Programa nuclear iraniano está há anos no centro de crise entre o Irã e grandes potências ocidentais, que acusam Teerã, apesar das negativas, de buscar obtenção de armas atômicas (AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2013 às 16h20.
O Irã assumiu nesta segunda-feira o controle da central nuclear civil de Bushehr, construída pelos russos no sul, no momento em que o programa atômico iraniano está no centro de uma crise com o Ocidente.
"Após 37 anos de espera (..) uma equipe de engenheiros iranianos assume hoje o controle das operações" em Bushehr, declarou Ali Akbar Salehi, chefe da Organização Iraniana de Energia Atômica (OIEA).
Durante a cerimônia em Bushehr, a Rússia e o Irã assinaram um contrato que transmite aos engenheiros iranianos a gestão por dois anos da única central nuclear civil do país, indicou a agência de notícias Isna.
O projeto foi iniciado em 1974 pela companhia alemã Siemens, que não quis prosseguir com os trabalhos após a revolução islâmica de 1979.
As obras foram interrompidas durante a guerra Irã-Iraque (1980-88), antes de Moscou retomar a construção da central em 1995. Vários incidentes técnicos adiaram a sua inauguração.
Sua produção foi iniciada em 2011 e chegou a sua capacidade máxima em 2013.
O programa nuclear iraniano está há vários anos no centro de uma crise entre o Irã e as grandes potências ocidentais, que acusam Teerã, apesar das negativas, de buscar a obtenção de armas atômicas.
A central, cujas atividades são supervisionadas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), só estará inteiramente sob controle iraniano em 2015.
"Há uma garantia de dois anos, durante os quais os especialistas russos estarão presentes", indicou Salehi.
"Durante este período, se houver algum problema, a companhia russa responsável deverá resolvê-lo", explicou.
Bushehr foi construída pela Agência Federal russa de Energia Atômica (Rosatom). Sua gestão será confiada à Companhia iraniana de Produção e Desenvolvimento de Energia Atômica, que depende da OIEA.
Os russos devem fornecer combustível da central por 10 anos e recuperar o combustível usado.
Segundo os observadores estrangeiros, o controle da central é muito importante para o Irã, que passará a não ser mais dependente do exterior.
Mas os países ocidentais e seus vizinhos estão preocupados, especialmente após o acidente nuclear de Fukushima, em março de 2011, com a confiabilidade da central, construída em uma zona sísmica. De fato, está mais próxima dos países do Golfo do que de Teerã.
Em 9 de abril, um terremoto de 6,1 graus de magnitude atingiu uma região rural no sul do país, cujo epicentro foi a cerca de 100 km de Bushehr. As autoridades garantiram que o terremoto não danificou a central.
De acordo com os ocidentais, outro perigo reside na capacidade de os engenheiros iranianos combinarem materiais de diferentes origens: peças alemãs (Siemens), russas e iranianas.
O Irã poderia expandir as suas instalações nucleares civis com a construção, pela Rússia, de uma segunda usina de 1.000 megawatts em Bushehr.
"As negociações estão em andamento e têm progredido bem", afirmou Salehi no domingo, acrescentando que as obras devem "começar em breve".
Em 11 de setembro, o jornal russo Kommersant, citando uma fonte próxima ao Kremlin, disse que Moscou estava pronto para assinar um acordo com Teerã para construir um segundo reator em Bushehr.
O Irã diz querer produzir no futuro 20.000 megawatts de eletricidade nuclear, o que requer a construção de 20 centrais de 1.000 megawatts.