Hillary Clinton tem um mês de tropeços
Junho foi um mês difícil para Hillary Clinton, que tropeçou em suas próprias declarações sobre sua renda enquanto as vendas de seu livro de memórias caem
Da Redação
Publicado em 30 de junho de 2014 às 08h42.
Washington - Em maio ela saiu ilesa da reaparição na mídia de Monica Lewinsky e superou sem arranhões os ataques sobre seu estado de saúde, mas junho foi um mês difícil para Hillary Clinton , que tropeçou em suas próprias declarações sobre sua renda enquanto as vendas de seu livro de memórias caem.
"Quando ( Bill Clinton e eu) deixamos a Casa Branca, estávamos completamente arruinados".
Com essas poucas palavras, pronunciadas em entrevista na mansão decorada com mogno e tapetes orientais que possui em Washington, a ex-secretária de Estado traçou uma imagem difícil de apagar.
É a de uma política rica, que viaja em aviões particulares, cobra US$ 200 mil por cada palestra e, no entanto, se queixa das dificuldades econômicas que precisou superar.
O retrato não só lhe rendeu acusações de falta de sensibilidade com os problemas dos americanos de classe média, mas fez a "festa" dos republicanos que vigiam cada um de seus movimentos na pré-campanha para as eleições presidenciais de 2016.
O erro, talvez o mais grave na maratona de entrevistas e palestras pagas que Hillary concede como antessala de sua esperada decisão sobre se voltará a concorrer ou não à presidência, obrigou a ex-primeira-dama a avaliar nas últimas duas semanas suas declarações e tentar salvar sua imagem diante dos eleitores.
"Pode ser que essa não seja a forma mais astuta de dizer que Bill e eu atravessamos muitas fases. Obviamente, fomos muito sortudos", admitiu Hillary há poucos dias em Chicago.
Em uma entrevista ao jornal britânico "The Guardian", a ex-secretária de Estado quis se distinguir dos "verdadeiramente poderosos", ao ressaltar que seu marido e ela pagam impostos sobre suas rendas, o que outras grandes fortunas do país evitam.
Mas isso também não acalmou os críticos, e o erro de Hillary ameaça se tornar um obstáculo político semelhante ao que teve o ex-candidato presidencial republicano Mitt Romney, quando menosprezou os "47% dos cidadãos" do país que, segundo ele, dependiam do governo ou o que enfrentou o candidato do partido em 2008, John McCain, quando disse que não conseguia se lembrar de quantas casas possuía.
Como se não bastasse, a grande dama dos democratas também enfrenta uma controvérsia por causa da principal fonte de renda com que reconstruiu sua riqueza desde que deixou a Casa Branca em 2001: as palestras pagas tanto dela como do marido.
Enquanto a ex-primeira dama lançava sua corrida ao Senado e mais tarde sua frustrada campanha presidencial de 2008, que lhe gerou novas dívidas, o ex-presidente dos Estados Unidos arrecadou US$ 104,5 milhões por fazer 542 discursos entre 2001 e 2013, segundo uma análise de suas declarações financeiras publicadas pelo jornal "The Washington Post".
Um grupo de estudantes da Universidade de Nevada em Las Vegas pediu nessa sexta-feira a Hillary que rejeitasse os US$ 225 mil que prevê cobrar em outubro por um discurso nesse centro e doá-los em seu lugar aos alunos, asfixiados pelo crescente custo das aulas.
O círculo de Clinton defende que falar a diferentes grupos é mais ético que trabalhar para companhias financeiras que podem estar ligadas a grandes grupos de interesse, e a ex-secretária de Estado buscou outra fonte de renda com seu livro "Hard Choices".
Mas a venda das memórias do tempo de Hillary como secretária de Estado caiu de 85 mil cópias vendidas na primeira semana para 48 mil na segunda, o que representou um revés para a editora, que enviou 1 milhão de cópias para todo o país.
Persistente de entrevista em entrevista em sua afirmação de que ainda não tomou uma decisão sobre se concorrerá à Casa Branca, a constante exposição na mídia que Hillary enfrenta por ser considerada o grande trunfo dos democratas a submeteu a uma apuração incomumente cedo.
É justamente isso que expõe à luz pública seus tropeços muito antes de começarem sequer as eleições primárias de 2016, inclusive apesar de ser uma figura que foi examinada incontáveis vezes com lupa como primeira-dama, candidata ao Senado e à presidência e secretária de Estado.
Envolvida em seu circuito midiático, Hillary Clinton encara o mês de julho com a esperança de que seja mais amável do que o que acaba, e com um lema constante: sua conta bancária não macula seu histórico em defesa da classe média.