Ignorar indígenas alimenta aquecimento global, diz estudo
Mais da metade do carbono na Amazônia poderia ser liberada na atmosfera, a menos que os direitos indígenas sejam protegidos, mostra estudo
Da Redação
Publicado em 2 de dezembro de 2014 às 21h49.
Roma - Mais da metade do carbono na Amazônia poderia ser liberada na atmosfera a menos que os direitos territoriais indígenas sejam protegidos, afirmou um novo estudo nesta terça-feira, enquanto acontece a cúpula climática da Organização das Nações Unidas ( ONU ) em Lima, no Peru .
Territórios indígenas e áreas naturais protegidas em nove países sul-americanos representam mais da metade do carbono presente na Amazônia, mostrou o estudo publicado no periódico Carbon Management.
Se estas terras forem exploradas para a extração de madeira, a mineração ou a agricultura comercial, a maior parte do carbono será lançado na atmosfera, acelerando o aquecimento global, afirmou o documento "O Carbono das Florestas na Amazônia: As Contribuições Ignoradas dos Territórios Indígenas e das Áreas Naturais Protegidas".
"O reconhecimento e o investimento internacionais em áreas indígenas e naturais são essenciais para garantir sua contribuição contínua para a estabilidade do clima global", disse Richard Chase Smith, da organização não governamental peruana Instituto del Bien Común, em um comunicado.
Os territórios dos povos indígenas amazônicos guardam mais carbono florestal que países tropicais inteiros, como a Indonésia e a República Democrática do Congo, afirmou Wayne Walker, cientista que trabalhou no estudo.
O interesse de fazendeiros, mineradoras e barões da madeira nos recursos da Amazônia pode forçar os indígenas a sair de suas terras e contribuir para o desflorestamento, liberando mais carbono na atmosfera.
Mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados de áreas amazônicas protegidas, uma região maior que a Amazônia colombiana, equatoriana e peruana combinadas, estão em risco, aponta o estudo.
"Nunca estivemos sob uma pressão tão grande", afirmou em comunicado o presidente do grupo ativista Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica, Edwin Vásquez.
A Amazônia engloba 2.344 territórios indígenas e 610 áreas protegidas.
Preservar estes territórios custaria entre 2 bilhões e 4 bilhões de dólares, disseram os autores do documento, argumentando que os compromissos atuais de financiamento para reduzir o desflorestamento poderiam cobrir a despesa.
A destruição de ecossistemas ricos em carbono na Amazônia diminuiria sua capacidade de funcionar apropriadamente, causando um dano potencialmente irreversível à atmosfera, disse o estudo.
É o que sugere um relatório que sintetiza, pela primeira vez, cerca de duzentos dos principais estudos e artigos científicos sobre o papel da floresta amazônica no sistema climático, na regulação das chuvas e na exportação de serviços ambientais para regiões distantes. Conduzido pelo pesquisador Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE), a pedido da Articulación Regional Amazónica (ARA), o estudo “O Futuro Climático da Amazônia” revela os poderes invisíveis desta máquina de regulação ambiental, chamada pelos cientistas de “oceano verde”, e os impactos de sua destruição. “As florestas tropicais são muito mais que uma aglomeração de árvores, repositório passivo de biodiversidade ou simples estoque de carbono. Sua tecnologia viva e dinâmica de interação com o ambiente lhes confere poder sobre os elementos, uma capacidade inata e resiliente de condicionamento climático. Elas condicionam o clima que lhes favoreça, e com isso geram estabilidade e conforto, cujo abrigo dá suporte ao florescimento de sociedades humanas”, define Nobre. Como o clima interage com a vegetação, a mudança de um gera efeito no outro. Dessa forma, o ataque implacável da motosserra na floresta é capaz de alterar sobremaneira o mecanismo das chuvas. Sem precipitação, a floresta pega fogo. O fogo consome tudo o que há pela frente, incluindo as árvores grandes, tão necessárias para a manutenção do equilíbrio hidrológico. Segundo o pesquisador, reduzir a zero o desmatamento já não é suficiente para garantir segurança ao sistema. É preciso recuperar tudo aquilo que foi ceifado, o que não é pouco: no Brasil significa uma área de 763 mil Km2, o que equivale a três estados de São Paulo ou a 184 milhões de campos de futebol. Conheça a seguir cinco descobertas importantes para a chamada “ecohidrologia” amazônica, conforme o relatório >
![1. A floresta jorra volumes colossais de água para a atmosfera](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_dv1428042.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
2 /6(foto/Getty Images)
![2. Ajuda a formar nuvens "carregadas"](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_nuvem.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
3 /6(Don Emmert/AFP)
![3. Garante chuva (mesmo em tempo de seca)](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_desmatamento-amazonia2.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
4 /6(Wev’s Bronw/Creative Commons)
![4. Exporta rios aéreos para outras regiões](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_rio-amazonas.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
5 /6(Divulgação/ESA/NASA)
![5. É um "freio" para eventos extremos](https://classic.exame.com/wp-content/uploads/2016/09/size_960_16_9_nasa-tufao.jpg?quality=70&strip=info&w=920)
6 /6(AFP)