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Inglaterra se divide sobre noiva do EI que quer voltar para casa

A britânica Shamima Begum, de 19 anos, está em um campo de refugiados na Síria depois de fugir,do pequeno reduto onde o EI está encurralado

Shamima Begun, Amira Abase e Kadiza Sultana (da esquerda para a direita), que deixaram o Reino Unido para se juntar ao EI (Metropolitan Police/Reuters)

Shamima Begun, Amira Abase e Kadiza Sultana (da esquerda para a direita), que deixaram o Reino Unido para se juntar ao EI (Metropolitan Police/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 13h42.

A opinião pública no Reino Unido está dividida sobre o destino de uma jovem britânica que se uniu ao grupo extremista Estado Islâmico (EI) na Síria e que, agora, deseja retornar ao seu país, mas sem expressar arrependimento pelo que fez.

Shamima Begum, de 19 anos, natural de Londres, está em um campo de refugiados no nordeste da Síria depois de fugir, como centenas de parentes de jihadistas do EI, dos combates no pequeno reduto onde estão encurralados.

Dizendo-se grávida de nove meses de seu terceiro filho, após a morte dos dois primeiros bebês, ela afirmou ao jornal The Times que gostaria "voltar e viver pacificamente com seu filho".

A jovem, que fugiu para a Síria em fevereiro de 2015 com duas adolescentes da mesma escola, acrescentou, porém, que não se arrepende de nada e que não ficou perturbada ao ver pela primeira vez uma "cabeça cortada" em uma lata de lixo.

Ela também se sente envergonhada por ter abandonado o EI em um momento em que o grupo se encontra sitiado em seu último reduto na Síria.

Este testemunho, que expõe o desafio dos governos ocidentais diante do retorno de jihadistas estrangeiros e suas famílias, dividiu o país entre aqueles que exigem o seu banimento e aqueles que pedem clemência.

"Compaixão"

No Times, sua família pediu "compaixão", enfatizando sua pouca idade - 15 - quando partiu.

"O desejo de proibir a mulher de um jihadista que não expressa remorso é compreensível, mas o Reino Unido é melhor que isso", escreveu um colunista do jornal.

No mesmo sentido, Richard Barrett, ex-chefe do MI6, o serviço de inteligência externo britânico, argumenta no Guardian que é preciso dar "uma chance, se respeitarmos os nossos valores".

Para a associação Cage, que denuncia os abusos da luta contra o terrorismo, Shamima Begum "deve ser autorizada a retornar ao Reino Unido para (...) aprender e reconhecer quanto a organização à qual se juntou desviava-se dos princípios básicos do Islã".

Esses pedidos de clemência não suavizaram a postura do governo.

"Devemos lembrar que aqueles que deixaram o Reino Unido para se juntarem ao Daesh (o acrônimo em árabe para o Estado Islâmico) estavam cheios de ódio pelo seu país", declarou o ministro do Interior, Sajid Javid.

"Minha mensagem é clara: se você apoiou organizações terroristas no exterior, não hesitarei em impedir seu retorno. Se você conseguir voltar, deve esperar ser interrogado, investigado e, eventualmente, processado".

Quinta-feira, o secretário de Estado para a Segurança Interna, Ben Wallace, excluiu ajudar Shamima Begum: "As pessoas que foram para lá (ed: Síria) como amadores são agora terroristas profissionais ou apoiantes profissionais do terrorismo ".

"Jovem ideóloga"

Especialistas acreditam, no entanto, que é difícil impedir legalmente o retorno de Shamima Begum, portadora de passaporte britânico, que só pode ser retirado em caso de dupla nacionalidade ou condenação por um crime grave.

No entanto, não deve ser considerada uma vítima, ressalta Raffaello Pantucci, diretor de estudos em segurança internacional do Instituto RUSI, em Londres.

"Temos o hábito perigoso de minimizar a importância das mulheres em organizações extremistas. Os preconceitos usuais sobre o 'sexo frágil' nos levam a atribuir-lhes um papel passivo", advertiu no Daily Telegraph.

"Inicialmente vista como uma pessoa ingênua que foi manipulada ou coagida, ela parece ter se tornado uma jovem ideóloga impenitente", acrescenta ele.

Em junho de 2018, as autoridades britânicas estimaram que 900 pessoas estavam combatendo no Iraque e na Síria, dos quais pouco menos de 200 foram mortos e cerca de 400 retornaram ao Reino Unido. Quarenta deles foram processados. Cerca de 200 jihadistas britânicos ainda estão na região de conflito, de acordo com o contraterrorismo britânico.

Em dezembro de 2017, o ministro da Defesa britânico, Gavin Williamson, estimou que os combatentes do EI britânicos deveriam ser localizados e mortos, e não autorizados a retornar ao país.

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