Grupo de islamistas armados em Gao, no norte do Mali: os "ocupantes" de Gao endureceram recentemente as condições de aplicação da sharia (a lei islâmica) (©AFP / Issouf Sanogo)
Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2012 às 15h24.
Gao - Com o dedo no gatilho e um olhar fulminante, um jovem jihadista de 14 anos ordena que o motorista de um veículo pare perto da estrada asfaltada que liga a fronteira da Nigéria a Gao, cidade mais importante do norte do Mali, sob controle de grupos islamitas armados.
"Tomamos a decisão de reforçar a segurança e tomar as medidas necessárias", afirmou à AFP o adolescente malinense, Aziz Maiga, em Labezanga, uma cidade do Mali situada a mais de 200 km de Gao.
Uma inspeção exaustiva do veículo começa imediatamente.
Botas militares empoeiradas, fuzil no ombro, jihadistas que vestem uniformes militares ou roupas de cor caqui revistam as bagagens e os passageiros do veículo.
Primeira surpresa: da fronteira nigeriana a Gao, quase todos os jihadistas encontrados são provenientes da África Subsaariana.
"Eu mesmo estou surpreso", afirma o nigeriano Hisham Hilal, que lidera uma katiba (unidade de combate) em Gao.
"Todos os dias temos novos voluntários. Eles vêm de Togo, Benin, Nigéria, Guiné, Senegal, Argélia, e de outros lugares", acrescentou.
No caminho, os postos de controle são cada vez mais numerosos.
"As pessoas que querem entrar em guerra contra nós devem saber que aqui não há diferença entre Mujao (Movimento pela Unidade e a Jihad no Norte da África), Ansar Dine (Defensores do Islã) e Aqmi (Al-Qaeda no Magreb Islâmico). Todos nós somos mujahedines. Amanhã o Mujao pode estar no sul, no leste ou em qualquer outra parte. Em todos os lugares estamos em casa", disse.
"Estamos prontos para a guerra. Esperamos a chegada das tropas francesas e africanas", afirma um jovem marfinense, no momento em que a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) se prepara para enviar ao Mali tropas africanas para ajudar Bamaco a reconquistar o norte, com o "apoio logístico" da França.
Em Gao, que foi tomada no final de junho pelo Mujao, caminhonetes carregadas de armas e de combatentes circulam constantemente.
As bandeiras pretas dos jihadistas tremulam sobre as caminhonetes. Os rostos dos combatentes são cada vez mais jovens.
Na sede da polícia islâmica de Gao, novos voluntários afirmam ter vindo para ajudar seus "irmãos mujahedines".
"Meu nome é Khalil, sou egípcio, e vim para ajudar meus irmãos mujahedines", disse um homem alto, traduzido por seu companheiro de Serra Leoa.
Outro homem, que fala inglês e que afirma ser paquistanês, disse que "o Islã não tem fronteiras".
Embora os egípcios e paquistaneses tenham tomado o controle da polícia islâmica de Gao, os combatentes argelinos estão na linha de frente no sul da cidade, na estrada que leva a Bamaco.
Para evitar possíveis aterrissagens de aviões inimigos, os jihadistas espalharam carcaças de veículos nas estradas.
De acordo com pessoas que moram perto do aeroporto, dois campos de treinamento recebem dezenas de combatentes.
"Vi alguns treinando. Eles organizam sessões de tiro e de táticas militares. Muitos são muito jovens, dizem estar dispostos a morrer", relata um funcionário de Gao.
Segundo Djenaku, um jovem morador desta cidade, os "ocupantes" de Gao endureceram recentemente as condições de aplicação da sharia (a lei islâmica), que impõem aos moradores. No dia 10 de setembro, cinco homens acusados de terem atacado um ônibus tiveram a mão e o pé cortados.
Nenhuma rádio privada da cidade apresenta músicas.
As mulheres devem usar o véu ou correm o risco de serem punidas ou presas. Poucas pessoas se atrevem a fumar em público.
Para comprar discretamente tabaco existe um código: "paracetamol".
Os islamitas, tolerados pela população no início da ocupação, são cada vez mais impopulares.
No entanto, os mercados da cidade ainda estão cheios de gente e os alimentos básicos não faltam.
Os fregueses se manifestam contra uma possível intervenção militar.
"Quando os elefantes lutam, é a grama que sofre. Os elefantes são os combatentes daqui e o Exército de Bamaco, com o apoio internacional. A grama são os pobres civis, nós", explica Mahaman, um funcionário aposentado.