivindicam o papel principal nos protestos e o de interlocutores para mudar o regime, porque, como rezava um panfleto distribuído na praça Tahrir, "a revolução é do povo e não dos políticos".

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