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Imagine um mundo onde os piores cenários se tornam realidade

Imagine cenários como a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, o aumento dos preços do petróleo e a saída de Angela Merkel do governo alemão


	Donald Trump: Trump promete aumentar o exército, proibir os muçulmanos de entrarem nos EUA e construir um muro ao longo da fronteira para manter os imigrantes mexicanos fora do país
 (Getty Images)

Donald Trump: Trump promete aumentar o exército, proibir os muçulmanos de entrarem nos EUA e construir um muro ao longo da fronteira para manter os imigrantes mexicanos fora do país (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 15 de dezembro de 2015 às 21h39.

Em uma noite sem nuvens de março no Iraque, a planície desértica da península de Faw e uma vila curda próxima à Síria e à Turquia ficam em chamas.

Na manhã seguinte, o Estado Islâmico reivindica a responsabilidade pela destruição dos maiores oleodutos do país.

O mundo imediatamente perde 3,5 milhões de barris diários em exportações.

Enquanto o Iraque luta para realizar o conserto, eclode a violência na região rica em petróleo do Delta do Níger, a Argélia entra em caos com a morte de seu presidente e há um golpe de Estado na Venezuela.

A abundância de reservas protege a economia global por um tempo, mas o setor está operando com a menor capacidade excedente em anos. O barril de petróleo acaba subindo para mais de US$ 100.

O Federal Reserve reverte sua política de aumento dos juros para evitar uma recessão global.

Impossível ou plausível? Os investidores não podem ignorar este ou outros dos chamados cenários “cisnes negros” após um ano que surpreendeu o mundo com fluxos recorde de refugiados e ataques terroristas brutais.

Em 2016, os acontecimentos inesperados terão uma importância maior quando o Fed encerrar uma era de crédito superbarato. Os mercados perderão a blindagem para os choques geopolíticos, como a Primavera Árabe e a anexação da Crimeia.

Pouca munição

“Existe pouca munição aplicável para mitigar esse tipo de risco”, disse Tina Fordham, chefe de análise política global do Citigroup Inc. “Os bancos centrais ainda têm a maior parte das balas e nós já cruzamos o Rubicão em termos de medidas extraordinárias”.

A Bloomberg discutiu uma série de possíveis eventos de alto impacto, como a vitória de um aventureiro na eleição presidencial dos EUA, a decisão dos britânicos de votarem pela saída do país da União Europeia e a derrubada de Wall Street por hackers, com dezenas de ex e atuais diplomatas, economistas, investidores, estrategistas geopolíticos e consultores de segurança.

Os cenários foram avaliados e classificados por 119 economistas em uma pesquisa.

O top 3

Pouco mais de um quarto escolheu o aumento dos preços do petróleo devido aos ataques do Estado Islâmico como o maior desafio à economia global.

Em segundo lugar vieram a saída do Reino Unido da União Europeia e o colapso do sistema financeiro provocado por um ciberataque. A Nightberg, uma empresa independente de pesquisa macro global com sede em Nova York que tem fundos hedge entre seus clientes, atribuiu a esses três acontecimentos probabilidades de 25, 20 e 10 por cento, respectivamente.

Alguns riscos são bem conhecidos.

Se o Fed elevar as taxas muito rapidamente, o capital poderia fugir dos mercados emergentes e os calotes soberanos se espalharão. Se a economia da China estiver em pior forma do que se espera -- como sugere a queda na demanda por metais e por outros bens mineiros -- poderiam surgir distúrbios civis que reduziriam a autoridade do Partido Comunista, que está no poder.

O declínio da América Latina poderia continuar, com o Brasil entrando em uma depressão completa ao organizar as Olimpíadas e a Venezuela se transformando em um estado falido.

Tempos desanimadores

“Caminhamos para um período de crescimento econômico desanimador que ressalta os custos e as distorções criadas por anos de políticas pouco ortodoxas em várias economias importantes”, disse Alberto Ramos, economista-chefe latino-americano do Goldman Sachs Group Inc.

O Société Générale SA, em seu gráfico anual de cisnes negros, disse que uma aterrissagem difícil da China -- uma desaceleração severa após um ciclo de crescimento rápido -- poderia levar a economia mundial à recessão. O banco atribuiu uma probabilidade de 30 por cento a esse cenário.

“Quando a China tenta morder mais do que consegue mastigar, a mordida é grande”, disse Paul Brewbaker, ex-economista-chefe do Banco do Havaí que atualmente administra a empresa de consultoria TZ Economics.

Existe uma certa dose de superficialidade ao imaginar os cisnes negros, mas quando eles se concretizam, são uma “lição de humildade” que muda a vida das autoridades e dos mercados, disse Jacob Funk Kirkegaard, do Instituto Peterson de Economia Internacional em Washington. Ele citou a crise financeira de 2008, a Primavera Árabe e o colapso de Fukushima como eventos inesperados que foram mal interpretados em seus respectivos momentos.

Vitória de Trump

Os Estados Unidos poderiam proporcionar uma das maiores surpresas do ano se Hillary Clinton repentinamente abandonasse a corrida presidencial, abrindo o caminho para a Casa Branca para um estreante como o republicano Donald Trump.

O bilionário promete aumentar o exército, proibir os muçulmanos de entrarem nos EUA e construir um muro ao longo da fronteira para manter os imigrantes mexicanos fora do país.

Um republicano no poder poderia destinar mais dinheiro para a defesa, especialmente com os crescentes desafios de segurança, como o

Estado Islâmico, o conflito sírio e o comportamento de risco da Rússia, segundo George Ferguson, analista aeroespacial sênior da Bloomberg Intelligence.

Entre os beneficiários dessas políticas estariam a Raytheon Co., a Lockheed Martin Corp. e a Boeing Co., disse ele.

Queda de Merkel

Na Europa, os investidores temem que a chanceler alemã, Angela Merkel, possa ser destituída devido à sua política enfática de manter as portas abertas em um momento em que uma onda de ataques terroristas e uma xenofobia crescente envolvem o continente.

Isso aumenta as chances de que assuma um sucessor com poucos escrúpulos, capaz de abandonar à própria sorte a Grécia e outros países periféricos.

Uma grande crise da UE poderia levar a uma forte corrida para venda nos mercados de ações, destino favorito do capital de investimento nos anos anteriores, e a um considerável enfraquecimento do euro, prevê a Nightberg. Com os capitais em alerta máximo, as fronteiras fechadas seriam um golpe ao comércio e esfriariam um crescimento já anêmico.

Saída do Reino Unido

O mal-estar também poderia afetar o Reino Unido, onde as pesquisas mostram um crescimento do ceticismo em relação à zona do euro em um momento em que o primeiro-ministro David Cameron tenta negociar condições melhores para a permanência no clube formado por 28 membros. Um referendo poderia ser realizado no início do ano que vem; bancos como UBS e Morgan Stanley estão alertando seus clientes a prestarem atenção nas chances de vitória do grupo que defende a saída da UE.

Banqueiros importantes têm dito que uma votação em prol da saída da UE poderia reduzir a importância de Londres como centro europeu das finanças. O efeito dominó poderia incluir um novo impulso pela independência dos escoceses e de outros movimentos separatistas.

Há um cenário que transcende as fronteiras: um ataque cibernético que cause estragos em algum sistema financeiro importante.

Grupos extremistas como o Estado Islâmico poderiam se unir a hackers criminosos mercenários do Leste Europeu para lançar ataques a plataformas de pagamentos ou de negociação eletrônica. Desde contas bancárias on-line até usinas e redes elétricas controladas por computadores, tudo ficaria em risco nesse cenário.

Cisnes negros positivos

Alguns cisnes negros poderiam ter conotações positivas. Um exemplo: o presidente russo, Vladimir Putin, poderia se tornar um intermediário da paz em uma Síria devastada pela guerra.

Se Putin puder trabalhar com a comunidade internacional para contribuir para uma transição política na Síria -- embora ainda não se saiba como se poderia resolver as persistentes diferenças em relação ao futuro do presidente Bashar al-Assad --, serão maiores as possibilidades de cancelamento de sanções, o que facilitaria que a Rússia saísse da recessão.

“Imagine se há três meses seria possível imaginar que os EUA e a Rússia poderiam trabalhar” por um objetivo comum, disse o enviado especial das Nações Unidas à Síria, Staffan de Mistura, neste mês, em Roma. “Talvez não haja luz no fim do túnel, mas ao menos agora temos um túnel”.

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