Mundo

Investigação na Austrália pede fim do celibato na Igreja Católica

Uma das maiores apurações sobre abuso sexual infantil entrevistou 7 mil vítimas e constatou que a maioria dos casos aconteceram em instituições religiosas

Brinquedo infantil: mais da metade das vítimas tinha entre 10 e 14 anos de idade quando os crimes aconteceram (eranicle/Thinkstock)

Brinquedo infantil: mais da metade das vítimas tinha entre 10 e 14 anos de idade quando os crimes aconteceram (eranicle/Thinkstock)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 15 de dezembro de 2017 às 11h05.

Última atualização em 15 de dezembro de 2017 às 11h36.

São Paulo – Depois de cinco anos de investigação, a Comissão Real da Austrália que apura abusos sexuais infantis está recomendando que a Igreja Católica derrube a obrigatoriedade do celibato para seus clérigos, uma vez que tal condição pode aumentar os riscos, notou um relatório divulgado nesta sexta-feira, 15.

Uma das maiores apurações sobre o tema já vistas no mundo, a averiguação durou cinco anos e resultou em um documento de 17 volumes e 189 recomendações de ações para o governo e instituições religiosas.

A investigação não focou apenas na Igreja Católica e incluiu outras entidades religiosas, abrigos para menores e escolas. No entanto, a questão dentro dessa instituição é urgente. Um relatório anterior publicado no início do ano trouxe um dado assustador: entre 1950 e 2005, ao menos 7% dos padres católicos na Austrália foram acusados de abuso sexual.

Agora, foram entrevistadas 7 mil vítimas e 61,4% daqueles que foram abusados em uma instituição religiosa citaram que o caso ocorreu na Igreja Católica. 64,3% dos entrevistados eram homens e mais da metade tinha entre 10 e 14 anos de idade quando os crimes aconteceram. 93,8% foram abusados por homens e 83,8% foram vítimas de adultos. Constatou-se, ainda que a duração média dos abusos foi de 2,2 anos.

Além da medida relacionada ao celibato, há, ainda, a sugestão para uma lei que torne obrigatório que clérigos reportem às autoridades os casos de abusos sexuais infantis relatados durante confissões. Sugere também que a Santa Sé passe a considerar esse tipo de violência um crime à luz do Direito Canônico.

Resposta

Assim que o relatório foi divulgado na Austrália, membros do alto escalão da Igreja Católica no país se manifestaram sobre suas recomendações e conclusões. O Arcebispo de Sydney, Anthony Fisher, disse em entrevista à rede de notícias CNN, que a sugestão de fim do celibato obrigatório é uma “distração”, já que isso não necessariamente impactaria no fim dos abusos.

“Sabemos que tanto as instituições que tem clérigos celibatários quanto as que não tem enfrentam esse problema”, disse ele, “é uma questão para toda a sociedade”, concluiu. Sobre a confissão, Fisher considerou que isso “machucaria os católicos e cristão ortodoxos e que não ajudaria nenhum jovem”. Reconheceu, ainda, que os casos relacionados à Igreja Católica mancharam a sua reputação. “Estou envergonhado pelo fracasso da resposta”, concluiu.

Já o Arcebispo de Melbourne, Denis Hart, disse que, embora ele não pudesse reportar revelações feitas no âmbito da confissão, insistiria para que a pessoa procurasse as autoridades e que se recusaria a oferecer absolvição enquanto isso não acontecesse. Ambas figuras reforçaram o compromisso da Igreja na luta contra o abuso sexual infantil.

O primeiro ministro da Austrália, Malcolm Turnbull, considerou que a investigação expôs “uma tragédia nacional” e que o governo irá avaliar todas as recomendações trazidas pelo documento e responderá a todas elas no ano que vem. Desde 1980, a Igreja Católica na Austrália pagou mais de 212 milhões de dólares em compensações às vítimas.

Acompanhe tudo sobre:abuso-sexualAustráliaCriançasDireitos HumanosIgreja CatólicaReligião

Mais de Mundo

Novo líder da Síria promete que país não exercerá 'interferência negativa' no Líbano

Argentinos de classe alta voltam a viajar com 'dólar barato' de Milei

Trump ameaça retomar o controle do Canal do Panamá

Biden assina projeto de extensão orçamentária para evitar paralisação do governo