O primeiro-ministro irlandês, Brian Cowen: hoje, déficit público está perto de 32% do PIB (Mark Wilson/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2010 às 10h45.
Dublin - O governo irlandês divulga nesta quarta-feira um drástico plano de juste para dividir por 10 seu colossal déficit público até 2014, apresentado como condição prévia para o resgate internacional da ilha e temido por uma população que já precisou fazer muitos sacrifícios.
As novas medidas de rigor buscam economizar 15 bilhões de euros (20 bilhões de dólares), ou cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em quatro anos.
O objetivo é reduzir o déficit público irlandês até 3% exigido pela União Europeia (UE). Este deve alcançar em 2010 um recorde de 32% do PIB devido aos 50 bilhões de euros (66,5 bilhões de dólares) que a Irlanda teve de injetar em seus bancos para salvá-los da falência.
O plano de ajuste é uma condição prévia imprescindível a uma ajuda da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI)
De acordo com a imprensa irlandesa, o plano de ajuda internacional deve alcançar 85 bilhões de euros (113,7 bilhões de dólares) e incluirá a imposição de uma taxa aos bancos responsáveis pela crise.
Segundo a rádio e televisão pública RTE e o jornal Irish Times, os bancos irlandeses aumentarão suas reservas de capital, atualmente de 8%, a um mínimo de 10,5% ou até mesmo 12%, graças aos recursos concedidos pela UE e o FMI que pretendem tranquilizar os mercados sobre a saúde do sistema bancário do país.
A UE e o FMI aceitaram no domingo o princípio de uma solicitação de ajuda financeira a Dublin, sem revelar o valor, mas fontes diplomáticas informaram à AFP que a quantia deve ficar entre 80 e 90 bilhões de euros.
A Irlanda será o segundo país da eurozona a receber este ano o respaldo dos sócios, depois da Grécia.
Além da recapitalização dos bancos, o restante do plano de resgate será destinado aos gastos diários do Estado, que precisa atualmente de 19 bilhões de euros para os gastos correntes.
De acordo com o Irish Times, o governo deve impor em contrapartida uma taxa aos bancos, cujo endividamento excessivo provocou a crise orçamentária irlandesa e provoca o temor de um contágio ao conjunto da zona euro.
O objetivo da Irlanda é demonstrar que pode sanear suas finanças. A adoção do plano de rigor e do orçamento marca sua entrada nesse regime de rigor, de acordo com o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Olli Rehn.
A agência de classificação financeira Standard and Poor's (S&P) rebaixou em dois escalões a nota da dívida da Irlanda, a "A" contra "AA-" previamente.
Só que os 4,3 milhões de irlandeses, que já foram submetidos a três planos de rigor desde o início da severa recessão registrada em 2008, temem o novo plano de ajuste que inclui medidas de poupança no valor de 10 bilhões de euros e outros 5 bilhões em impostos.
Ao descontentamento pelo plano de rigor, se soma a humilhação que a população sente por ter que pedir ajuda externa.
O alcance da austeridade suscita temores sobre a economia irlandesa. "O plano vai matar as escassas possibilidades de recuperação da Irlanda", escreveu o economista David McWilliams no jornal Irish Independent.
A crise financeira foi agravada, além disso, por uma crise política.
O primeiro-ministro Brian Cowen dispõe de uma maioria teórica de três votos no parlamento. Mas com a coalizão à beira do colapso, teve que anunciar na segunda-feira eleições antecipadas para o próximo ano.
Com esta medida, espera ganhar o tempo necessário para permitir a adoção do orçamento que será apresentado ao parlamento no próximo dia 7 de dezembro e votado pelos deputados no início de 2011. A oposição continua, no entanto, pedindo sua demissão.