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Juventude comunista chinesa fica na mira do presidente

Fundada nos anos 1920 para promover o marxismo-leninismo entre os jovens chineses entre 14 e 24 anos, a LJC serviu de celeiro para futuros cargos do governo


	Xi Jinping: recentemente, a LJC foi alvo, porém, de reiterados ataques, incluindo repreensões do presidente
 (Johannes Eisele/AFP)

Xi Jinping: recentemente, a LJC foi alvo, porém, de reiterados ataques, incluindo repreensões do presidente (Johannes Eisele/AFP)

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Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2016 às 17h34.

Viveiro de líderes chineses, incluindo o primeiro-ministro Li Keqiang, a prestigiosa Liga da Juventude Comunista (LJC) parece estar na mira do presidente Xi Jinping, sintoma de uma provável luta de correntes na cúpula do governo.

Fundada nos anos 1920 para promover o marxismo-leninismo entre os jovens chineses entre 14 e 24 anos, a LJC, organização juvenil do Partido Comunista Chinês (PCC), serviu de celeiro para futuros cargos do governo.

Todo jovem chinês que sonha com um cargo de responsabilidade no futuro deve passar por essa organização. O atual chefe de governo ou o ex-presidente Hu Jintao, que antecedeu Xi Jinping e foi dirigente da LJC, fizeram parte de suas fileiras.

A Liga conta com 88 milhões de membros, os mesmos do PCC, e foi historicamente mais favorável às correntes reformistas do que às conservadoras.

Recentemente, a LJC foi alvo, porém, de reiterados ataques, incluindo repreensões do presidente. Este último tenta reforçar seu poder, de olho no próximo congresso do PCC em 2017 e que pode lhe conceder um segundo mandato de cinco anos.

Em um comunicado divulgado na segunda-feira, a poderosa Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCID) - a polícia do partido - acusou a Liga de não ter cumprido sua missão fundamental: encarregar-se do desenvolvimento ideológico da juventude.

Autocrítica

A página on-line da CCID, um órgão dirigido por Wang Qishan, mão direita de Xi Jinping, publicou uma longa "autocrítica" do comitê central da LJC, reconhecendo que deveria mostrar um melhor "senso de suas responsabilidades e de sua missão" para com a direção do partido e para com "a juventude" do país.

A essa autocrítica inédita pode se seguir uma investigação de suas atividades, segundo o jornal oficial Global Times, que trouxe à tona malversações de fundos e tráfico de influência.

Essas acusações, que não podem ser comprovadas, chegam de forma oportuna para o que, segundo os analistas, pode ser o verdadeiro objetivo da CCDI: reforçar a posição de Xi Jinping antes do 19º Congresso do Partido.

O evento reunirá quase todo o Comitê Permanente do Bureau Político, a mais importante instância do partido, e no qual cinco de seus sete membros vão se aposentar.

"Lançar uma investigação contra a LJC é uma iniciativa altamente política", destacou o especialista em China Jean-Pierre Cabestan, da Universidade Batista de Hong Kong.

"Esta operação contribuirá, certamente, para consolidar a posição de Xi", afirmou.

Muitos especialistas preveem uma queda de braço entre o presidente chinês e seu primeiro-ministro na hora de eleger os substitutos, com o objetivo de proteger suas próprias posições.

"Tudo indica que Xi Jinping pretende reduzir a influência da Liga da Juventude" antes do congresso, observou o especialista em política chinesa Willy Lam, da Universidade da China, de Hong Kong.

Para o presidente chinês, a Liga representa "uma ameaça política", disse Lam, acrescentando que o futuro da organização deverá se resumir a "promover o 'politicamente correto' e a ideologia dos jovens e deixar de servir como banco de talentos".

'Conflito'

Em julho passado, Xi Jinping criticava seus membros, considerados excessivamente "aristocráticos". De forma curiosa, o ataque vinha de um "príncipe vermelho", expressão usada para designar os filhos dos dirigentes comunistas da geração anterior, caso de seu pai.

A partir de agora, a Liga terá de "estudar em profundidade e adotar o espírito dos principais discursos do secretário do Partido, Xi Jinping", segundo o órgão disciplinar. Em fevereiro, a Liga já havia sido repreendida por sua displicência na matéria. O Global Times noticiou ainda que a Liga terá de publicar, em breve, "um plano detalhado de reforma de sua organização".

Para o professor de Direito He Weifang, da Universidade de Pequim, "claramente, a visão (de Xi Jinping) do papel da LJC não é a mesma que os dirigentes anteriores tinham. Há um conflito".

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