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JFK e Fidel, duas lideranças nas trincheiras da Guerra Fria

Cuba não ficou alheia à lembrança de Kennedy, com principais jornais se referiram basicamente nas dúvidas sobre a autoria do assassinato

Banner com a imagem do presidente dos EUA John F. Kennedy é asteado em homenagem ao 50º aniversário do assassinato de JFK, em Dallas, Texas (Jim Bourg/Reuters)

Banner com a imagem do presidente dos EUA John F. Kennedy é asteado em homenagem ao 50º aniversário do assassinato de JFK, em Dallas, Texas (Jim Bourg/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2013 às 22h33.

Havana - O presidente americano John F. Kennedy, cujo assassinato completa 50 anos nesta sexta-feira, teve no líder cubano Fidel Castro um incômodo e carismático adversário nas trincheiras de uma Guerra Fria da qual ainda sobrevive o longo litígio entre Washington e Havana.

Cuba não ficou alheia nesta sexta-feira à lembrança de Kennedy e os principais meios de comunicação da ilha (todos oficiais) se referiram ao aniversário de sua morte com artigos e reportagens centrados basicamente nas dúvidas sobre a autoria do assassinato.

"As balas disparadas em Dallas (...) selaram um golpe de Estado onde estreitaram suas mãos a CIA e a extrema direita do poder político-econômico americano para utilizar como bodes expiatórios mafiosos ítalo-americanos e terroristas anticubanos de Miami", considerou hoje o jornal "Juventud Rebelde".

Quem se manteve hoje em silêncio sobre a efeméride foi Fidel, retirado do poder desde 2006 e que, aos 87 anos, é o único sobrevivente dos protagonistas da Crise dos Mísseis, o conflito que pôs o mundo à beira de uma guerra nuclear e que marcou profundamente a breve presidência de Kennedy.

No entanto, na última de suas "Reflexões", publicada no último mês de, Fidel Castro escreveu sobre a morte de JFK e sobre como soube em 1963 da notícia no meio de uma reunião com o jornalista francês Jean Daniel, que já tinha entrevistado Kennedy depois da crise.

"Chegamos ao lugar e convidei-o a almoçar (a Daniel). Era meio-dia. Liguei um rádio e nesse instante informaram que o presidente tinha sido assassinado em Dallas", lembrou Castro nesse artigo.

No livro "Cem horas com Fidel" (2006) do jornalista hispânico-francês Ignacio Ramonet, Castro diz que a morte de Kennedy lhe doeu: "Era um adversário, mas senti seu desaparecimento. Foi como se perdesse um oponente de mérito. Me doeu também a forma como o mataram, o atentando covarde, o crime político".

Em 1960 Fidel Castro chegou a menosprezar JFK ao definir-lhe como "um ignorante milionário", mas várias décadas depois essa opinião mudou.


"Acho que Kennedy foi um homem de grande entusiasmo, muito inteligente, com carisma pessoal, que tentava fazer coisas positivas", disse Castro no citado livro, no qual imagina que, se JFK tivesse sobrevivido, "é possível que as relações entre Cuba e Estados Unidos tivessem melhorado".

E isso apesar de Fidel Castro reprovar "erros" como dar sinal verde à operação da Baía dos Porcos, a fracassada invasão anticastrista de 1961, que Kennedy "herdou" do governos anteriores de Eisenhower e Nixon.

Kennedy e Castro foram inflamados inimigos, mas com traços comuns em suas personalidades, segundo o jornalista alemão Volker Skierka em uma biografia sobre o líder cubano onde define ambos como "puros-sangues da política" e possuidores de uma inteligência superior à média, carisma e brilhante oratória.

Na década dos 1960 representavam uma nova geração de líderes e desejavam que os jovens "tivessem novas perspectivas sociais e novas escalas de valores, um como revolucionário e socialista de novo cunho, o outro como reformador liberal do american way of life e suas liberdades".

Outra das coincidências curiosas entre Castro e JFK que Skierka resenha é que ambos fizeram de seus respectivos irmãos, Raúl e Robert, seus mais "íntimos conselheiros" especialmente na Crise dos Mísseis.

"Raúl Castro era o enlace ideológico e o para-raios entre Moscou e Havana; Robert Kennedy o para-choques do presidente na relação com seus próprios militares e serviços secretos assim como responsável dos contatos secretos com (o presidente soviético, Nikita) Khrushchov".

Fidel Castro não conheceu pessoalmente JFK, mas sim membros de sua família como seu filho John John, falecido em um acidente de avião em 1999 e que dois anos antes tinha visitado Cuba, onde conversou horas com o histórico adversário de seu pai.

Antes, no final dos anos 80, o líder cubano conheceu em Caracas (Venezuela) a viúva de Robert Kennedy, o irmão de JFK que também foi assassinado.

"Os Kennedy, a família, depois do assassinato, fizeram contatos conosco e desenvolvemos relações e intercâmbios realmente amistosos. São provas que um não se deixa levar pelo ódio", relatou o ex-presidente cubano no livro de Ramonet.

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