Irã estende as mãos aos dissidentes exilados após Maré Verde
A questão do retorno não depende inteiramente do governo, mas, sobretudo, da Justiça, ainda em sua maioria nas mãos dos mais conservadores
Da Redação
Publicado em 25 de dezembro de 2013 às 11h25.
Teerã - O governo de Hassan Rohani estendeu a mão aos dissidentes da Maré Verde que abandonaram o Irã após a repressão aos protestos pela polêmica reeleição de Mahmoud Ahmadinejad em 2009, porém não garante segurança aos que retornarem.
O presidente deu instruções recentemente para que se forme um comitê que 'facilite' o retorno dos milhares de iranianos que fugiram do país após a eleição que a oposição, liderada pelos presos Hossein Mousavi e Mehdi Karrubi, considerou uma fraude.
Dezenas de pessoas morreram em confrontos que se prolongaram durante meses entre os manifestantes e as forças de segurança e milícias, enquanto as equipes de campanha dos líderes reformistas foram detidos, acusados de traição, e por conta das represálias milhares de jovens optaram por abandonar o Irã.
O site 'Al Monitor' informou que o ministro de Inteligência, Mahmoud Alavi, explicou no mês passado que aqueles que não foram acusados de cometer alguma 'violação' podem retornar.
O chefe de gabinete de Rohani, Mohamad Nahavandian, disse que 'o desejo da administração é que o direito dos iranianos de viajar para seu país e sua pátria possa ser realizado'. Já o vice-ministro das Relações Exteriores, Hassan Ghashghavi, afirmou que o país 'não teme o retorno dos iranianos' e 'muitos dos medos são infundados'.
Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), entre 2009 e 2011 mais de 45 mil iranianos apresentaram pedidos de asilo em 44 países, a maioria na Turquia e no Curdistão iraquiano.
Além disso, dezenas de pessoas foram condenadas à prisão e a chicotadas, e muitos estudantes, expulsos de suas universidades.
Após a tomada de poder de Rohani em agosto, o ministro da Educação Superior interino, Jafar Tofighi, pediu aos estudantes que foram expulsos que solicitassem o retorno e em outubro passado disse que cerca de 400 puderam retornar às salas de aula.
Mas a questão do retorno não depende inteiramente do governo, mas, sobretudo, da Justiça, ainda em sua maioria nas mãos dos mais conservadores. Não se trata apenas de serem autorizados a entrar no país, mas deixá-los levar uma vida normal.
Apesar das conciliadoras palavras, o governo não deu nenhuma garantia de segurança aos dissidentes que retornarão, e o porta-voz do Ministério da Justiça, Mohseni Ejei, advertiu que 'os que cometeram crimes' serão perseguidos.
Além disso, existe a possibilidade de serem condenados à prisão por crimes como traição ou espionagem, risco de confiscarem seus passaportes na chegada ou proibidos de estudar e exercer uma profissão.
Amin, um jovem iraniano exilado na Alemanha que pediu para ocultar seu sobrenome, disse à Agência Efe por e-mail que, apesar de ter saído do país legalmente em uma decisão de 'autoexílio', tem 'alguns problemas para voltar', porque escreveu vários artigos para 'BBC', proibida pelo Irã, e sites iranianos críticos às autoridades.
'Eu gostaria de ver meus entes queridos, mas minha família tem medo que o governo confisque o meu passaporte e não me deixe sair para prosseguir meus estudos', explicou.
Outro dissidente refugiado em um país europeu, Iman, disse à Efe que há diferentes casos entre a diáspora forçada, começando pelos reformistas ativos e aqueles que trabalham com o Comitê do Movimento Verde no Exílio, alguns dos quais tentaram voltar, mas não conseguiram 'por diferentes motivos'.
O outro grupo é formado pelos que foram condenados à prisão e pertenciam a diferentes movimentos, a maioria 'nem sequer pensam em voltar ao Irã', e o último, os que abandonaram o país de forma legal e, uma vez fora, participaram de atividades 'consideradas perigosas e não adequadas', que também temem voltar.
Outro jovem exilado na Alemanha que pediu anonimato disse à Efe que 'a maioria dos que estiveram ativamente envolvidos na Maré Verde e ainda assim querem voltar ao país estão buscando fórmulas de trazer suas famílias para a Europa'.
Mirza, um jovem que vive na França, saiu do Irã em 2010 após ser condenado a sete anos de prisão e cumprir dois anos e meio, acredita que os exilados se dividem 'entre os pessimistas e os otimistas'.
'Eu tenho esperanças com a eleição de Rohani. Sempre há dúvidas, porque com o Irã nunca se pode ter certeza, mas acho que as possibilidades melhoraram', disse por telefone.
No entanto, o jovem reconhece que este não é o clima geral entre os expatriados, já que 'muitos acham que não há esperança, e dizem que as coisas permanecem iguais: Mousavi e Karrubi detidos, centenas de dissidentes presos e os direitos humanos continuam não sendo respeitados'.
'De fato, o Ministério da Justiça disse que se alguém retornar ao país será detido imediatamente. Apesar disso, alguns estão começando a voltar', afirmou.
Mirza declarou que não pensa em tomar esta atitude por medo das represálias, apesar de sentir que para alguém como ele, 'envolvido na participação política, estar exilado significa perder tudo'.
Teerã - O governo de Hassan Rohani estendeu a mão aos dissidentes da Maré Verde que abandonaram o Irã após a repressão aos protestos pela polêmica reeleição de Mahmoud Ahmadinejad em 2009, porém não garante segurança aos que retornarem.
O presidente deu instruções recentemente para que se forme um comitê que 'facilite' o retorno dos milhares de iranianos que fugiram do país após a eleição que a oposição, liderada pelos presos Hossein Mousavi e Mehdi Karrubi, considerou uma fraude.
Dezenas de pessoas morreram em confrontos que se prolongaram durante meses entre os manifestantes e as forças de segurança e milícias, enquanto as equipes de campanha dos líderes reformistas foram detidos, acusados de traição, e por conta das represálias milhares de jovens optaram por abandonar o Irã.
O site 'Al Monitor' informou que o ministro de Inteligência, Mahmoud Alavi, explicou no mês passado que aqueles que não foram acusados de cometer alguma 'violação' podem retornar.
O chefe de gabinete de Rohani, Mohamad Nahavandian, disse que 'o desejo da administração é que o direito dos iranianos de viajar para seu país e sua pátria possa ser realizado'. Já o vice-ministro das Relações Exteriores, Hassan Ghashghavi, afirmou que o país 'não teme o retorno dos iranianos' e 'muitos dos medos são infundados'.
Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), entre 2009 e 2011 mais de 45 mil iranianos apresentaram pedidos de asilo em 44 países, a maioria na Turquia e no Curdistão iraquiano.
Além disso, dezenas de pessoas foram condenadas à prisão e a chicotadas, e muitos estudantes, expulsos de suas universidades.
Após a tomada de poder de Rohani em agosto, o ministro da Educação Superior interino, Jafar Tofighi, pediu aos estudantes que foram expulsos que solicitassem o retorno e em outubro passado disse que cerca de 400 puderam retornar às salas de aula.
Mas a questão do retorno não depende inteiramente do governo, mas, sobretudo, da Justiça, ainda em sua maioria nas mãos dos mais conservadores. Não se trata apenas de serem autorizados a entrar no país, mas deixá-los levar uma vida normal.
Apesar das conciliadoras palavras, o governo não deu nenhuma garantia de segurança aos dissidentes que retornarão, e o porta-voz do Ministério da Justiça, Mohseni Ejei, advertiu que 'os que cometeram crimes' serão perseguidos.
Além disso, existe a possibilidade de serem condenados à prisão por crimes como traição ou espionagem, risco de confiscarem seus passaportes na chegada ou proibidos de estudar e exercer uma profissão.
Amin, um jovem iraniano exilado na Alemanha que pediu para ocultar seu sobrenome, disse à Agência Efe por e-mail que, apesar de ter saído do país legalmente em uma decisão de 'autoexílio', tem 'alguns problemas para voltar', porque escreveu vários artigos para 'BBC', proibida pelo Irã, e sites iranianos críticos às autoridades.
'Eu gostaria de ver meus entes queridos, mas minha família tem medo que o governo confisque o meu passaporte e não me deixe sair para prosseguir meus estudos', explicou.
Outro dissidente refugiado em um país europeu, Iman, disse à Efe que há diferentes casos entre a diáspora forçada, começando pelos reformistas ativos e aqueles que trabalham com o Comitê do Movimento Verde no Exílio, alguns dos quais tentaram voltar, mas não conseguiram 'por diferentes motivos'.
O outro grupo é formado pelos que foram condenados à prisão e pertenciam a diferentes movimentos, a maioria 'nem sequer pensam em voltar ao Irã', e o último, os que abandonaram o país de forma legal e, uma vez fora, participaram de atividades 'consideradas perigosas e não adequadas', que também temem voltar.
Outro jovem exilado na Alemanha que pediu anonimato disse à Efe que 'a maioria dos que estiveram ativamente envolvidos na Maré Verde e ainda assim querem voltar ao país estão buscando fórmulas de trazer suas famílias para a Europa'.
Mirza, um jovem que vive na França, saiu do Irã em 2010 após ser condenado a sete anos de prisão e cumprir dois anos e meio, acredita que os exilados se dividem 'entre os pessimistas e os otimistas'.
'Eu tenho esperanças com a eleição de Rohani. Sempre há dúvidas, porque com o Irã nunca se pode ter certeza, mas acho que as possibilidades melhoraram', disse por telefone.
No entanto, o jovem reconhece que este não é o clima geral entre os expatriados, já que 'muitos acham que não há esperança, e dizem que as coisas permanecem iguais: Mousavi e Karrubi detidos, centenas de dissidentes presos e os direitos humanos continuam não sendo respeitados'.
'De fato, o Ministério da Justiça disse que se alguém retornar ao país será detido imediatamente. Apesar disso, alguns estão começando a voltar', afirmou.
Mirza declarou que não pensa em tomar esta atitude por medo das represálias, apesar de sentir que para alguém como ele, 'envolvido na participação política, estar exilado significa perder tudo'.