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Japão busca alternativas para energia nuclear

Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Centro Internacional de Gerenciamento de Riscos do Japão, fala sobre a popularização da energia solar como alternativas para a nuclear

Fumaça saindo do reator da Usina de Fukushima em 2011: segundo Takeuchi, o acidente na central nuclear mudou a equação energética mundial (AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2012 às 12h18.

Desde a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, estima-se que os desastres naturais (grande parte relacionada à mudança no clima) foram responsáveis pelas mortes de 1,3 milhão de pessoas no mundo, afetaram 4,4 bilhões e resultaram em perdas econômicas de US$ 2 trilhões

Segundo Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Centro Internacional de Gerenciamento de Riscos do Instituto Público de Pesquisas do Japão, o acidente na central nuclear de Fukushima mudou a equação energética mundial.

“Mudou no sentido de que os países que tinham a responsabilidade de tratar problemas internacionais estão se voltando para dentro, a fim de resolver seus problemas nacionais e domésticos”, disse Takeuchi, que participou da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), em junho último.

O centro que Takeuchi dirige tem ajudado o Japão a desenhar estratégias contra a ocorrência de acidentes, principalmente os relacionados à água, como o tsunami, que em 2011 inundou parte do território do país e causou o acidente em Fukushima.

Em entrevista, Takeuchi, que integra o Programa Integrado de Pesquisa sobre Redução de Riscos de Desastres (IRDR, na sigla em inglês), falou também sobre algumas medidas que estão sendo tomadas no Japão para reduzir os riscos e as vulnerabilidades aos acidentes naturais.

– O senhor poderia destacar algumas lições trazidas pelo acidente nuclear em Fukushima?

Kuniyoshi Takeuchi – Aprendemos muito. Temos ainda que recuperar as perdas, estimadas entre 25 trilhões e 30 trilhões de ienes [de R$ 650 bilhões a R$ 790 bilhões], mas o acidente trouxe o tema da redução de desastres para a agenda da sustentabilidade. O assunto integrou o Zero Draft da RIO+20.


Além disso, o acidente em Fukushima fez com que a população japonesa considerasse a possibilidade de se livrar das usinas de energia nuclear. Temos 53 reatores atualmente, que fornecem de 25% a 30% da nossa eletricidade. Porém, como o seu fechamento pode causar um grande impacto econômico no país, as já existentes deverão ser mantidas por ora. Mas, eventualmente, escolheremos outra linha de desenvolvimento sem as usinas nucleares.

– Que outras fontes de energia o Japão poderá empregar para substituir essa dependência da fonte nuclear?

Takeuchi – Estamos estimulando, por exemplo, o uso da energia solar. Ao mesmo tempo, promovemos a importante redução do consumo de energia elétrica junto à população. O processo acelerado de industrialização do Japão, especialmente no período de 1960 a 1980, fez com que o consumo de energia em nosso país crescesse muito. Agora, a população está mais cuidadosa com a questão do desperdício de energia.

– Quais práticas e estratégias estão sendo desenvolvidas no Japão no sentido da prevenção e da redução de riscos?

Takeuchi – Nesse sentido, o governo japonês trabalha essencialmente em dois níveis. O primeiro inclui a proteção da vida da população e da propriedade e a segurança alimentar, por meio de infraestruturas físicas que protejam contra tsunamis e outros desastres naturais.

O segundo nível inclui a evacuação das áreas de risco. Ainda não sabemos qual será o impacto disso na economia, pois estamos apenas começando, mas temos a certeza da necessidade de se investir em políticas para lidar com os riscos. O mais importante é promover estratégias de adaptação aos desastres, uma vez que não temos como mudar o comportamento de fenômenos como tsunamis, terremotos ou ciclones.


– Mas os acidentes naturais muitas vezes contam com a colaboração das atividades humanas.

Takeuchi – Acidentes naturais são agravados pela ação humana em muitos casos, e isso ocorre em todos os locais, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Então, mais do que a resposta, a prevenção e a adaptação são ainda o melhor caminho de ação para lidar com os desastres. Fenômenos naturais são inexoráveis, mas isto não quer dizer que devemos nos resignar e ser apenas vítimas. Existem soluções inteligentes e produtivas para conviver com a natureza e nos adaptar às suas inevitáveis variações.

– Poderia citar algum exemplo?

Takeuchi – Precisamos lidar com isso de maneira integrada. Em 2008, o ciclone Nargis atingiu Myanmar e levou 150 mil vidas. Nesse caso, se o governo local tivesse aceitado a ajuda internacional teria havido muito menos mortes. Por outro lado, a preparação para o ciclone que atingiu Bangladesh em 2007 fez com que apenas 3 mil pessoas fossem vitimadas, devido aos avisos prévios e aos abrigos que foram construídos na costa do país.

Do ponto de vista do acidente natural, a enchente da China de 1998 foi tão devastadora quanto as enchentes de 1931 e de 1954 que, juntas, mataram quase 180 mil pessoas. Em 1998, morreram mil pessoas. E isso foi resultado de um investimento importante no trabalho de gerenciamento de enchentes.

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Desde a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, estima-se que os desastres naturais (grande parte relacionada à mudança no clima) foram responsáveis pelas mortes de 1,3 milhão de pessoas no mundo, afetaram 4,4 bilhões e resultaram em perdas econômicas de US$ 2 trilhões

Segundo Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Centro Internacional de Gerenciamento de Riscos do Instituto Público de Pesquisas do Japão, o acidente na central nuclear de Fukushima mudou a equação energética mundial.

“Mudou no sentido de que os países que tinham a responsabilidade de tratar problemas internacionais estão se voltando para dentro, a fim de resolver seus problemas nacionais e domésticos”, disse Takeuchi, que participou da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), em junho último.

O centro que Takeuchi dirige tem ajudado o Japão a desenhar estratégias contra a ocorrência de acidentes, principalmente os relacionados à água, como o tsunami, que em 2011 inundou parte do território do país e causou o acidente em Fukushima.

Em entrevista, Takeuchi, que integra o Programa Integrado de Pesquisa sobre Redução de Riscos de Desastres (IRDR, na sigla em inglês), falou também sobre algumas medidas que estão sendo tomadas no Japão para reduzir os riscos e as vulnerabilidades aos acidentes naturais.

– O senhor poderia destacar algumas lições trazidas pelo acidente nuclear em Fukushima?

Kuniyoshi Takeuchi – Aprendemos muito. Temos ainda que recuperar as perdas, estimadas entre 25 trilhões e 30 trilhões de ienes [de R$ 650 bilhões a R$ 790 bilhões], mas o acidente trouxe o tema da redução de desastres para a agenda da sustentabilidade. O assunto integrou o Zero Draft da RIO+20.


Além disso, o acidente em Fukushima fez com que a população japonesa considerasse a possibilidade de se livrar das usinas de energia nuclear. Temos 53 reatores atualmente, que fornecem de 25% a 30% da nossa eletricidade. Porém, como o seu fechamento pode causar um grande impacto econômico no país, as já existentes deverão ser mantidas por ora. Mas, eventualmente, escolheremos outra linha de desenvolvimento sem as usinas nucleares.

– Que outras fontes de energia o Japão poderá empregar para substituir essa dependência da fonte nuclear?

Takeuchi – Estamos estimulando, por exemplo, o uso da energia solar. Ao mesmo tempo, promovemos a importante redução do consumo de energia elétrica junto à população. O processo acelerado de industrialização do Japão, especialmente no período de 1960 a 1980, fez com que o consumo de energia em nosso país crescesse muito. Agora, a população está mais cuidadosa com a questão do desperdício de energia.

– Quais práticas e estratégias estão sendo desenvolvidas no Japão no sentido da prevenção e da redução de riscos?

Takeuchi – Nesse sentido, o governo japonês trabalha essencialmente em dois níveis. O primeiro inclui a proteção da vida da população e da propriedade e a segurança alimentar, por meio de infraestruturas físicas que protejam contra tsunamis e outros desastres naturais.

O segundo nível inclui a evacuação das áreas de risco. Ainda não sabemos qual será o impacto disso na economia, pois estamos apenas começando, mas temos a certeza da necessidade de se investir em políticas para lidar com os riscos. O mais importante é promover estratégias de adaptação aos desastres, uma vez que não temos como mudar o comportamento de fenômenos como tsunamis, terremotos ou ciclones.


– Mas os acidentes naturais muitas vezes contam com a colaboração das atividades humanas.

Takeuchi – Acidentes naturais são agravados pela ação humana em muitos casos, e isso ocorre em todos os locais, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Então, mais do que a resposta, a prevenção e a adaptação são ainda o melhor caminho de ação para lidar com os desastres. Fenômenos naturais são inexoráveis, mas isto não quer dizer que devemos nos resignar e ser apenas vítimas. Existem soluções inteligentes e produtivas para conviver com a natureza e nos adaptar às suas inevitáveis variações.

– Poderia citar algum exemplo?

Takeuchi – Precisamos lidar com isso de maneira integrada. Em 2008, o ciclone Nargis atingiu Myanmar e levou 150 mil vidas. Nesse caso, se o governo local tivesse aceitado a ajuda internacional teria havido muito menos mortes. Por outro lado, a preparação para o ciclone que atingiu Bangladesh em 2007 fez com que apenas 3 mil pessoas fossem vitimadas, devido aos avisos prévios e aos abrigos que foram construídos na costa do país.

Do ponto de vista do acidente natural, a enchente da China de 1998 foi tão devastadora quanto as enchentes de 1931 e de 1954 que, juntas, mataram quase 180 mil pessoas. Em 1998, morreram mil pessoas. E isso foi resultado de um investimento importante no trabalho de gerenciamento de enchentes.

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