Iraque entra em espiral de protestos com 60 mortos em quatro dias
Movimento é inédito por sua natureza espontânea em um país onde as mobilizações geralmente são partidárias
AFP
Publicado em 4 de outubro de 2019 às 20h46.
Última atualização em 4 de outubro de 2019 às 21h08.
São Paulo — O Iraque voltou a viver um dia de protestos sangrentos na sexta-feira (4), com milhares de manifestantes nas principais cidades do país exigindo reformas econômicas e o fim da corrupção, um movimento cuja repressão causou 60 mortes em quatro dias.
Os confrontos entre forças antidistúrbios e manifestantes se intensificaram, e a principal autoridade xiita do país tomou partido dos participantes nos protestos.
Mais de 60 pessoas morreram e mais de 1.600 ficaram feridas desde a terça-feira em uma onda de protestos no Iraque, informou na noite desta sexta-feira (4) a comissão governamental de direitos humanos iraquiana, que não detalhou em que regiões as vítimas mortais foram registradas. Em um dos hospitais de Bagdá foram contabilizados 18 mortos.
A polícia acusou grupos de "franco-atiradores não identificados" de dispararem em protestos na capital. Dois civis e dois membros das forças de segurança morreram por causa desses disparos, segundo o comunicado oficial.
Apesar do bloqueio da Internet, os iraquianos voltaram às ruas na sexta-feira, especialmente em Bagdá , na Praça Tahrir.
Em um bairro residencial perto da Praça Tahrir, a maioria das lojas e postos de gasolina fecharam. Os clientes lotaram os poucos estabelecimentos abertos, onde os preços triplicaram devido ao fechamento das estradas que levam a Bagdá.
Ao anoitecer, os tiroteios foram incessantes. Várias pessoas foram baleadas, principalmente na barriga e na cabeça.
Ainda assim, o primeiro-ministro iraquiano Adel Abdel Mahdi ordenou a suspensão no sábado às 05h00 do toque de recolher em Bagdá.
O movimento, inédito por sua natureza espontânea em um país onde as mobilizações geralmente são partidárias ou obedecem a motivos tribais ou religiosos, é um teste decisivo para o governo de Adel Abdel Mahdi, que assumiu o poder há apenas um ano e pediu paciência.
Os protestos, que começaram na terça-feira, intensificaram-se desde quinta-feira à noite. O chefe do governo pediu tempo para melhorar as condições de vida dos 40 milhões de habitantes do país, que há dois anos deixaram para trás quase quatro décadas de guerra e uma escassez crônica de eletricidade e água potável.