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Irã observa a possível ascensão do Islã na política do Oriente Médio

Autoridades em Teerã consideram o sprotestos na Tunísia, no Egito e em outros países árabes "uma onda de despertar islâmico"

Manifestantes na Tunísia: para Teerã, um novo Oriente Médio está nascendo baseado no Islã (Fred Dufour/AFP)

Manifestantes na Tunísia: para Teerã, um novo Oriente Médio está nascendo baseado no Islã (Fred Dufour/AFP)

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Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2011 às 06h13.

Teerã - O regime político iraniano observa com otimismo e satisfação os protestos populares na Tunísia, no Egito e em outros países árabes, e as autoridades de Teerã os consideram "uma onda de despertar islâmico" que conduzirá a um Oriente Médio mais próximas às ideias e políticas da República Islâmica.

Os setores mais radicais se arriscam a dizer que o movimento é o eco tardio da Revolução Islâmica que em 1979 depôs o então xá da Pérsia, Mohamad Reza Pahlevi, e abriu caminho ao estabelecimento de um sistema teocrático muçulmano.

"Àqueles que não querem ver a realidade, vou esclarecer que um novo Oriente Médio está nascendo baseado no Islã, na religião e na democracia, com prevalência dos princípios religiosos", afirmou na sexta-feira o aiatolá Ahmad Khatami, um dos clérigos com mais poder e influência do Irã.

Na mesma linha se expressou o Ministério de Assuntos de Assuntos Exteriores iranianos, que cunhou a expressão "onda de despertar islâmico" e ressaltou que os acontecimentos procedem das "doutrinas religiosas e esforços dos muçulmanos na região do Oriente Médio".

Membro de um Governo autoritário e que restringe as liberdades individuais, o porta-voz deste Ministério, Ramin Mehmanparast, não hesitou em apelar ao cinismo quando exigiu ao presidente egípcio, Hosni Mubarak, que ouça a voz do povo.

"O Irã observa atentamente o que acontece no Egito e espera que os responsáveis desse país ouçam a voz do povo muçulmano e respeitem seus desejos razoáveis. As forças de segurança e a Polícia devem evitar qualquer atitude violenta contra essa onda de despertar islâmico em forma de movimento popular neste país", declarou.


Há apenas um ano e meio, o regime iraniano também fez uso da força para reprimir violenta e cruelmente uma onda de grandes protestos populares contra a controvertida reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Centenas de milhares de pessoas se lançaram às ruas do país durante meses para apoiar as reivindicações da oposição reformista, que denunciou uma fraude em massa na apuração dos votos das eleições presidenciais, e exigir igualmente reformas e liberdades no país.

Na sangrenta repressão, pelo menos 30 pessoas perderam a vida, segundo números oficiais, e mais de 70, de acordo com o cômputo da oposição.

Além disso, milhares de iranianos foram sendo detidos desde então, sob a acusação de conspirar com potências estrangeiras para derrubar o regime da República Islâmica.

Mais de uma centena - entre os quais responsáveis do antigo Governo e da oposição, jornalistas, advogados e ativistas - foram condenados a diferentes penas de prisão, e alguns inclusive foram executados na forca.

"O regime lava as mãos. Eles veem com gosto a possível queda de regimes aos quais acusa de conivência com os Estados Unidos e Israel", explica à Agência Efe um analista político iraniano que prefere não ser identificado.


"Há 30 anos, houve muitos esforços e gastou-se muito dinheiro e energia para exportar a Revolução Islâmica ao Oriente Médio, sem resultados visíveis, e agora (o regime iraniano) acredita ver o fruto de suas ambições", ressalta o analista.

Segundo ele, as autoridades da República Islâmica observam a situação como "um enfraquecimento da influência dos Estados Unidos e do Ocidente na região, e portanto uma oportunidade para aumentar a influência da República Islâmica".

A oposição iraniana também faz uma leitura positiva da celeuma árabe, embora seus padrões de análise sejam bem divergentes.

O líder opositor Mir-Hossein Mousavi expressou no sábado seu apoio ao povo egípcio e mostrou esperança de que o levante se transforme em um movimento inspirador, que estimule a "queda de todos os regimes opressores".

"Nossa nação respeita, cumprimenta e abraça a revolução da valente nação tunisiana e o direito à revolta dos povos do Egito e do Iêmen. Pedimos a Deus que lhes dê a vitória", afirmou Moussavi.

Seguindo o raciocínio, o ex-ministro comparou os gritos de "Onde está meu voto?" do povo iraniano em junho de 2009 - durante os protestos contra a suposta fraude eleitoral - aos dos egípcios, que atualmente pedem liberdade.

Suas palavras, reproduzidas pelo site "Kalame.com", parecem destacar nas entrelinhas a esperança de que a revolta dos árabes volte a quebrar o medo dos iranianos e a liberar os gritos de liberdade ecoados em 2009.

O analista anônimo, por sua vez, adverte sobre o que ocorreu na Revolução Islâmica de 1979. "Há 30 anos, a oposição laica também saiu às ruas do Irã para reivindicar mais liberdade e democracia, mas no final foram os religiosos que aproveitaram a conjuntura".

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