Greta e Bolsonaro: presidente rebateu comentários da ativista sobre morte de indígenas (Montagem/EXAME/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 10 de dezembro de 2019 às 10h00.
Última atualização em 10 de dezembro de 2019 às 14h00.
Brasília e São Paulo — O presidente Jair Bolsonaro chamou nesta terça-feira (10), a ativista ambiental sueca Greta Thunberg, de 16 anos, de "pirralha" e criticou o espaço que a imprensa dá a ela. Em resposta, Greta mudou a descrição de seu Twitter para "Pirralha".
Bolsonaro se referiu a Greta quando questionado sobre a morte de dois indígenas guajajara no Maranhão, no sábado.
"Índio? Qual o nome daquela menina lá? De fora, lá? Greta. A Greta já falou que os índios morreram porque estavam defendendo a Amazônia. É impressionante a imprensa dar espaço para uma pirralha dessa aí. Pirralha", disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada.
Após a morte dos indígenas, Greta escreveu em uma rede social que "os povos indígenas estão literalmente sendo assassinados por tentar proteger a floresta do desmatamento ilegal" e que é "vergonhoso que o mundo permaneça calado sobre isso".
Questionado novamente sobre a morte dos indígenas, Bolsonaro disse que "qualquer morte preocupa" e que é contrário a "tudo que for contra a lei".
"Preocupa, qualquer morte preocupa. Nós queremos cumprir a lei, somos contra o desmatamento ilegal, somos contra a queimada ilegal. Tudo que for contra a lei nós somos contra."
As críticas da ativista não se restringiram apenas as redes sociais. Na segunda-feira (9), Greta compareceu à cúpula climática da ONU, em Madrid, e afirmou que os direitos indígenas estão sendo violados em todo o mundo, e que eles estão entre os mais atingidos pelas emergências climáticas.
“Os direitos deles estão sendo violados em todo o mundo, e eles também estão entre os mais atingidos, e mais rapidamente, pela emergência climática e ambiental”, disse Greta a respeito das comunidades indígenas.
É a segunda vez que a ativista é insultada por um chefe de Estado. Em setembro deste ano, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump ironizou a atuação da jovem após seu discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
"Ela parece ser uma jovem menina muito feliz, que está a caminho de um futuro maravilhoso e brilhante. Muito bom ver isso!", disse Trump. Na época, Greta também ironizou a definição a colocando na descrição do seu perfil.
Greta se tornou um símbolo global do movimento de combate às mudanças climáticas no ano passado, quando começou a protestar de forma solitária do lado de fora do Parlamento sueco, gesto que se transformou no Fridays for The Future e foi replicado ao redor do mundo.
Em setembro, o movimento culminou nas maiores manifestações da história sobre mudanças climáticas, envolvendo mais de 4 milhões de pessoas em 163 países.
O governo Bolsonaro, por outro lado, decidiu não sediar a COP 25, mandou representantes para uma conferência de negacionistas e tem em seu governo vários membros que questionam a ação humana nas mudanças climáticas, um consenso na comunidade científica.
O site da NASA nota que os estudos de publicações científicas revistos por seus pares mostram que 97% dos cientistas que ativamente publicam trabalhos sobre o tema concordam ser “extremamente provável” que as tendências de aquecimento global no último século sejam resultado da atividade humana.