Idosos recorrem à imigração para fugir da crise em Portugal
O fluxo migratório no país não apresenta sinais de redução mesmo diante da recente - e ligeira - melhora dos indicadores econômicos
Da Redação
Publicado em 10 de março de 2014 às 08h52.
Lisboa - Eduardo Lino tem mais de 60 anos, exerce a profissão de chapeiro e está desempregado, mas, meses antes de deixar de receber o seguro-desemprego , já se preparava para emigrar pela primeira vez em sua vida, uma viagem que realizará sozinho, ou seja, sem sua mulher, filhos e netos.
Histórias como a de Lino são cada vez mais frequentes em Portugal , um país onde o fluxo migratório não apresenta sinais de redução mesmo diante da recente - e ligeira - melhora dos indicadores econômicos.
Apesar do fato de ter que sair do país para encontrar um emprego não ser algo novo para os portugueses, os números atuais evidenciam verdadeiros êxodos: cerca 80 mil pessoas realizaram essa viagem a cada ano desde 2008, segundo os dados oferecidos pelo Observatório de Emigração de Portugal.
Estes números são especialmente relevantes dado o tamanho de Portugal, onde vivem pouco mais de 10 milhões de habitantes. Neste sentido, calcula-se que cerca de 2 milhões de portugueses já se encontram no exterior.
Em contraste com outros países europeus em crise, a emigração lusa não é uma questão restrita aos mais jovens, embora estes sejam a maioria. Muitos deles se mostram altamente qualificados e ávidos por encontrar uma primeira oportunidade de emprego, uma situação que não possui relação com a dos imigrantes mais velhos.
"Eu nunca tinha emigrado na minha vida. Sempre tive trabalho desde meus 14 anos, quando comecei. Menos mal que ainda recebi o seguro desemprego, mas, caso contrário, minha situação seria desesperadora", declarou à Agência Efe Lino, morador de um município próximo a Setúbal, ao sul de Lisboa.
Apesar de ter ocupado diferentes cargos de responsabilidade durante sua carreira profissional - e de ter tentado se atualizar com programas de design, Lino perdeu seu emprego há alguns anos e, desde então, só conseguiu um emprego provisório de seis meses, que teve seu contrato cancelado no final de 2013.
Assim como muitos de seus compatriotas, Angola, uma antiga colônia portuguesa, aparece agora como uma opção real para encontrar emprego durante seus últimos anos de vida de trabalho. Após entrar em contato com membros da indústria do alumínio, o trabalhador já organiza sua mudança para o país africano.
"Irei sozinho, minha esposa tem aqui um negócio e ainda resiste minimamente. Meus filhos também trabalham, mesmo com contratos temporários e salários muito baixos, e não poderão ir, assim como meus netos... Mas, minha família compreende essa minha decisão", relatou.
Embora não haja estatísticas oficiais sobre uma idade certa para imigração em Portugal, o Observatório de Emigração admite que exista "evidências empíricas" que refletem que o caso de Lino não é isolado.
"Normalmente, a maioria dos emigrantes são jovens e sem filhos, mas, em tempos de crise, desemprego e de perda acentuada de renda no seio familiar, as pessoas mais velhas também estão aptas a tomar essa mesma decisão", explicou à Efe o presidente deste organismo público, Rui Pena.
As baixas aposentadorias pagas pelo Estado português - 87% não superam 1 mil euros mensais - também justifica este movimento migratório entre os mais velhos.
Uma simples olhada nos sites de busca de emprego no exterior surgidos após a crise - a taxa de desemprego é de 15,3%, a quinta mais alta de toda a UE - é suficiente para perceber que os maiores de 50 anos se mostram cada vez mais interessados.
"Tratamos de muitos processos de homens acima dessa idade e, inclusive, recebemos hoje a solicitação de uma pessoa de mais de 70 anos", informaram à Agência Efe uma fonte da VistosExpress, uma empresa especializada na tramitação de documentos para emigração.
Das mais de 875 mil pessoas que estão no país sem emprego, um terço tem mais de 45 anos, segundo dados oficiais, estatísticas nas quais Lino é apenas um número a mais.
Ciente das dificuldades encontradas em seu país, a decepção parece tomar conta do discurso de Lino, que não consegue esconder sua decepção com sua terra natal: "Em Portugal, a experiência não serve para nada. Os velhos estão sendo afastados. Não temos mais futuro aqui".
Lisboa - Eduardo Lino tem mais de 60 anos, exerce a profissão de chapeiro e está desempregado, mas, meses antes de deixar de receber o seguro-desemprego , já se preparava para emigrar pela primeira vez em sua vida, uma viagem que realizará sozinho, ou seja, sem sua mulher, filhos e netos.
Histórias como a de Lino são cada vez mais frequentes em Portugal , um país onde o fluxo migratório não apresenta sinais de redução mesmo diante da recente - e ligeira - melhora dos indicadores econômicos.
Apesar do fato de ter que sair do país para encontrar um emprego não ser algo novo para os portugueses, os números atuais evidenciam verdadeiros êxodos: cerca 80 mil pessoas realizaram essa viagem a cada ano desde 2008, segundo os dados oferecidos pelo Observatório de Emigração de Portugal.
Estes números são especialmente relevantes dado o tamanho de Portugal, onde vivem pouco mais de 10 milhões de habitantes. Neste sentido, calcula-se que cerca de 2 milhões de portugueses já se encontram no exterior.
Em contraste com outros países europeus em crise, a emigração lusa não é uma questão restrita aos mais jovens, embora estes sejam a maioria. Muitos deles se mostram altamente qualificados e ávidos por encontrar uma primeira oportunidade de emprego, uma situação que não possui relação com a dos imigrantes mais velhos.
"Eu nunca tinha emigrado na minha vida. Sempre tive trabalho desde meus 14 anos, quando comecei. Menos mal que ainda recebi o seguro desemprego, mas, caso contrário, minha situação seria desesperadora", declarou à Agência Efe Lino, morador de um município próximo a Setúbal, ao sul de Lisboa.
Apesar de ter ocupado diferentes cargos de responsabilidade durante sua carreira profissional - e de ter tentado se atualizar com programas de design, Lino perdeu seu emprego há alguns anos e, desde então, só conseguiu um emprego provisório de seis meses, que teve seu contrato cancelado no final de 2013.
Assim como muitos de seus compatriotas, Angola, uma antiga colônia portuguesa, aparece agora como uma opção real para encontrar emprego durante seus últimos anos de vida de trabalho. Após entrar em contato com membros da indústria do alumínio, o trabalhador já organiza sua mudança para o país africano.
"Irei sozinho, minha esposa tem aqui um negócio e ainda resiste minimamente. Meus filhos também trabalham, mesmo com contratos temporários e salários muito baixos, e não poderão ir, assim como meus netos... Mas, minha família compreende essa minha decisão", relatou.
Embora não haja estatísticas oficiais sobre uma idade certa para imigração em Portugal, o Observatório de Emigração admite que exista "evidências empíricas" que refletem que o caso de Lino não é isolado.
"Normalmente, a maioria dos emigrantes são jovens e sem filhos, mas, em tempos de crise, desemprego e de perda acentuada de renda no seio familiar, as pessoas mais velhas também estão aptas a tomar essa mesma decisão", explicou à Efe o presidente deste organismo público, Rui Pena.
As baixas aposentadorias pagas pelo Estado português - 87% não superam 1 mil euros mensais - também justifica este movimento migratório entre os mais velhos.
Uma simples olhada nos sites de busca de emprego no exterior surgidos após a crise - a taxa de desemprego é de 15,3%, a quinta mais alta de toda a UE - é suficiente para perceber que os maiores de 50 anos se mostram cada vez mais interessados.
"Tratamos de muitos processos de homens acima dessa idade e, inclusive, recebemos hoje a solicitação de uma pessoa de mais de 70 anos", informaram à Agência Efe uma fonte da VistosExpress, uma empresa especializada na tramitação de documentos para emigração.
Das mais de 875 mil pessoas que estão no país sem emprego, um terço tem mais de 45 anos, segundo dados oficiais, estatísticas nas quais Lino é apenas um número a mais.
Ciente das dificuldades encontradas em seu país, a decepção parece tomar conta do discurso de Lino, que não consegue esconder sua decepção com sua terra natal: "Em Portugal, a experiência não serve para nada. Os velhos estão sendo afastados. Não temos mais futuro aqui".