Indústria eólica tem agora o desafio de se consolidar
Segundo associação e empresários do setor, fonte alternativa precisa de leilões exclusivos para ganhar escala e competitividade nos próximos dez anos
Vanessa Barbosa
Publicado em 15 de agosto de 2011 às 18h14.
São Paulo – Um leilão exclusivo de 2GW por ano. Essa é a condição ideal para a indústria eólica se consolidar no Brasil no prazo de oito a dez anos, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Com isso, o setor ganharia escala e competitividade frente a outras fontes energéticas mais maduras.
Atualmente, a energia que vem dos ventos responde por 0,8% da matriz energética nacional, mas segundo projeções feitas pela EPE, no Plano Decenal de Expansão de Energia, a participação da eólica pode chegar a 7% em 2020. Para Ricardo Maya Simões, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeelica) o setor possui o dobro do potencial previsto pela EPE – mas só se tiver leilões exclusivos.
Durante participação no 12º Encontro Internacional de Energia, nesta segunda em São Paulo, ele manifestou preocupação quanto ao próximo leilão de energia, o A-3, que acontece na quarta (17), com início de suprimento de energia elétrica em 1º de março de 2014. “Estou muito receoso com o resultado de um leilão onde competem uma fonte juvenil, como a eólica, e outra mais madura, como gás natural ou termelétrica”, afirmou.
Os fabricantes e fornecedores do setor também manifestam preocupação quanto ao ganho de escala para consolidação da indústria e atração de investimento. “Tenho muito medo de um uma guerra de preços de tarifa em que o governo fixe um teto muito baixo. Seria um tiro no pé em algo que começou bem", destaca Pedro Ângelo Vial, diretor-presidente da Wobben Windpower, empresa alemã de equipamentos eólicos e a primeira fabricante de aerogeradores de grande porte no Brasil, onde chegou há 16 anos.
“Em um determinado momento os fabricantes podem ser forçados a não vender para não quebrar", disse. Segundo Ângelo, é uma ilusão pensar que o Brasil vai manter uma série de fabricantes de equipamentos por aqui se não houver um número de projetos suficientes que garantam escala de produção.
Além disso, há outros entraves para a consolidação da indústria eólica brasileira, como problemas dos altos custos de logística de transporte local e falta de mão de obra capacitada. “Hoje, é muito mais barato trazer máquinas da China ou da Alemanha para o Rio Grande do Sul do que transportar equipamento do Nordeste para o sul do país”, critica Luis E. Pescarmona, diretor geral da Impsa no Brasil, maior investidora em eólica da América Latina.