Cyntoia Brown: fotos comparativas de 2006 e 2013. (TennesseeDepartment of Corrections/Reuters)
Vanessa Barbosa
Publicado em 8 de janeiro de 2019 às 18h07.
Última atualização em 10 de janeiro de 2019 às 09h18.
São Paulo - Cyntoia Brown tinha apenas 16 anos quando foi condenada à prisão perpétua nos Estados Unidos por ter assassinado a tiros Johnny Allen, um agente imobiliário de 43 anos. Na ocasião, a jovem reconheceu seu crime e explicou à Justiça que estava vivendo um pesadelo sob a influência de um homem que a obrigava a se prostituir.
A defesa argumentou que ela era uma vítima de tráfico sexual que temia por sua vida e estava com medo de voltar de mãos vazias para seu cafetão apelidado de "Corte Garganta", com quem ela estava vivendo na época após fugir de sua família adotiva em 2004. Segundo a defesa, o homem abusava sexualmente da jovem e a forçava a usar diferentes tipos de drogas.
Johnny Allen, a "vítima" no julgamento, teria abordado a jovem em uma lanchonete e oferecido dinheiro para um programa na noite de 6 de agosto daquele ano. Na casa dele, Cyntoia se assustou com a violência do homem, que a agarrava com força, e com as várias armas expostas no recinto.
Temendo por sua vida, Brown pegou um dos revólveres do local e atirou contra Allen. Apesar do cenário de legítima defesa, a adolescente foi condenada à prisão perpétua pelo júri local. A promotoria acusou a jovem de ter premeditado o assassinato para roubar o homem.
"Perdão"
Na segunda-feira, após cumprir quase 15 anos de clausura na prisão feminina do Tennessee, Cyntoia recebeu clemência da justiça americana. A decisão foi tomada após uma onda de protestos em 2017 que reuniu ativistas sob a hashtag #FreeCyntoiaBrown (incluindo celebridades como Kim Kardashian e Rihanna) e provocou debates sobre o julgamento de crianças e jovens.
Apesar da idade de Cyntoia na época, o tribunal resolveu julgá-la como adulta. Ela foi condenada à prisão perpétua com a possibilidade de receber liberdade condicional a partir dos 51 anos.
Com o perdão do Estado, ela sairá em liberdade condicional no dia 7 de agosto. Ao longo dos próximos sete meses, ela será transferida para um centro de transição destinado a pessoas em vias de voltarem à liberdade. Em comunicado oficial, o governador do Tennessee, Bill Haslam, disse que a "decisão vem depois de uma análise cuidadosa do que é um caso trágico e complexo".
O caso ganhou tamanha notoriedade nos Estados Unidos que foi transformado em documentário em 2011, "Me Facing Life: Cyntoia's Story" (Enfrentando a Vida: A História de Cyntoia). Atualmente, Cyntoia se dedica a conquistar seu diploma de bacharel na prisão e planeja criar uma organização não governamental para ajudar outros jovens em situação de risco.