Irã e aliados preparam resposta conjunta moderada para Israel após ataques contra Hamas e Hezbollah
Grupos dizem que contraofensiva é 'inevitável e que punição será 'severa', mas analistas acreditam que haverá moderação para evitar uma guerra regional
Agência de notícias
Publicado em 1 de agosto de 2024 às 14h22.
Após os bombardeios contra o Hamas e o Hezbollah, o Irã e os aliados de Teerã no Oriente Médio estão buscando uma resposta coordenada contra Israel, embora os especialistas acreditem que ela será moderada para evitar uma conflagração regional da guerra em Gaza.
Uma reunião em Teerã na quarta-feira reuniu autoridades iranianas e representantes de grupos aliados na região para chegar a um acordo sobre uma posição conjunta, disse uma fonte próxima ao Hezbollah libanês, que pediu anonimato.
— Dois cenários foram mencionados: uma resposta simultânea do Irã e de seus aliados ou uma resposta escalonada de cada lado — acrescentou a fonte.
O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamanei, prometeu na quarta-feira aplicar uma "punição severa" a Israel, acusado de matar o líder do movimento islâmico palestino Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, no início do dia.
O chefe do Hezbollah, Hashan Nasrallah, anunciou nesta quinta-feira que seria "inevitável" responder ao bombardeio israelense que matou Fuad Shukr, chefe militar da formação, em um subúrbio ao sul de Beirute na terça-feira. Israel "cruzou as linhas vermelhas", insistiu Nasrallah, durante um discurso no funeral do oficial sênior.
Coordenação tática
O Hamas também prometeu se vingar de seu líder. Os palestinos perseguirão "Israel até que ele seja arrancado da terra da Palestina", alertou o chefe de relações exteriores do Hamas, Khalil al-Hayya, durante o funeral de Haniyeh em Teerã, nesta quinta-feira.
— É muito provável que a resposta seja coordenada (...) entre os atores da resistência — considerou o analista Amal Saad, especialista em Hezbollah. — O que ocorreu fortalecerá consideravelmente a coordenação tática entre o Irã, o Hezbollah, os houthis, a mobilização popular iraquiana, o Hamas e a Jihad Islâmica palestina.
Os aliados da República Islâmica, incluindo o Hamas e o Hezbollah, fazem parte do que Teerã chama de "eixo de resistência" a Israel.
No Iraque, um líder da Resistência Islâmica, um nebuloso movimento iraquiano pró-iraniano, disse à AFP que a opção mais provável é que "o Irã, juntamente com formações no Iraque, Iêmen e Síria, lance uma resposta contra alvos militares israelenses".
De acordo com esse representante, que pediu anonimato, "o Hezbollah poderia então atacar alvos civis", em resposta ao bombardeio que atingiu seu comandante militar, no qual cinco civis também foram mortos.
Nos últimos meses, a "Resistência Islâmica no Iraque" alegou ter atacado Israel com bombardeios de drones e foguetes.
Os rebeldes houthi do Iêmen, por sua vez, lançaram desde novembro ataques a navios que consideram ligados a Israel no Mar Vermelho, em "apoio" aos palestinos na Faixa de Gaza. Eles também dispararam mísseis contra cidades israelenses.
Guerra generalizada
Os analistas acreditam que a resposta do Irã e de seus aliados será moderada, pois eles procuram evitar uma guerra regional.
— O Irã e o Hezbollah não querem entrar no jogo de Netanyahu e dar a ele a isca ou os pretextos de que ele precisa para arrastar os EUA para uma guerra — avaliou Amal Saad. — Eles tentarão evitar uma guerra e, ao mesmo tempo, dissuadir fortemente Israel.
Nesta quinta-feira, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken , conclamou "todas as partes" no Oriente Médio a reduzir a escalada para evitar uma conflagração.
Para o cientista político e especialista em relações internacionais Ahmad Zeidabadi, "espera-se" do Irã "uma resposta mais forte" do que a de 13 de abril.
Naquele dia, Teerã lançou um ataque de drones sem precedentes aos milhares sobre o território israelense em resposta ao bombardeio do consulado iraniano em Damasco em 1º de abril, que foi atribuído a Israel. Mas, na época, as autoridades iranianas se deram ao trabalho de alertar os EUA sobre a resposta, por meio da embaixada suíça em Teerã.
— Uma repetição da operação anterior não fará muito sentido, porque os mísseis e drones não atingiram as áreas sensíveis e não tiveram efeito dissuasivo — explicou o especialista iraniano.
O cientista político, no entanto, descartou a possibilidade de uma "guerra generalizada, total e incontrolável".
— A única coisa que conta para o Irã é a sobrevivência do regime, assim como para o Hezbollah — explicou Rodger Shanahan, analista especializado no Oriente Médio. — O Irã exercerá forte pressão sobre os israelenses em nome dos palestinos, mas não arriscará uma ameaça existencial.